Donald Trump ainda não aceitou a derrota nas eleições norte-americanas, e sua permanência na presidência dos Estados Unidos até a posse do democrata Joe Biden pode representar o período de maior ameça de intervenção armada na Venezuela, sobretudo antes do dia 6 de dezembro, data das próximas eleições legislativas na Venezuela.
Além de tentar questionar judicialmente o resultado das eleições – possibilidade cada vez mais remota – Trump pode decidir por tentar uma invasão armada para depor o governo venezuelano do presidente eleito Nicolás Maduro. Essa seria uma estratégia para aumentar a sua popularidade dentro dos EUA, inclusive entre apoiadores do Partido Democrata, antes que Biden venha a tomar posse, para tentar um golpe que o mantenha no poder.
A hostilidade ao governo da Venezuela é um consenso bipartidário nos EUA. Foi o ex-presidente Barack Obama quem declarou a Venezuela uma “ameaça” aos EUA. A estrela em ascensão do Partido Democrata, a re-eleita deputada Alexandria Ocasio-Cortez caracterizou o governo venezuelano como “autoritário” e “antidemocrático” – o que levou um de seus apoiadores a enviar uma carta pública denunciado sua postura.
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Tanto Ocasio-Cortez quanto Bernie Sanders apoiaram a tentativa de golpe na Venezuela em fevereiro de 2019 sob o pretexto de “ajuda humanitária”. Na ocasião, Bernie Sanders declarou: “O povo da Venezuela atravessa uma grave crise humanitária. O governo de Maduro deve colocar as necessidades do seu povo em primeiro lugar, permitir a entrada de ajuda humanitária no país, e abster-se de violência contra os opositores”.
Ao que Roger Waters, do Pink Floyd, rebateu por twitter: “Bernie, você está brincado comigo! Se você aceita a linha Trump, Bolton, Abrams, Rubio de ‘intervenção humanitária’ e conspira para a destruição da Venezuela, você não tem credibilidade para ser candidato a presidente dos EUA. Ou, talvez tenha, talvez seja o fantoche perfeito para o 1%”.
É importante lembrar também que praticamente toda a mídia mainstream dos EUA sempre foi hostil à Venezuela e tem apoiado não só as sanções econômicas contra o país, mas mesmo as sucessivas tentativas de golpe que, até agora, falharam.
As próximas eleições legislativas na Venezuela são uma ameaça à narrativa fake do império sobre o "ditador" Maduro. E o fato de uma considerável parte da oposição venezuelana ter aceitado participar da eleição, repudiando o fantoche "presidente autodeclarado" Juan Guaidó, coloca uma pá de cal em qualquer vestígio – se ainda o há – de legitimidade na oposição representada por Guaidó e seus comparsas.
Portanto, um ataque militar dos EUA antes das eleições venezuelanas de 6 de dezembro seria uma tentativa também de impedir estas eleições. As recentes manobras conjuntas da Marinha brasileira com a Marinha dos EUA na região do Caribe indicam que, ao menos, as preparações para um ataque já estão em andamento.
Se Trump decidir por tal intervenção, não há de se esperar praticamente nenhuma oposição ou críticas dentro dos EUA nem da mídia dominante nem de significativos quadros do Partido Democrata ou das Forças Armadas.
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Portanto, ele teria todo o espaço para manifestar-se nos meios de comunicação dos EUA. No imaginário social norte-americano, Trump afirmaria para um grupo bem mais amplo do que o de seus apoiadores atuais a imagem do "homem forte", decidido, aquele que pode recuperar a "grandeza" perdida da "América". E isto pode lhe trazer o apoio necessário para uma nova tentativa de golpe antes da posse de Biden.
Não lhe restam muitas opções para continuar no poder e, para Trump, esta pode ser uma opção válida. Os últimos dias do presidente estadunidense podem ser o período mais perigoso já enfrentado pelo governo Maduro.
*Franklin Frederick é ativista ambiental.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Fernandes