Em meio às projeções do cenário eleitoral, a capital do Pará, Belém, está entre as cidades onde o campo da esquerda tem chances de vencer a disputa ao Executivo municipal. Em ascensão, o candidato do Psol, Edmilson Rodrigues, vem liderando as pesquisas e apresenta uma média de 36% a 38% das intenções de voto para o primeiro turno. As projeções partem do Diário/Instituto Acertar e do RealTime Big Data, que publicaram esses percentuais respectivamente nos últimos dias 4 e 2.
Atual deputado federal e ex-prefeito da cidade entre os anos de 1997 e 2004, quando ainda era vinculado ao PT, Rodrigues é cabeça de uma aliança que aglutina mais cinco legendas – PT, PDT, Rede, UP e PCdoB.
A eleição se desenrola com o apoio de diferentes lideranças populares à chapa pluripartidária. “O maior desafio é ganhar as eleições. Ganhando as eleições, os outros desafios são grandes. O bom é que a esquerda, os movimentos, os coletivos têm entendimento de que essa é uma tarefa de todos”, ressalta Jane Cabral, representante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) no Pará.
Na mesma sintonia, a socióloga Ádima Monteiro, integrante da Consulta Popular e da Frente Brasil Popular, considera que, caso receba a chancela das urnas, a chapa dos sete partidos precisa investir em ações que sedimentem o caminho para conquistas dirigidas a diferentes segmentos. Ela cita como exemplos “geração de renda, políticas para a juventude, para as mulheres, para as pessoas com necessidades especiais até as da melhor idade”, considerando os diferentes grupos como “sujeitos de direito”.
Psol
Ao destacar que uma aliança partidária como a da chapa de Edmilson Rodrigues foi alcançada em poucas capitais, o presidente do Psol no Pará, Walmir Freire, diz acreditar que “a forte chapa tem ajudado a impulsionar a campanha e promete ter uma forte presença na Câmara Municipal”.
O dirigente projeta ainda que uma eventual vitória do grupo poderia se refletir também nos cenários estadual e nacional. O cálculo não nasce à toa. Procurado pelo Brasil de Fato para comentar o momento atual do partido, o dirigente nacional da sigla, Juliano Medeiros, afirma que houve uma decisão institucional pelo investimento em seis capitais tidas como prioritárias para estas eleições: Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Belém (PA).
“Nós definimos que nessas cidades havia melhores condições de disputa. É claro que o quadro em cada cidade, quando começa a campanha, vai demonstrando potencialidades e dificuldades. Acabou que Florianópolis, São Paulo e Belém foram as três cidades que demonstraram maior competitividade”, afirma Medeiros.
Na capital paulista, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos concorre pelo partido em uma chapa que tem ainda as siglas PCB e UP. Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta (12), ele aparece com 16% das intenções de voto, atrás apenas do candidato do PSDB, Bruno Covas, que tem 32%.
Boulos saiu, por exemplo, de 8% no levantamento publicado pelo instituto em 23 de setembro para 13% em 5 de novembro, o que mostra que a campanha do psolista consolidou uma tendência de alta e conseguiu, em uma disputa bastante acirrada com Márcio França (PSB) e Celso Russomano (Republicanos), aumentar as chances de ir ao segundo turno. Esses dois últimos têm atualmente 12% e 14% das intenções e voto do eleitor paulista, segundo o Datafolha.
Já em Florianópolis, Elson Pereira (Psol) superou percentual anterior de 7% e conta com 13% das expectativas de voto, figurando em segundo lugar na pesquisa Ibope do ultimo dia 2. Com esse patamar, ele ocupa a segunda posição no ranking, atrás do atual prefeito, Gean Loureiro (DEM), que tinha 58% no mesmo levantamento. A pesquisa tem 4% de margem de erro para mais ou para menos, por isso o candidato psolista está tecnicamente empatado com Angela Amin (Progressistas), que despontou com 9%.
Na capital catarinense, a chapa de Elson Pereira se formou a partir de uma ampla frente de esquerda, com PT, PDT, PCdoB, PSB, REDE, UP, além das organizações PCLCP e UCB. Questionado se as uniões com o PT podem tem ajudado o Psol a ganhar mais visibilidade nestas eleições municipais, o presidente nacional da sigla aponta maior peso para a ampla parceria.
“O partido trabalhou pra construir alianças com outros de oposição. Não acho que a gente possa atribuir a um ou outro partido apenas o bom desempenho. No caso de Belém, é muito importante ter o PT tanto quanto é importante ter o PDT, o PCdoB, a Rede. Em Florianópolis, o mesmo. Claro que o PT é um partido muito grande, mas eu não colocaria como uma aliança mais importante que as demais. A grande vitória que nós tivemos foi poder construir uma unidade entre diferentes forças da oposição”, avalia Juliano Medeiros.
Estratégia
Para a professora Danusa Marques, do Instituto de Ciência Política da UnB (Ipol/UnB), o partido tem investido em uma estratégia de mídia eficiente, com importante demarcação de presença nas redes sociais, um terreno valorizado nas disputas contemporâneas especialmente pelo eleitorado mais jovem, por exemplo.
Além disso, ela localiza, no perfil da legenda, algumas outras características que podem ter contribuído para sua performance atual. “É um partido com uma bancada [federal] apenas de dez deputados, mas faz barulho. É uma bancada combativa, que leva adiante algumas pautas mais críticas, que se expõe dessa forma, e também é a única que tem paridade de gênero”, exemplifica, ao mencionar que o país ainda tem um segmento disposto a votar em projetos políticos de esquerda. Ela pontua que esse movimento se dá independentemente do que chama de “ataque do movimento antipetista” ao PT, o que acabou gerando certa indisposição de parte do eleitorado para votar em chapas de esquerda.
Na Câmara dos Deputados, a bancada do Psol dobrou de tamanho nas eleições de 2018 e hoje conta com dez parlamentares. A ocupação de mais cadeiras na Casa é vista no mundo político como estratégica para o fortalecimento de uma sigla porque amplia também as verbas do fundo partidário direcionado à agremiação. Por esse motivo, olhando para o desempenho que o Psol vem apresentando nas eleições de 2020 em alguns pontos do país, Danusa Marques vê a legenda com mais musculatura para o próximo pleito, em 2022.
“Ainda vejo o Psol como um partido muito pequeno. Não tem, por exemplo, a estrutura que um partido como o PT tem, mas ele vem apresentando potencial de crescimento. Em São Paulo, mesmo que Boulos e Erundina [candidata a vice na chapa] não ganhem, eles estão tendo uma projeção muito grande agora e podem eleger muito mais gente em 2022”.
Edição: Camila Salmazio