O procurador da República Deltan Dallagnol, liderança da Operação Lava Jato dentro do Ministério Público, deixou a força-tarefa, nesta terça-feira (1). Com sua saída, o comando fica mais próximo ao chefe do MP, o procurador-geral da República Augusto Aras. Crítico da operação, Aras já sentenciou o fim do prazo de validade da Lava Jato.
No lugar de Dallagnol, deve assumir o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, integrante do grupo de trabalho da operação na Procuradoria-Geral da República (PGR), chefiado pela subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo, aliada de Aras.
Ela esteve envolvida em uma polêmica, em junho deste ano, que deixou explícita a fissura entre os procuradores de Curitiba e a PGR: uma visita de Araújo, solicitada por Aras, à força-tarefa da Lava Jato para consultar arquivos sigilosos. Em resposta, 14 procuradores da força-tarefa enviaram um documento ao PGR no qual comunicam um estranhamento gerado na "busca informal" da “visita surpresa”.
Desde então as críticas de Aras à Lava Jato recrudesceram. No dia 28 de agosto, em um debate online com advogados criminalistas, o atual PGR afirmou que deve haver uma “correção de rumos” da operação para que o “lavajatismo não perdure” e outro tipo de enfrentamento à corrupção seja implementado.
Aras chegou até mesmo ao Supremo Tribunal Federal (STF) para exigir acesso ao banco de dados sigilosos de investigados da operação, o que foi negado pelo ministro Edson Fachin.
Em um vídeo publicado nas redes sociais sobre sua saída da Lava Jato, Dallagnol afirma que “a operação vai continuar fazendo o seu trabalho, vai continuar firme", mas pondera que "as decisões que estão sendo tomadas em Brasília afetarão os seus trabalhos".
"A força-tarefa tem muito o que fazer e precisa do seu suporte”, diz. Ainda no vídeo, o procurador afirma que deixa a Lava Jato para cuidar de um problema de saúde de sua filha.
Desde o ano passado, o trabalho de Deltan Dallagnol à frente da força-tarefa de Curitiba tem sido questionado pelo conteúdo de diversas mensagens trocadas entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro, expostas pelo site The Intercept Brasil, numa série de reportagens conhecida como Vaza Jato. Com o conteúdo das mensagens publicado, a parcialidade da operação foi colocada em questão.
No mesmo tom, algumas contestações acerca da atuação de Dallagnol chegaram ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), órgão que fiscaliza o trabalho dos procuradores. Em denúncias feitas por Kátia Abreu (PDT-TO) e Renan Calheiros (MDB-AL), chegou-se a pedir o afastamento do procurador, mas o processo foi suspenso pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em outro processo, aberto após denúncia feita pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou arquivada pelo CNMP após ter o julgamento adiado por 40 vezes.
Edição: Leandro Melito