Investigação

Assessor do Planalto utilizou contas falsas para ataques virtuais, aponta Facebook

Assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz é um dos bolsonaristas que teve a conta removida

|

Ouça o áudio:

Além da CMPI, há um inquérito no Supremo Tribunal Federal, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes - Reprodução/Facebook

O assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, Tércio Arnaud Tomaz foi apontado pelo Facebook como responsável pela utilização de contas falsas na plataforma para promover ataques virtuais contra opositores do presidente. Levantamento do Laboratório Forense Digital do Atlantic Council em parceria com o Facebook aponta ligação direta de Tomaz com o esquema de contas falsas nas redes sociais.

Além de Tomaz, foram identificados como participantes da operação de disseminação de fake news nas redes sociais cinco pessoas que atuaram ou ainda atuam como assessores de parlamentares bolsonaristas, entre eles um funcionário do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O Facebook removeu, nesta quarta-feira (8), nada menos do que 88 contas e páginas ligadas ao clã Bolsonaro, a seus filhos, ao próprio presidente da República e pessoas ligadas ao PSL, partido ao qual Bolsonaro era ligado quando se elegeu. As contas fariam parte do chamado gabinete do ódio, que utiliza robôs para distribuir notícias falsas. As fake news identificadas pelo Facebook servem tanto para espalhar conteúdo favorável ao governo Bolsonaro como para atacar opositores.

De acordo com o Facebook, as contas operavam desde as eleições de 2018. A ação da plataforma identificou e removeu 35 contas, 14 páginas e um grupo (de 350 pessoas), além de 38 contas no Instagram.

Para a deputada federal Natália Bonavides (PT-RN), a importância da ação do Facebook, que nesta quarta-feira (8) removeu dezenas de contas ligadas à família do presidente Jair Bolsonaro está na confirmação das teses da CPMI das Fake News. “Não só a as apurações sobre a existência de uma organização criminosa, mas da própria existência do ‘gabinete do ódio’, que é público e notório, mas que eles vinham negando”, disse a parlamentar, que integra a comissão.

Na opinião do sociólogo Sérgio Amadeu, professor associado da Universidade Federal do ABC (UFABC), a decisão do Facebook pela remoção dos perfis associados à divulgação de notícias falsas e ao chamado gabinete do ódio “sem dúvida nenhuma pode ser comemorada”. De acordo com a rede social, as contas operavam desde as eleições de 2018. “São contas ligadas à desinformação, ao ataque às ciências, com prejuízos até à saúde pública em campanhas de desinformação que eles fazem como estratégia política.”

A ação da rede social tem importância, ainda, por apontar quem compõe o grupo responsável pelas fake news e disseminação de desinformação, para uma futura responsabilização dessas pessoas. Como afirmou Nathaniel Gleicher, diretor de Cibersegurança do Facebook, em documento divulgado pela rede, “ainda que as pessoas por trás dessa atividade tentassem ocultar suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou nomes associados ao Partido Social Liberal (PSL). E também a alguns funcionários dos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro”,

“Essas fake news e a desinformação têm impacto tanto na manipulação do debate público quanto na saúde pública, agora que estamos em uma pandemia, e ameaçam a vida das pessoas”, lembra Natália.

“Justiça digital?”

Além da CMPI, há um inquérito no Supremo Tribunal Federal, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, que investiga fake news e ameaças às instituições. “O que a gente vê é que essas linhas de investigação vêm sendo confirmadas pelos fatos. A ação do Facebook foi exatamente em cima de páginas ligadas precisamente aos nomes que a gente apontava como sendo do gabinete do ódio.”

Por outro lado, ressalva Sergio Amadeu, o Facebook e outras empresas não podem “se transformar na justiça digital”. Ele observa que o WhatsApp (empresa do Facebook) excluiu, ontem, sem explicação, contas de pessoas do PT e até do serviço de notícias do partido.

“Essas pessoas não têm efetivamente nenhuma prática de desinformação. Faziam como os empresários fazem pra se comunicar no chamado WhatsApp Business.”

Por isso, Amadeu defende uma lei para regular a prática das plataformas, para garantir liberdade de expressão. “Pessoas que são contra o neoliberalismo, por exemplo, não são a mesma coisa que os bolsonaristas, que trabalham com inverdades, com fatos que não aconteceram e muitas vezes negam fatos que aconteceram”, observa.

“As contas (bolsonaristas) excluídas são de desinformação e eles demoraram muito tempo para excluir, deveriam ter feito isso já nas eleições”, acrescenta.

Edição: Fábio M. Michel