Desde fevereiro mais de 1 milhão e 500 mil hectares do Pantanal foram destruídos por incêndios florestais. Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora via satélite as mudanças no bioma, a queimada desse ano já é a maior já registrada na história.
Para impedir que a destruição seja ainda maior, o trabalho dos brigadistas é fundamental. São eles que avançam pelas planícies do bioma, via água, terra e ar, se colocando em risco para enfrentar fumaça e calor em níveis altíssimos.
Maria de Loudes Barros é uma delas. Moradora da região da Ladário há mais de 20 anos, ela já é experiente no combate ao fogo, mas somente nos últimos dois anos, ingressou oficialmente como brigadista voluntária. “Eu sou funcionária pública da área da saúde, mas estou sempre nesse meio [do combate aos incêndios]. Eu acredito que cuidar da natureza é uma forma também de cuidar da saúde.”
Ela é a única mulher de sua equipe, composta por brigadistas do IBAMA e de ONGs que atuam na região, mas diz não se intimidar com o trabalho pesado. “O negócio aqui tá muito difícil, principalmente pra gente que é mulher, né? Porque você tem que andar com a bomba nas costas, com apagador, luva e máscaras. E a sensação térmica é o dobro do calor do incêndio. Mas a gente vai lá”, relata a brigadista com um sorriso no rosto.
Outro brigadista experiente é o coronel Ângelo Rabelo. Morador da região desde os anos 1980, o militar diz que foi transformado pelo estilo de vida do homem pantaneiro. Tanto que em meados dos anos 2000, fundou uma organização destinada à preservação do Pantanal e da forma tradicional desse estilo de vida, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP).
Hoje ele coordena ações de sobrevôo na região para identificar e agir sobre áreas de incêndios críticos. “Em 300 anos, você tem um bioma que foi modificado em 10 ou 12%, então me sinto bastante motivado a essa missão que cumpro como soldado e agora como ambientalista.” afirma o militar pantaneiro.
A frente de brigadistas une profissionais do Prevfogo, órgão do IBAMA que é referência mundial no combate ao incêndio, de ONGs ambientalistas, bombeiros e voluntários da região. Devido à gravidade da situação esse ano, em 25 de julho, o Ministério da Defesa deu início à Operação Pantanal. A pasta enviou militares e as primeiras aeronaves para combater os incêndios no bioma: quatro helicópteros e um avião cargueiro, com capacidade para despejar até 12 mil litros de água em cada sobrevoo. Os veículos são usados para identificar incêndios e combater o fogo.
“A dificuldade maior é a logística do combate. Chegar mais rápido possível à linha do fogo. Permanecer trabalhando próximo à essa linha, se alimentar e dormir perto da área onde está queimando. Por isso as aeronaves estão sendo fundamentais na distribuição da brigada, no reconhecimento da área onde está acontecendo o incêndio florestal.” afirma Márcio Yule, um dos coordenadores do PrevFogo que atua na região.
O Pantanal mantém cerca de 83% de sua cobertura vegetal nativa. Porém, além dos incêndios, o avanço da pecuária também coloca em risco uma mais maiores biodiversidades do mundo.
Para Rabelo, o momento em que é Pantanal vive é reflexo da relação histórica entre o homem e a natureza. Para ele, essa relação precisa ser revista. “Pensar a forma que nos relacionamos com a natureza vai determinar a forma que viveremos o futuro.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho