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Equador | A 20 dias da eleição presidencial, candidato favorito é apoiado por Correa

Pleito contará 16 candidatos; conheça os principais, suas origens e respostas às crises que o país enfrenta

Tradução: Ítalo Piva

Peoples Dispatch |
Os três principais candidatos à presidência no Equador representam retorno do correísmo (Arauz, à esq.), direita empresarial (Lasso, ao centro) e pautas ambientais e indígenas (Pérez, à dir.) - Pichincha Comunicaciones

O Equador deve realizar eleições gerais no próximo dia 7 de fevereiro. Mais de 13 milhões de equatorianos no país e no exterior irão às urnas para eleger o próximo presidente, vice-presidente e 137 legisladores, além de cinco membros do Parlamento Andino para o período 2021-2025.

De acordo com a Constituição equatoriana, para vencer a eleição presidencial no primeiro turno, o candidato deve obter mais de 50% dos votos ou mais de 40% dos votos, com 10% de vantagem sobre o segundo colocado. Caso nenhum candidato consiga uma vitória, será realizado um segundo turno entre os dois principais candidatos no dia 11 de abril.

Conforme estabelecido na Constituição, o novo chefe de Estado tomará posse dia 24 de maio, o Dia da Independência equatoriana, enquanto legisladores recém-eleitos tomarão posse no dia 14 de maio.

Atualmente, os candidatos de diferentes partidos políticos realizam suas respectivas campanhas eleitorais em todo o país. A campanha começou oficialmente em 31 de dezembro e terminará dia 4 de fevereiro.

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Quem são os principais candidatos nas eleições presidenciais?

Um número recorde de 16 pessoas disputam a presidência. Este número pode ser atribuído em grande parte à abertura de um fundo eleitoral público, do qual muitos aspirantes políticos estão aproveitando.

Entre os candidatos com mais de 10% de intenções de voto, segundo várias pesquisas de opinião, estão Andrés Arauz, da progressista União pela Esperança (Unes), uma aliança formada pelos partidos Centro Democrático e Força de Compromisso Social; Yaku Pérez, do movimento Indígena Pachakutik Unidade Plurinacional; e Guillermo Lasso, do partido de direita Criando Oportunidades (Creo) e do Partido Social Cristão (PSC).

Andrés Arauz é discípulo do ex-presidente Rafael Correa. Arauz, de 35 anos, é economista e serviu o país em vários cargos durante o governo de Correa (2007-2017). Foi ministro da Cultura no final do segundo mandato e ministro do Conhecimento e Talento Humano entre março de 2015 e 2017. Além disso, também atuou como diretor do Banco Central do Equador entre 2011 e 2013.

Correa ainda conta com um forte apoio popular no país. Seu governo foi caracterizado por programas de assistência social em grande escala e projetos de infraestrutura pública. Durante sua gestão de 10 anos, a economia do Equador teve um crescimento médio anual de cerca de 3%.

Os especialistas sugerem que os eleitores correístas podem ver Arauz como um retorno aos bons tempos da década Correa.

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Yaku Pérez é um ambientalista indígena. Pérez, de 51 anos, é natural de Cuenca, uma cidade da província de Azuay, no sul do Equador. Ele atuou como prefeito da província, cargo a que teve de renunciar antes de concorrer à Presidência da República.

Ele liderou lutas para proteger a água e limitar as atividades de mineração na região. Devido a seus esforços, um referendo popular para decidir sobre a mineração em Cuenca será realizado paralelamente às eleições gerais. Devido à sua postura pró-ambiental, ele pôde obter apoio de setores das comunidades indígenas e ambientalistas.

Guillermo Lasso é um bancário milionário e conservador. Com 65 anos, atuou na gestão pública pela primeira vez quando foi nomeado governador da província de Guayas, em 1998. Em seguida, exerceu o cargo de ministro interino da Economia em 1999.

Esta é sua terceira candidatura para se tornar presidente. Em 2013, ele ficou em segundo lugar depois da vitória de Correa, que ganhou um segundo mandato com mais de 57% dos votos. Em 2017, ele perdeu para Lenín Moreno no segundo turno.

