A presidenta interina da Bolívia, Jeanine Áñez, promulgou, na última quinta-feira (14), uma nova lei que adia as eleições gerais do país para o dia 18 de outubro.
Esta é a terceira vez que o governo autoproclamado após o golpe que destituiu o presidente eleito, Evo Morales, modifica a data das eleições.
A prorrogação da eleição foi recebida com protestos pelas organizações populares da Bolívia. Há 10 dias em greve geral, a Central Operária Boliviana (COB), as organizações do Pacto de Unidade e movimento camponeses mantêm cerca de 100 rodovias bloqueadas em todo o país.
Entre as demandas dos manifestantes estão a renúncia de Áñez e garantias para realização de novas eleições em outubro, após os três adiamentos. Por outro lado, o governo interino – que assumiu após o golpe de 2019 – reprime as manifestações com violência.
“Sofremos uma traição e isso o povo tem que ficar sabendo. Esta Lei nunca foi um consenso entre o governo e o povo boliviano”, denunciou o secretário-executivo da COB, Juan Carlos Huarachi.
Maior central sindical do país, a COB foi alvo de um atentado organizado pela direita na madrugada desta sexta-feira (14). O ataque com explosivos ocorreu na sede da organização, localizada em La Paz, capital do país. No local, estavam o secretário-executivo, Huarachi, e outros dirigentes.
O candidato à presidência pelo Movimento para o Socialismo (MAS), Luis Arce, condenou o ataque através de suas redes sociais e qualificou a ação como um “atentado contra a vida e a democracia”.
“Exigimos que estas ações sejam investigadas imediatamente até encontrar os executores e os mentores do crime. Aqueles que fizeram isso buscam gerar caos e confusão para que não ocorra eleições na Bolívia”, declarou o líder, cuja candidatura é apoiada por Evo Morales.
Também a Confederação Nacional de Mulheres Camponesas Indígenas Originárias da Bolívia, conhecida como "Bartolinas", sofreu um ataque em meio ao acirramento dos protestos, localizada na mesma rua que a sede da COB.
"Querem nos amedrontar, querem nos calar e isso é o que estamos denunciando às organizações de Direitos Humanos, à Defensoria do Povo, à Organização das Nações Unidas e comunidade internacional", declarou Segundina Flores, coordenadora das Bartolinas, em uma entrevista à Rádio Solidária da Bolívia.
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Desde o golpe de Estado contra Evo Morales, em novembro de 2019, o país vive uma profunda crise social e econômica, intensificada pela pandemia de covid-19 e pela militarização do Estado na gestão da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez.
Edição: Luiza Mançano