O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou durante uma entrevista com o ministro de Cultura, Ernesto Villegas, que seria uma "boa ideia" avaliar a tecnologia militar do Irã para defender o país de ameaças imperialistas. O mandatário encomendou a tarefa de analisar os equipamentos da Guarda Revolucionária do Irã ao ministro de Defesa, Vladimir Padrino López.
O assunto foi debatido depois da polêmica difundida pelo presidente colombiano, Iván Duque, de que o governo bolivariano teria comprado mísseis de médio e longo alcance do Irã para dotar o Exército de Liberação Nacional (ELN), guerrilha colombiana.
O porta-voz do Ministério de Assuntos Exteriores do Irã, Said Jatibsabadé, negou que a Venezuela tenha solicitado a compra do armamento do seu país. "As relações entre Irã e Venezuela estão baseadas no interesse mútuo e não têm nada a ver com terceiros países", declarou.
A opinião de que as importações do Irã seriam "armas para alimentar o terrorismo" já é algo que a oposição venezuelana, representada pelo deputado Juan Guaidó, vem difundido desde que a nação persa enviou cinco navios com combustível e componentes para a indústria petroleira venezuelana.
:: Linha do tempo tentativa de golpes de Estado na Venezuela ::
Já a ideia de que na Venezuela existe um "narco Estado" que apoia grupos insurgentes colombianos é rejeitada pelo governo, mas vem sendo constantemente propagada por Duque e pela oposição venezuelana. Esta última, no entanto, nunca apresentou provas.
Ao contrário, o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, é quem acumula indícios da sua relação com grupos paramilitares e narcotraficantes da Colômbia. Em fevereiro de 2019, durante o episódio da tentativa de entrada da suposta ajuda humanitária na Venezuela, Guaidó atravessou a fronteira para participar do festival de música Venezuela Live Aid com a ajuda do grupo paramilitar Los Rastrojos.
Já neste ano, com o fracasso da Operação Gedeón, foram reveladas outras evidências da cooperação do setor guaidosista com grupos criminosos. Os militares que tentaram invadir as costas venezuelanas foram treinados no lado colombiano, a cerca de 70 km da fronteira, na região de Riocha. O terreno e parte do armamento eram propriedade de Doble Rueda, um conhecido narcotraficante colombiano, segundo criminosos detidos.
:: As relações entre paramilitares colombianos e a oposição venezuelana ::
"Quando escutei Iván Duque, na sua tentativa de desviar a atenção dos problemas reais da Colômbia, atacando de novo a Venezuela, a primeira coisa que pensei é que estava tratando de tapar a realidade colombiana. Duque é um homem muito sujo, são 35 massacres neste ano, assassinaram a mais de 250 defensores de direitos humanos, mais de 200 ex-guerrilheiros das FARC, que assinaram o acordo de paz. E não é um segredo que a pandemia está descontrolada por sua irresponsabilidade", disse o presidente Maduro.
Em outra ocasião, o chefe de Estado venezuelano já havia declarado que seu país possui os sistemas de mísseis mais avançados da América Latina. "Não são para agredir ninguém, senão para nos defendermos da agressão imperialista", disse o presidente bolivariano.
A Venezuela é dotada dos sistemas anti mísseis S-300 da Rússia, além de outros equipamentos, como os aviões-caça Su-30 Mk2, comprados desde a gestão de Hugo Chávez.
O secretário de assuntos internacionais do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Roy Daza, ressaltou que a decisão de comprar ou não armamento de países estrangeiros faz parte da soberania do Estado venezuelano. "Iván Duque não tem por que se intrometer, se o presidente Nicolás Maduro compra ou não mísseis do Irã, da China ou da Rússia. [Essa] é a sua decisão", opinou Daza.
Disposição ao diálogo
Na mesma entrevista, Maduro ainda reiterou sua disposição para dialogar com a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"Eu sempre vou dizer e ratificar a Donald Trump e Joe Biden [candidato democrata às eleições presidenciais] que estou disposto a conversar, a dialogar e que possamos reconstruir as relações da Venezuela soberana com os Estados Unidos. Ganhe quem ganhe, Venezuela sempre estará disposta a dialogar", manifestou o chefe de Estado.
:: Senador dos EUA considera um "fiasco" ações de Trump para derrubar Maduro ::
Em 2015, o presidente venezuelano se reuniu com o então vice-presidente Joe Biden para pedir que levantassem o bloqueio contra a Venezuela.
Em 2020, quando foi divulgado o capítulo sobre a Venezuela do livro de John Bolton, ex-assessor da Casa Branca, Maduro também já havia manifestado sua disposição para se reunir com o atual presidente, Donald Trump.
Edição: Rodrigo Durão Coelho