A Venezuela adota novas medidas de prevenção para combater o aumento dos contágios do novo coronavírus, quando o país atravessa o pico da pandemia, com 21.438 casos confirmados e 187 falecidos.
Na capital, Caracas, foi inaugurado o maior hospital de campanha do país, no complexo esportivo Poliedro. Equipado com 1,2 mil camas, 900 para pessoas com sintomas leves e 300 para casos assintomáticos.
No último domingo (2), foram recebidos os 45 primeiros pacientes, que serão atendidos por uma equipe de 82 médicos cubanos da Misión Barrio Adentro (Missão Bairro Adentro).
Outras unidades de saúde foram inauguradas no interior do país durante o último fim de semana. No estado de Lara, o governo local abriu o centro Dr. José Gregorio Hernández, com 450 camas.
Leia também: Campanha pelo Nobel da Paz para médicos cubanos mobiliza América Latina
No último fim de semana, também foi anunciada a inauguração de quatro farmácias móveis, que distribuirão medicamentos a preços acessíveis a 60 mil cidadãos.
Cerca de 56% dos casos registrados foram recuperados, equivalente a 11.875 pessoas. Além disso, 90% dos doentes são tratados em unidades do sistema público de saúde venezuelano.
Ainda que o governo bolivariano ofereça um balanço epidemiológico diariamente, em transmissões televisivas em cadeia nacional, setores da oposição questionam os números.
Segundo partidários de Juan Guaidó, a administração de Maduro estaria "escondendo" os reais dados. Segundo a checagem de alguns meios de comunicação, no mês de julho foram computados 230 casos a menos nas regiões centrais do país.
Deputados da Assembleia Nacional dos partidos Vontade Popular e Primeiro Justiça, além da Academia de Medicina da Universidade Central da Venezuela, asseguram que a Venezuela deveria realizar entre 8 e 10 mil testes de diagnóstico, do tipo PCR, diariamente para conhecer a situação epidemiológica do país.
No entanto, graças à ajuda humanitária enviada pela China, Rússia, Irã, Turquia e por meio dos organismos de cooperação internacional, como a ONU, a Venezuela mantém uma das maiores médias de diagnóstico da região, com a aplicação de 52.042 provas por milhão de habitantes, acumulando um total de 1.561.272 de testes até o dia 4 de agosto.
Volta para casa
Nos primeiros meses da pandemia, a maior parte dos contágios eram casos importados, de pessoas que regressavam de países vizinhos, como Colômbia, Brasil, Equador e Peru. No entanto, no último mês, houve um aumento exponencial de focos locais.
Atualmente, o Distrito Capital é a região mais afetada com 5.015 infectados, seguido do estado de Zulia, fronteira com a Colômbia, com 3.684 mil doentes, e o estado de Miranda, com 2.703 contágios.
Em Zulia, desde julho, uma brigada com 47 especialistas cubanos reforça a atenção médica na região. Graças a esse apoio, um dos pacientes que conseguiu se recuperar foi o governador Omar Prieto.
Nas regiões com mais contágios, há mais de um mês não há flexibilização da quarentena. O governo bolivariano mantém o plano 7+7, com uma semana de flexibilização e uma semana de quarentena restrita.
:: Venezuela combate entrada ilegal de imigrantes pela fronteira com a Colômbia ::
Restrições
No entanto, a semana de flexibilização agora é aplicada em três níveis de acordo com o número dos contágios:
- o nível 1 prevê alto risco de contágio e permite a abertura apenas dos serviços essenciais;
- o nível 2, de flexibilização parcial, permite a abertura de 10 setores da economia, incluindo lojas de material de construção, bancos e consultórios médicos;
- o nível 3, flexibilização generalizada, autoriza a abertura de 22 setores, como cartórios, academias, óticas e papelarias.
No estado de Miranda, região centro-oeste do país, o governo local ainda estabeleceu novas restrições tentando evitar aglomerações. Agora, a cada dia da semana está liberada a circulação pelos comércios essenciais, como farmácias, supermercados e padarias, de acordo com o final da cédula de identidade.
Já nos distritos da capital, várias avenidas foram fechadas para evitar o tráfico de veículos e alguns bairros da região oeste foram isolados, permitindo acesso somente aos moradores.
Além disso, estão mobilizadas 70 mil pessoas nas chamadas Brigadas de Prevenção Popular, que reúnem militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), da Frente Francisco de Miranda e líderes comunitários, em pontos estratégicos instalados nas comunidades periféricas, com materiais que explicam quais devem ser os cuidados de prevenção ao vírus.
¡Donde nos necesiten #CARACAS!
— Mervin Maldonado (@MervinMaldonad0) August 2, 2020
También activamos BRIGADA ESPECIAL RAFAEL RANGEL con el @MovSomosVe #FFM @MisionRSOficial q apoyarán en labores administrativas y logísticas, al InstitutoNacionalHigiene donde se procesan pruebas PCR en combate al #covid19#AtenciónYSaludParaTodos pic.twitter.com/54vKbILUHq
Cooperação internacional
O presidente Nicolás Maduro solicitou que a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) faça a intermediação do diálogo com autoridades colombianas e brasileiras para estabelecer um cordão sanitário conjunto na zona fronteiriça. De março a agosto, 74 mil venezuelanos regressaram ao país pelas fronteiras com a Colômbia e com o Brasil, sendo 5.235 infectados com o novo coronavírus.
:: "Esforço sério", diz ONU ao inspecionar atendimento a imigrantes na Venezuela ::
"Se tivéssemos apoio sanitário do lado colombiano, não teríamos esse problema, de que delinquentes, paramilitares e grupos de narcotraficantes, que se dedicam ao tráfico de pessoas mandem pelas 'trouxas' [vias clandestinas] dezenas, centenas de venezuelanos que estão fugindo da Colômbia", assegurou o chefe de Estado venezuelano.
Buscando unir esforços para combater a pandemia, a ministra para Ciência e Tecnologia, Gabriela Jiménez-Ramírez, propôs a criação de um Conselho Iberoamericano de Ciência e Tecnologia, durante uma reunião virtual com a presença de representantes da Espanha e 11 países da América Latina. Atualmente, 31 cientistas venezuelanos trabalham na busca por um tratamento para o vírus sars-cov2. Mais da metade são mulheres.
No mês de julho, também foram incluídos dois medicamentos produzidos em Cuba, que foram efetivos no tratamento de pacientes com covid-19. Jusvinza, um anti-inflamatório, teve eficácia comprovada entre 78% a 92% para reduzir o risco de morte em pacientes em estado grave. Já o novo tipo do Interferón, de aplicação intranasal, evita a replicação do vírus e previne o avanço da doença em casos leves.
:: Cuba e Venezuela: como países bloqueados conseguem enviar ajuda médica internacional? ::
Edição: Rodrigo Chagas