Pela primeira vez na história, o movimento negro organizado irá pedir o impeachment de um presidente brasileiro. Nesta quarta-feira (12), a Coalizão Negra por Direitos apresentará, em Brasília, um documento exigindo a cassação de Jair Messias Bolsonaro (sem partido).
O pedido de impeachment é assinado por 600 entidades e diversas personalidades, negras e brancas, como Sueli Carneiro, Vilma Reis, Bianca Santana, Emicida, Dexter, Salgadinho, Happin Hood, Chico Buarque, Nando Reis, Douglas Belchior, Silvio de Almeida, Antônio Pitanga, Fábio Porchat, Antonio Tabet, Fernando Meirelles, Aranha, Sidarta Ribeiro, Bel Coelho, entre outros.
No documento, a Coalizão Negra por Direitos afirma que pede o impeachment de Bolsonaro “pelos crimes de responsabilidade por ele praticados e de como estes agravam a política de genocídio contra a população negra".
“Nosso pedido de impedimento aponta como crimes de responsabilidade práticas do presidente Jair Bolsonaro que atentam, objetivamente, contra a vida da população negra e suas comunidades”, afirma o coletivo do movimento negro no documento, que aponta os erros do presidente na condução da crise gerada pelo coronavírus.
“Especialmente nos atos do presidente contra a saúde pública no contexto da pandemia covid-19, a insuficiência das medidas emergenciais que deveriam estar cautelosamente voltadas às famílias negras, empregadas domésticas, trabalhadoras/es informais negros/as, comunidades quilombolas, populações rurais negras, populações negras de nossas favelas, periferias e bairros", destaca o texto.
O Brasil ultrapassou, no último sábado (8), as 100 mil mortes por coronavírus. Nesta segunda-feira (9), segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) , há registro de mais de 3. milhões de pessoas contaminadas no país e 101.752 óbitos. Pela terceira semana consecutiva, o país registrou mais de 300 mil casos de covid-19.
Maia e o Impeachment
O pedido de impeachment protocolado pela Coalizão Negra por Direitos deverá entrar na fila de outros 50 similares que também pedem a saída de Bolsonaro da presidência. Até agora, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, trancou todos.
Em entrevista aos jornalistas na última segunda-feira (9), Maia não escondeu a pouca disposição em colocar qualquer um dos pedidos de impeachment na pauta da Câmara dos Deputados.
:: Sem isolamento, Brasil pode ultrapassar sete milhões de casos da covid em um mês ::
“Nós estamos no meio de uma pandemia, e qualquer decisão agora leva um recurso ao plenário. Nós vamos ficar discutindo impeachment sem nenhuma motivação para isso. Eu não estou usando isso para ameaçar, não é do meu feitio. O presidente Bolsonaro sabe, que desses que estão colocados, eu não vejo nenhum tipo de crime atribuído ao presidente”, afirmou.
Fundador e um dos representantes da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior acredita que Maia pode pautar o pedido da entidade. De acordo com o militante, o presidente da Câmara dos Deputados coloca sua biografia e seu trabalho à frente da Casa em risco ao proteger Bolsonaro “neste momento em que o país enfrenta a pior crise sanitária de sua história.”
:: Lideranças políticas e personalidades lamentam marca de 100 mil mortes por covid-19 ::
“Maia se coloca como defensor da democracia e da independência dos poderes, mas até agora só demonstrou fidelidade à politica econômica ultraliberal de Guedes. Em nenhum momento foi decisivo em dar um basta nas atrocidades de Bolsonaro. Com o pedido de impeachment apresentado pela Coalizão Negra por Direitos, representação política da maioria da população brasileira, damos ao Maia uma chance de entrar para a história como defensor da democracia e da vida, e não como cúmplice de um genocídio, promovido pelo pior governo da história republicana no Brasil", afirma.
Matéria do Brasil de Fato é utilizada em pedido
O Brasil de Fato é citado no pedido de impeachment. Publicada em março deste ano, a reportagem Marielle, Bolsonaro e a milícia: os fatos que escancaram o submundo do presidente é utilizada como documento no pedido de impeachment para mostrar as relações do presidente com a milícia do Rio de Janeiro (RJ).
Edição: Leandro Melito