O "derretimento" do bolsonarismo, que se reflete no fracasso dos candidatos apoiados por Jair Bolsonaro (sem partido), é o principal significado político das eleições municipais 2020. Essa é a interpretação de comentaristas que conversaram com o Brasil de Fato, com a Rede Brasil Atual e com a TVT ao longo das transmissões deste domingo (15) de votação.
“Os únicos casos em que o bolsonarismo não saiu do páreo foram Fortaleza e Rio de Janeiro”, analisa Igor Felippe, membro da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do programa Central do Brasil. Nas duas capitais citadas, Capitão Wagner (PROS) e Marcelo Crivella (Republicanos), respectivamente, foram apoiados por Bolsonaro e disputarão o segundo turno, segundo as bocas de urna.
“O segundo aspecto que considero importante é o reposicionamento das forças de centro e centro-direita, que conseguiram manter alguns postos e avançar em outros. E a esquerda, com um resultado expressivo e surpreendente, especialmente na cidade de São Paulo, com Boulos. Ele chega com muita força, muito apelo da juventude, e tem chances reais de ser eleito”, completa o dirigente.
Sobre as pesquisas de boca de urna e os resultados parciais da apuração, Paulo Donizetti, editor-chefe da Rede Brasil Atual, diz que a presença de Crivella no segundo turno é um "ponto fora da curva".
"Acho muito surpreendente que o candidato de Bolsonaro esteja indo ao segundo turno no Rio de Janeiro. Essa força ainda surpreende, mesmo diante de todos os problemas causados pelo governo Bolsonaro e pela forma como ele se relaciona com os adversários e aliados. O desempenho do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) [filho do presidente], vai ser um termômetro importante", analisa.
A apuração dos votos está paralisada e deve terminar até o fim da noite deste domingo (15).
O cientista político Paulo Nicoli Ramirez alerta para a possibilidade de reações do bolsonarismo contra o sistema eleitoral, de modo a justificar o fracasso da ultradireita nas eleições.
"É importante que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] explique o porquê dessa demora para que não haja margem para esse tipo de hipótese", concluiu. "Se o Bolsonaro aderir a essa tese de fraude, que não faz sentido, pode inflar muitas manifestações da direita, o que é muito negativo para a democracia."
O TSE informou que a paralisação da divulgação dos dados não tem nenhuma relação com o vazamento de dados pessoais de servidores e nenhuma relação com a tentativa de ataque cibernético registrada pela manhã.
Edição: Rodrigo Chagas