Eleições 2020

Mulheres são mais da metade do eleitorado, mas só 23% de candidatos nas capitais

Eleitores de Manaus, São Luis e Belém não terão a opção de votar em candidaturas femininas; confira o levantamento

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Das 312 chapas inscritas para concorrer às prefeituras das capitais brasileiras, 59 tem mulheres à frente - Fábio Pozzebom/Agência Brasil

“Como diz Teresa Sacchet, estamos em uma democracia de baixa qualidade no quesito representatividade. Muito tem se falado sobre nova política, mas, cada vez mais, percebemos como esse discurso não é visto na prática”.

A afirmação é de Carolina Plothow, embaixadora do Vote Nelas São Paulo, ao saber que das 312 candidaturas às prefeituras de 26 capitais brasileiras em 2020, apenas 59, ou 23%, serão lideradas por mulheres. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mulheres são 52,49% das 147,9 milhões de pessoas aptas a votar nestas eleições.

Em Manaus (AM), onze candidatos disputarão o poder no município, todos homens. Dessa forma, os manauaras repetem 2016, quando nenhuma mulher foi candidata na cidade. Em outras duas capitais do país, São Luis (MA) e Belém (PA), não haverá candidaturas femininas.

Para Plothow, a ausência de candidatas no pleito eleitoral em capitais é “um constrangimento não só à ideia de democracia, mas ao ideal que nós mulheres sonhamos com a democracia”. “Pensando nos movimentos de fragilização das instituições democráticas, que vem em ascendência, não é surpresa que existem capitais onde não há candidatas mulheres para o eleitor votar”, conclui.


Infografia: Fernando Bertolo/Brasil de Fato

levantamento feito pelo Brasil de Fato ajuda a compreender o mapa das candidaturas de mulheres no país. Das 59 candidatas à prefeita, 22 estão em capitais do Nordeste, 14 no Sudeste, 11 no Sul, 6 no Norte e mais 6 no Centro-Oeste.

Leia mais.: Os três partidos com mais candidatos a prefeituras de capitais são de esquerda

As duas capitais com o maior número de candidatas são Rio de Janeiro (RJ) e Curitiba (PR), seis em cada. Entre as candidaturas curitibanas, está Letícia Lanz, do PSOL, a única mulher trans a disputar a prefeitura de uma capital brasileira.

Infografia: Fernando Bertolo/Brasil de Fato

Se a Lei 9.504, de 1997, que estabelece a cota de 30% de vagas para mulheres em eleições, fosse aplicada nos pleitos para cargos do Executivo, apenas três partidos a cumpririam na disputa das capitais: PSTU, PSOL e UP. Mas a regra só se aplica em eleições proporcionais, como as de deputados e vereadores.

Das 16 candidaturas às prefeituras do PSTU, sete, ou 43%, serão mulheres. Em seguida a Unidade Popular (UP), com 42% de representatividade feminina, 3 de 7; PSOL (39%), PSDB (28%), PT (23%) e PCdoB (23%) completam a lista.

Dos 32 partidos que disputarão as prefeituras das capitais, nove não possuem candidatas, são eles: MDB, PTB, PTC, PMN, PRTB, Republicanos, Patriota, Solidariedade e o Novo. Todos, com inclinações à direita, ou centro-direita.

Infografia: Fernando Bertolo/Brasil de Fato

“Acho que isso faz parte de uma construção e de uma visão de mundo. Alguns partidos, principalmente aqueles mais à direita, não acreditam obrigatoriamente, na necessidade de promoção de pautas identitárias – representatividade – ou lutas antiopressão. O foco é outro", explica Plothow.

"Porém, cada vez mais, vemos um crescimento dentro da própria direita, de mulheres ocupando espaços com as suas ideias. É uma disputa. Na esquerda, por outro lado, há uma facilidade maior das mulheres se sentirem representadas. Talvez até por uma construção histórica”, finaliza.

Edição: Rodrigo Chagas