Neste domingo (18), cerca de 7,3 milhões de bolivianos estão convocados a eleger um novo presidente para o país. Segundo as últimas pesquisas de opinião, o candidato a presidente Luis Arce e seu vice, David Choquehuanca, do Movimento Ao Socialismo (MAS), são favoritos com 42,2% das intenções de voto.
Na sequência, está o ex-presidente Carlos Mesa, quem concorre pelo partido de direita Comunidade Cidadã, e possui 33,1% da preferência.
As eleições presidenciais acontecem um ano após o golpe de Estado que levou à renúncia do ex-presidente Evo Morales Ayma e seu vice, Alvaro García Linera.
As previsões apontam um resultado similar ao do pleito de outubro de 2019, com o MAS podendo vencer ainda no primeiro turno, já que a legislação boliviana dá vitória a quem acumular 50% + 1 ou 40% dos votos e uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado.
Na última quarta-feira (14), os partidos realizaram seus atos de encerramento de campanha. Arce e Choquehuanca foram recebidos por uma multidão em Sacaba, estado de Cochabamba, zona cocaleira e historicamente composta por apoiadores do MAS. O local também foi cenário de um massacre, com 11 mortos e 120 feridos, em 15 de novembro de 2019, quando protestavam contra o golpe.
A atuação do candidato do MAS durante o último governo ajuda a entender sua popularidade.
Luis Alberto Arce Catacora é economista, graduado pela Universidade Mayor de San Andrés e foi ministro de Economia durante 13 anos. Responsável pelas políticas do período chamado de "milagre econômico", quando a Bolívia foi o país que mais cresceu na América Latina durante quatro anos consecutivos.
Em 2018, o país sul-americano registrou um aumento de 4,7% do Produto Interno Bruto (PIB), batendo um recorde de US$ 40,8 bilhões, enquanto a média de crescimento mundial foi de 3,2% e regional 1,7%, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal).
Natural de La Paz, antes de ser ministro, Arce trabalhou entre 1987 e 2006 no Banco Central da Bolívia.
Entre 2017 e 2019, esteve licenciado por 18 meses do cargo, devido a um tratamento de câncer no rim, que realizou no Brasil.
Logo no início da sua gestão, impulsionou a nacionalização do setor energético, incluindo a gigante Yacimientos Petrolíferos Fiscais da Bolivianos (YPFB), triplicando os ingressos do Estado, com impostos a empresas privadas de 50% a 85% sobre a exploração de reservas de gás, o que contribuiu para manter uma média de crescimento anual de 5% durante toda a década seguinte.
Dessa forma, em uma década, o país aumentou suas reservas de US$ 700 milhões para US$ 20 bilhões.
Com o excedente gerado pelo setor energético, mineiro e agrícola, a gestão do MAS investiu na construção de rodovias, transporte público, geração de empregos e programas sociais para diminuir a desigualdade social do país, que, de acordo com a ONU, é de 11,7%.
A proposta do ex-ministro era diversificar a base da economia boliviana, estimulando o desenvolvimento do turismo, da agricultura e da indústria, e implementando um modelo que qualificava de "redistribuidor".
O Modelo Econômico Social, Comunitário e Produtivo foi fruto de estudos iniciados ainda em 1999 por Luis Arce e um grupo de acadêmicos e intelectuais ex-militantes do Partido Socialista (PS-1), com os quais trabalhou como professor universitário. À época, questionavam por que um país rico em recursos naturais poderia ser um dos mais pobres da região.
Entre os nomes mais destacados do grupo, estão o ex-vice presidente Álvaro García Linera e Carlos Villegas, que ajudou a escrever o programa político do primeiro governo de Morales.
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Nessa proposta preveem "criar as bases para transitar a um novo modo de produção socialista", destinando anualmente uma média de US$ 7 bilhões às áreas sociais.
Dessa forma, o índice de extrema pobreza do país passou de 38,2%, em 2005, para 17,2%, em 2018. Enquanto a taxa de desemprego se posicionou em 4,2% – um mínimo histórico.
Um vice Aymara
Já o companheiro de chapa de Arce, David Choquehuanca, também tem uma trajetória reconhecida pelo povo boliviano. Ministro de Relações Exteriores entre 2006 e 2017, Choquehuanca é de origem Aymara, etnia que representa 19% da população boliviana.
Nascido em Cota Cota Baja, estado de La Paz, foi dirigente da Confederação Única de Camponeses da Bolívia e do Movimento Camponês Indígena. No último período exerceu como secretário geral da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP).
Edição: Vivian Fernandes