GUARDIÕES

Indígenas se arriscam no combate a incêndios criminosos na Amazônia e Pantanal

Etnias criticam política anti-indígena do governo Bolsonaro e devastação dos principais biomas brasileiros

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Indígenas, que estão combatendo o fogo em seus territórios, relatam a intoxicação pela fumaça e queimaduras - Felipe Werneck- IBAMA

Os incêndios no Pantanal aumentaram mais de 220% só neste ano e já atingiram metade das terras indígenas na região, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Enquanto Jair Bolsonaro (sem partido) culpou os próprios indígenas pelas queimadas na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), os guardiões da floresta seguem lutando para que ela não acabe em cinzas. 

Saiba mais: Bolsonaro culpa indígenas, imprensa e ONGs por queimadas e consequências da covid

De acordo com dados da própria Fundação Nacional do Índio (Funai), há quase 2 mil indígenas atuando na linha de frente contra o fogo nos biomas brasileiros. Eles se somam a outros grupos de voluntários espalhados pelo território nacional, que arriscam a vida para proteger o meio ambiente.

É o caso do indígena, Wagner Katamy, da Aldeia Lankrare em Tocantins, que atua na linha de frente da brigada contra as queimadas no Pantanal.

Quem está colocando fogo dentro das nossas terras são garimpeiros ilegais, grileiros ilegais e madeireiros ilegais.

"Essa fala na ONU [Bolsonaro] só nos mostra um total desconhecimento da parte ambiental e da questão indígena. Vamos conseguir mostrar para todos que não somos nós que colocamos fogo, não somos nós que estamos destruindo aquilo é nosso. São esses fogos ilegais que vem das lavouras para a nossa terra. Seguiremos firmes enquanto brigadistas e enquanto vigilantes do nosso território", afirma.

Leia também: Governo suspende operações contra desmatamento na Amazônia e queimadas no Pantanal

Corte de verbas

O Ministério do Meio Ambiente anunciou esta semana que todas as operações de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia e Pantanal serão suspensas. A justificativa é um corte de aproximadamente R$ 60 milhões nos órgãos responsáveis pela preservação ambiental no país, como o ICMBio e Ibama. 

Com esse bloqueio mais de 22 mil indígenas, que vivem no Pantanal, ficarão ainda mais expostos aos riscos do fogo ao tentar combatê-lo. Peiecu Kuikuro da Aldeia Kaluani no Mato Grosso, relata a preocupação com o corte de recursos.

“Estamos muito preocupados e ainda vem esse relato do presidente que nos culpa pelas queimadas. Eu discordo do Bolsonaro. A culpa é do desmatamento que os não indígenas produzem. Ele [Bolsonaro] também diminuiu a verba do ICMBio e Ibama. Era para ter muitas brigadas atuando nos nossos territórios, mas não temos, então temos que trabalhar voluntariamente", desabafa.

Relembre: Fumaça, calor e cansaço: como os brigadistas combatem o fogo no Pantanal

A Brigada Alto Pantanal, que atua na Serra do Amolar no Mato Grosso do Sul, relatou recentemente que cinco indígenas da etnia Guató foram hospitalizados com ferimentos na sola dos pés por conta do fogo subterrâneo, além da intoxicação com a fumaça.

O Brasil de Fato entrou em contato com o Ministério do Meio Ambiente sobre a suspensão dos recursos para o combate às queimadas, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. O ICMBio e Ibama preferiram não comentar o corte de verbas.

Edição: Marina Duarte de Souza