Solidariedade

Comunidades escolares se mobilizam para ajudar famílias durante a pandemia

Com desemprego em alta e sem assistência do poder público, professores e voluntários criam campanhas de solidariedade

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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No Brasil, 14 milhões das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza têm menos de 14 anos. - Rede Podemos +

De acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de junho deste ano, a taxa de desocupação aumentou em 1,2% entre março e maio de 2020 em relação ao conjunto trimestral de dezembro de 2019 a fevereiro deste ano. Isso representa uma taxa de desemprego de 12,9%. Em termos absolutos, o percentual representa 12,7 milhões de pessoas desocupadas durante a pandemia. 

Diante desse cenário, comunidades escolares de instituições de ensino do município de São Paulo têm feito campanhas de arrecadação financeira para auxiliar familiares do entorno que perderam seus empregos no decorrer da pandemia de covid-19.  

Um exemplo é a ação realizada pela comunidade da Escola Municipal Presidente Prudente de Morais, localizada na Zona Leste do município, que pretende auxiliar 180 crianças e adolescentes cadastrados para receberem uma cesta básica de R$ 60,00. A meta é obter pelo menos R$ 11 mil. Até o momento, a comunidade conseguiu arrecadar, no entanto, R$ 5.670 mil.

A comunidade da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Derville Alegretti também se mobilizou para ajudar as 78 famílias que foram atingidas por um incêndio, no dia 8 de julho, na favela Zaki Narchi, na Zona Norte de São Paulo. Segundo Thiago Moreira, professor da instituição de ensino, a maior parte dos alunos atingidos pelo fogo são da escola, principalmente do Ensino Fundamental. 

Na ocasião, os diretores da Derville Alegretti foram até o local e, junto dos professores, como Moreira, iniciaram a arrecadação financeira. No total foram R$ 3 mil destinados para a compra de madeira e fiação elétrica para reerguer as casas. Esta campanha já terminou, mas a escola continua recebendo doações de roupas, alimentos e afins.

Em Itatiba, no interior de São Paulo, a Caravana de Palhaços, que mensalmente visita a Escola Municipal de Ensino Básico Professora Maria do Carmo Parisotto Mosca, numa região periférica do município, para contar histórias, agora distribui kits de higiene, cestas básicas e roupas aos alunos e famílias. 

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Segundo Cátia Gould, uma das coordenadoras do projeto, com a pandemia, as mães entraram em contato com a Caravana solicitando ajuda por não conseguirem acessar o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. Hoje, a ação não tem data para terminar e recebe doações de toda o município. 

No começo da pandemia, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e a plataforma Cada Criança lançaram dois guias destinados às secretarias de ensino e ao governo federal com orientações sobre como lidar com as comunidades escolares durante a pandemia. Um dos pontos é a importância da distribuição de kits de alimentação, visto que existem estudantes que têm a merenda escolar como a única ou mais importante refeição do dia. 

No entanto, mesmo com a Lei nº 13.987, que permite a redistribuição dos alimentos adquiridos por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) aos responsáveis pelos alunos de escolas públicas durante a pandemia, o que se vê em alguns lugares é o abandono dessas famílias por parte do poder público.

Um estudo feito pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA), da Organização das Nações Unidas (ONU), mostrou que aproximadamente 9 milhões de crianças estão sem acesso à merenda escolar durante a pandemia de covid-19, em decorrência da suspensão de aulas. No total, são 386 milhões de estudantes que normalmente recebem merenda escolar no mundo. No Brasil, 14 milhões das pessoas que estão abaixo da linha da pobreza têm menos de 14 anos.

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Ajuda para escolas no Pantanal

Também existem ações visando ajudar diretamente para escolas. É o caso no Pantanal, do Instituto Acaia, que desenvolve atividades socioeducativas na região, que está realizando a campanha de doação para combate ao fogo na Escola Jatobazinho, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, justamente o município mais atingido por focos de incêndio no Brasil, de acordo com Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE). 

Contexto: Número de queimadas dispara no Pantanal e é o maior já registrado

O número de focos de incêndio na região do Pantanal (que abrange territórios de Brasil, Bolívia e Paraguai) disparou, aumentando 189%, entre 1º de janeiro e esta terça-feira (21) comparado com o mesmo período do ano passado, segundo o INPE.

De acordo com o instituto, “o fogo cercou a Escola Jatobazinho e ameaça suas instalações”. Nesse sentido, eles buscam ajuda para a reposição de recursos danificados pelas queimadas, compra de equipamentos para o combate ao fogo e ajuda para ações educativas junto à população sobre queimadas.

Edição: Rodrigo Chagas