O Distrito Federal alcançou na semana passada o triste marco do estado brasileiro com mais mortes confirmadas por covid-19 a cada 100 mil habitantes. Segundo dados da Secretária Estadual de Saúde, já são mais 3 mil óbitos. A pandemia na capital brasileira está sendo marcada por acusações de corrupção na Secretaria de Saúde e a flexibilização na abertura de comércios, cinemas, eventos e até piscinas.
Para a médica e ex-secretária de Saúde do DF, Maria José Conceição, o Distrito Federal atingiu esse marco devido à má gestão do governador Ibaneis Rocha (MDB).
"Nós estamos vivendo de fato uma situação dramática. As escolas estão reabrindo, o comércio está funcionando em sua totalidade, academias. Enfim, o DF está voltando à normalidade sem controlar a pandemia. Essa política do Ibaneis é uma política que tem por trás a mesma máxima do Bolsonaro de deixar as vidas em segundo plano", afirma.
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O estado foi um dos primeiros a suspender as aulas nas escolas em março, na chegada do vírus ao Brasil, mas nos meses seguintes o governo foi cedendo à pressão de escolas particulares e empresários para abrir o comércio e voltar às atividades, logo, em junho, quando a capital já somava mais de 500 mortes por covid-19. Os casos se concentram em regiões periféricas do DF, como Ceilândia e Samambaia.
A médica de família e comunidade, Lilian Silva, pontua que o coronavírus tem "escancarado a desigualdade social" nas cidades. “A pandemia aqui no Distrito Federal deixa claro o recorte de classe, cor e de geografia. Onde quem mais sofre as consequências do vírus, sem dúvidas, é a periferia de Brasília.”
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Corrupção
Em agosto, quando o DF já somava mais de 2,5 mil mortes, os brasilienses foram surpreendidos com a prisão do Secretário de Saúde, Francisco Araújo, sob a acusação de um esquema de corrupção por membros da pasta na compra de testes de covid.
Segundo o Ministério Público do DF, que investiga o caso chamado de "falso negativo", a ação teria custado R$ 18 milhões aos cofres públicos. Além de ter causado prejuízos a testagem da doença, visto que há indícios que os testes não produziam resultados confiáveis. O governador, por sua vez, declarou que a operação foi “desnecessária”.
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Rubens Bias, Conselheiro de Saúde do estado, ressalta os erros na gestão do governo estadual para combater a pandemia. “Vemos acusações graves de desvios de recursos da saúde, e também graves acusações na compra de testes de má qualidade que colocavam em risco a vida das pessoas", argumenta.
"Além deste descaso com a saúde, há também o tratamento inadequado com outras políticas que deveriam ser acionadas diante desta crise. São estudantes e professores abandonados à própria sorte na secretaria de Educação. Não vemos quase nada sendo feito para garantir renda e emprego para as pessoas que estão passando por esta crise econômica”, completa.
A Secretaria de Saúde do DF informou à reportagem do Brasil de Fato, em nota, que vem adotando uma série de medidas para o enfrentamento da pandemia. Em relação a corrupção na cúpula da pasta, afirmou que está cooperando com as investigações.
Edição: Marina Duarte de Souza