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Caravana de comemoração dos 62 anos da Revolução Cubana chega a Havana

Reedição da Caravana da Liberdade refaz o trajeto percorrido pelo Exército Rebelde, comandado por Fidel Castro, em 1959

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Caravana da Liberdade é recebida com atos culturais em cada uma das cidades que passou de Santiago de Cuba até chegar à capital Havana. - CubaHora

Nesta sexta-feira (8), a Caravana da Liberdade chegou à capital de Cuba depois de percorrer mais de mil quilômetros refazendo o mesmo trajeto do Exército Rebelde em 1959. O grupo é composto de militantes jovens e veteranos combatentes que celebram os 62 anos da Revolução Cubana.

A viagem começou na escola 26 de julho, antigo quartel Moncada, em Santiago de Cuba, um dos bastiões da ditadura de Fulgencio Batista, tomado pelos revolucionários, comandados por Fidel Castro. 

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"O país da liberdade segue o caminho de Fidel. A Caravana da Liberdade com a participação de crianças e jovens é a continuidade da nossa história. Temos memória", publicou o presidente cubano Miguel Díaz Canel. 

O grupo foi recebido por representantes do Partido Comunista e da União de Jovens Comunistas de Cuba em cada umas das cidades que passou. Deisy Cabrera González foi combatente clandestina na cidade de Las Tunas, região oriental da ilha, no final da década de 1950 e hoje celebra a reedição da caravana.

"A luta não foi em vão. Tenho plena confiança nessa juventude que levará adiante a Revolução. O futuro é deles", declarou

Para o coordenador do Centro Memorial Martin Luther King, Joel Suárez Robés, a atividade é importante para resgatar a história da Revolução, fugindo dos esquemas tradicionais e mostrando as conquistas do processo socialista que hoje são "naturalizadas" pelos jovens. 

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"Replicar a Caravana da Liberdade, a mesma que realizou Fidel, de Santiago a Havana, é uma maneira de conectar os jovens com uma vivência que só conhecem se veem imagens de vídeo e por televisão", relata.

Na capital, a caravana culmina na Cidade Escolar Liberdade, outra antiga base militar da ditadura, transformado em escola, a partir de um projeto coordenado por Ernesto Che Guevara. 


A Caravana da Liberdade de 1959, liderada por Fidel Castro, buscava percorrer as principais cidades de Cuba anunciando o início da Revolução Socialista e a derrota da ditadura. / Cuba Debate

No dia 8 de janeiro de 1959, ao chegar em Havana, Fidel Castro confirmou para os cubanos e para o mundo, o processo de profundas transformações que se iniciavam. 

"A tirania foi derrotada. A alegria é imensa. No entanto, ainda há muito por fazer. Não nos enganemos acreditando que tudo que vem por diante será fácil, talvez será tudo mais difícil", disse o comandante.

As datas das duas viagens são exatamente as mesmas, no entanto, nas últimas seis décadas, o processo de orientação socialista passou por muitas mudanças.

Cuba chega aos 62 anos da sua revolução com uma retração de 11% do seu PIB, fruto da pandemia de covid-19 e também do recrudescimento do bloqueio econômico, imposto pelos Estados Unidos desde 1961, pela gestão de Donald Trump.

As últimas sanções impostas contra o Banco Internacional de Cuba e contra empresas que trasnportavam petróleo para dentro da ilha geraram um impacto imediato no funcionamento da economia. 

No entanto, as carências no abastecimento de alimentos, combustível e produtos em geral, deixaram marcas profundas no modo de ser dos cubanos desde o fim da União Soviética (anos 1990), e o início do chamado Período Especial.

"Somos filhos do legado histórico da Revolução, mas somos filhos das marcas que deixaram esses 30 anos de Período Especial. Ainda que o consenso majoritário do nosso povo aponte para o antiimperialismo, a revolução e o socialismo, como ficou referendado na nossa constituição, há erosões. E há uma faixa cultural que é alheia à revolução", analisa Robés.

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O coordenador do Centro Martin Luther King defende que uma das tarefas urgentes dos revolucionários é voltar a seduzir a juventude à favor do projeto socialista. 

Para driblar as dificuldades, desde o 1º de janeiro está em vigor a Tarefa Ordenamento, uma reforma econômica que determinou a unificação das moedas nacionais, com o fim do peso cubano conversível; o aumento dos salários e aposentadorias em 450 e 500%; a livre circulação do dólar; além de medidas que favorecem o investimento estrangeiro.

O analista cubano reconhece a complexidade do momento e as disputas ideológicas que estão em jogo, mas destaca a transparência com que as novas medidas tem sido adotadas. 

"É uma realidade complexa e nela eu destacaria os profundos sentimentos de solidariedade que nossa população mostra na vida cotidiana. A preocupação, a transparência e interlocução do nosso governo. É inédito o modelo de gestão que o nosso presidente Diaz Canel está colocando em prática. Uma gestão de rua, itinerante. Os ministros estão na televisão explicando, reagindo ao que diz o povo. Ação e reação. Creio que é uma dinâmica complexa, mas muito interessante que estamos vivendo", conclui. 

Edição: Rogério Jordão