Lasso tem mais reconhecimento desta vez do que em 2017. Ele também tem o apoio das elites empresariais, conservadores sociais e outras entidades anticorreístas.

O que dizem as pesquisas de opinião?

Diversas pesquisas de opinião sugerem que Andrés Arauz e seu companheiro de chapa Carlos Rabascall, são os candidatos preferidos nas eleições gerais. Enquanto isso, pesquisas da direita corporativa, que não consultaram trabalhadores, camponeses e indígenas, mostram Arauz em disputa acirrada com Lasso, sem nenhum dos dois tendo apoio suficiente para vencer no primeiro turno.

De acordo com a última pesquisa de opinião realizada pelo Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica (Celag), entre 25 de novembro e 13 de dezembro de 2020, em 40 localidades de 19 províncias do país, Arauz lidera a intenção de voto com 36,5%.

Ele é seguido pelo empresário Álvaro Noboa, do partido de direita Movimento pela Justiça Social (MJS), com 22,9% das intenções de voto. A candidatura de Noboa continua paralisada devido a atrasos no registro pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), e cédulas de voto estão sendo impressas sem a inclusão do seu nome como candidato.

Em terceiro lugar está Yaku Pérez com 21,2%. Guillermo Lasso é o quarto colocado com apenas 13,6% do eleitorado. Todos os demais candidatos não ultrapassam 1,5% na pesquisa.

Quais são alguns dos principais desafios do novo governo?

O Equador está testemunhando uma recessão econômica extremamente severa, causada pela má gestão por parte do governo do presidente Lenin Moreno e exacerbada pela pandemia de covid-19.

As políticas neoliberais, pró-corporativas e antipovo de Moreno forçaram uma grande parte da população a recorrer a empréstimos para poder pagar suas despesas diárias.

A popularidade de Moreno caiu para um dígito. Ele não está se candidatando à reeleição, mas mesmo a candidata que ele endossou, Ximena Peña, segundo a pesquisa de opinião do Celag, tem apenas o apoio de 1,2% dos eleitores.

Além da crise econômica, o país também enfrenta uma crise de saúde. O coronavírus está se espalhando em todas as 24 províncias. O Equador está registrando mais de 1.000 casos positivos de covid-19 por dia, com um aumento da demanda por leitos de unidade de terapia intensiva (UTI).

Além disso, o próprio Moreno e vários de seus ministros e funcionários estão sendo investigados por casos de corrupção.

O novo governo enfrenta o desafio de aliviar a crise econômica, gerar oportunidades de emprego, melhorar a saúde e controlar a corrupção, entre outras questões.

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Como os candidatos planejam enfrentar as crises que o país atravessa?

Durante o evento inaugural da campanha da UNES no dia 11 de janeiro, Arauz reiterou seu compromisso em reverter as políticas neoliberais de Moreno.

Ele prometeu criar oportunidades de emprego decentes e fornecer segurança social para populações vulneráveis e de baixa renda. Ele ressaltou que continuará investindo em obras de infraestrutura pública como a construção de pontes, estradas, hospitais e escolas. Ele também prometeu garantir um ensino superior gratuito, de qualidade e universal.

Pérez afirma que seus planos são baseados num modelo econômico de desenvolvimento sustentável, que protege o meio ambiente. Ele prometeu criar uma renda básica universal. Como Arauz, Pérez prometeu aliviar o peso das dívidas que muitos equatorianos criaram durante a pandemia, e colocar uma moratória no pagamento dos empréstimos.

Lasso prometeu criar um milhão de empregos e um sistema de saúde universal. Ele busca reativar a economia do país investindo 1 bilhão de dólares, embora não esteja claro de onde esse dinheiro virá. Ele propôs uma comissão internacional anticorrupção com supervisão da Organização dos Estados Americanos (OEA) e das Nações Unidas (ONU). No entanto, analistas acreditam que Lasso provavelmente cumprirá com as políticas econômicas do Funo Monetário Internacional (FMI), apesar de criticar os aumentos de impostos propostos pelo órgão.

*Com contribuições de Pilar Troya

Edição: Peoples Dispatch