Diante da liberação do governo do Rio Grande do Sul para reinício de atividades escolares presenciais no estado, que iniciou pela Educação Infantil nesta semana, a Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI) emitiu uma nota, na terça-feira (08), criticando a decisão. O texto ressalta que as taxas de transmissão no estado são superiores à medida nacional e que não foi apresentado proposta de ampliação de testagem ou programa para monitoramento do aumento de contágio em alunos, professores e funcionários.
“Atualmente, no Rio Grande do Sul, de acordo com dados do próprio Departamento de Economia e Estatística da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (Seplag), as taxas de transmissão de coronavírus, calculada pela ocorrência de casos novos por dia a cada 100.000 habitantes, são superiores à média nacional e de estados altamente populosos, como o de São Paulo”. O texto alerta que nenhum país, até o momento, promoveu a reabertura das escolas durante esta pandemia com taxas de transmissão tão elevadas quanto as observadas atualmente no estado.
Segundo ressalva a instituição, que é federada à Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), apesar do risco de covid-19 grave e óbitos decorrentes da doença em jovens e crianças ser baixo, ele não é inexistente. A exemplo disso está a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, condição associada à covid-19, que apesar de rara, pode evoluir com formas graves e fatais.
O texto aponta falhas por parte da administração pública ao tomar essa decisão como a falta de indicadores adequados que reflitam a taxa de transmissão em crianças. Também critica o modelo de monitoramento adotado no estado. “O sistema de bandeiras foi criado para evitar o colapso do sistema de saúde hospitalar; entretanto, não é um indicador apropriado para mensuração da taxa de transmissão do coronavírus na comunidade”, destaca a nota.
Confira a íntegra da nota
Nota de alerta a respeito da liberação para reinício de atividades escolares presenciais no estado do Rio Grande do Sul
Em virtude do cronograma de liberação para o retorno às atividades escolares presenciais anunciado pelo governo do Estado do Rio Grande do Sul, a SRGI torna publico as seguintes considerações:
1) O sistema de bandeiras foi criado para evitar o colapso do sistema de saúde hospitalar; entretanto, não é um indicador apropriado para mensuração da taxa de transmissão do coronavírus na comunidade.
2) Atualmente no Rio Grande do Sul, conforme dados do próprio Departamento de Economia e Estatística/SEPLAG do estado, as taxas de transmissão de coronavírus, calculada pela ocorrência de casos novos por dia a cada 100.000 habitantes, são superiores à média nacional e de estados altamente populosos, como o Estado de São Paulo. Nenhum país até o momento promoveu a reabertura das escolas durante esta pandemia com taxas de transmissão tão elevadas quanto as observadas atualmente no estado.
3) A proposta apresentada até o momento unicamente indicou uma data para reinício das atividades. Não foi apresentado qualquer indicador que adequadamente reflita a taxa de transmissão em crianças com maior acurácia e rapidez, tampouco de índices, que, uma vez atingidos, determinariam novo fechamento das escolas.
4) Não foi apresentado proposta de ampliação da cobertura de testagem ou algum programa de testagem específico para o monitoramento de aumento de contágio em alunos, professores e funcionários. Não há medidas concretas que permitam detectar precocemente surtos de covid-19 em alunos e toda a comunidade escolar.
5) O risco de covid-19 grave e óbitos decorrentes da doença em jovens e crianças é baixo, mas não inexistente. Igualmente, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, condição associada à covid-19, apesar de rara, pode cursar com formas graves e fatais, como já registradas no Brasil.
Porto Alegre, 08 de setembro de 2020
Diretoria da SRGI e Comitê ad hoc COVID-19.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira