Após o colapso do sistema de saúde, na última quinta-feira (14), o estado do Amazonas começou esta semana registrando mais um crescimento no número de óbitos em decorrência da covid-19. Nesta segunda-feira (18) foram registradas 6.191 mortes, quase 280 mil casos confirmados e a fila de espera por um leito já passa dos trezentos pacientes, de acordo com dados da Secretaria de Saúde do Estado.
Em compensação, por causa da repercussão da calamidade de pacientes morrendo sem oxigênio nos principais hospitais, começaram a chegar novos cilindros, por meio de doações e ações do poder público. O governo do estado também iniciou a transferência dos pacientes graves com covid-19 para outras regiões. Ao todo, já foram transferidos 94 pacientes, endereçados para unidades no Piauí, Maranhão, Goiás e Paraíba.
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Segundo comunicado da Secretaria Estadual de Saúde, 30 municípios retiraram, nos últimos dois dias aproximadamente 950 cilindros de oxigênio na própria Secretaria, na Central de Medicamento e na empresa White Martins. Outros 150 cilindros, ainda segunda SES, foram enviados via terrestre ou aérea para as cidades de Tefé, Coari, Parintins, Fonte Boa e Tapauá.
Colapso
O sistema de saúde do estado entrou colapso na última quinta-feira (14), quando as unidades bateram recorde de internações e a demanda por oxigênio aumentou cinco vezes. Os médicos ficaram desesperados e começaram a gravar vídeos denunciando a situação. Alguns pacientes morreram por asfixia, quando não conseguem respirar.
A crise também atingiu quem não estava com covid-19. Era o caso de bebês recém-nascidos, que precisavam fazer uso do oxigênio. Especialistas, como epidemiologista Jesem Orellana da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas, afirmam que esta crise era evitável e que os governos estadual e federal sabiam que o oxigênio não seria suficiente para uma nova onda de internações no estado.
“O governo do estado do Amazonas, na figura do governador, obviamente, reconhece que vinha fazendo o monitoramento de vários indicadores, incluindo do consumo de oxigênio medicinal. Portanto, eles vinham acompanhando essa situação há mais de duas, três semanas; eles sabiam que provavelmente nós chegaríamos a uma situação limítrofe como essa, e isso é uma situação que precisa ser investigada pela justiça”, pontuou.
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Com a escassez do oxigênio, as famílias dos pacientes se lançaram numa corrida em busca dos cilindros no mercado e se depararam com um aumento de preços incalculável, como recorda a psicóloga Karla Tayná, cujo tio estava internado no Hospital 28 de Agosto, um dos maiores de Manaus.
“A gente nunca imaginou que viveria o que viveu na semana passada. Muita gente procurando cilindro para comprar, as empresas aumentando o preço absurdamente; um cilindro que vale 600 reais indo para 6 mil reais. Imagina que muitas famílias não conseguiram comprar. É muito caro”, relata ela.
Enem
A crise na saúde provocou o adiamento do Enem, o principal exame nacional que garante o acesso ao Ensino Superior, e os estudantes amazonenses farão a prova nos dias 23 e 24 de fevereiro.
A manutenção do exame não agradou a alguns candidatos, como Ana Paula Feitosa, que tentará o curso de medicina no vestibular. “Eu acho muito injusto, porque assim como foi difícil para mim me preparar, imagino que para muitos outros também. Então, você ainda ter que fazer uma prova com familiar internado, ou depois de perder um familiar, é muito triste”, declarou.
Vacina
O governo do Amazonas iniciou a vacinação do grupo prioritário nesta segunda-feira (18). O estado recebeu 256 mil doses do governo federal e 50 mil do governo de São Paulo.
Em comunicados à imprensa, o governo estadual anunciou requisição de novos cilindros, transferências de pacientes, força tarefa da equipe da assistência social e fiscalização sobre o abastecimento de oxigênio nas unidades do interior.
A justiça federal do Amazonas determinou que o governo federal apresente um plano de abastecimento de oxigênio e transferência de pacientes com risco de morte. Até o momento, segundo informações do ministério da saúde, foram enviados 350 cilindros e 373 bombas de infusão, mas quantidade ainda é insuficiente.
Edição: Marina Duarte de Souza