Ao longo do último fim de semana, ativistas tomaram as ruas de Atlanta, capital de Georgia, nos Estados Unidos, em protesto contra mais uma morte de um homem negro por policiais. Rayshard Brooks morreu após ser alvejado por um tiro no estacionamento de uma unidade do restaurante Wendy's na última sexta-feira (12).
A polícia foi chamada ao local para atender uma chamada após um relato que o homem de 27 anos havia adormecido dentro do carro na fila do drive-thru. Segundo os agentes, o confronto se iniciou após Brooks reprovar no teste de embriaguez e resistir à prisão.
Um vídeo gravado por uma testemunha mostra dois policiais no chão lutando com Brooks, que se desvencilha e consegue correr pelo estacionamento com um taser - arma de choque - policial na mão, que teria conseguido pegar durante o atrito corporal.
Em seguida, as imagens das câmaras de segurança do restaurante registram o jovem correndo e erguendo o aparelho em direção aos policiais, que o perseguiam. Instantes depois, Brooks é baleado fatalmente. A abordagem durou, aproximadamente, 40 minutos.
O uso da força letal na abordagem foi amplamente criticado e fortaleceu o levante antirracista que aconteceu nas últimas semanas em todo os Estados Unidos em reação ao assassinato de George Floyd.
No último dia 25, o homem negro de 46 anos morreu asfixiado após ter seu pescoço pressionado pelo joelho de um policial branco no estado de Minnesota. O crime motivou protestos contra a brutalidade das forças de seguranças em diversos países do mundo, por dias consecutivos.
A morte de Brooks gerou, de imediato, uma noite de protestos no estacionamento onde aconteceu o episódio. Conforme informado por autoridades locais, ao menos 36 pessoas foram presas ao longo das manifestações que se estenderam pela madrugada.
No sábado (13), ativistas retornaram ao local e atearam fogo no restaurante. Mais cedo, o tráfego foi bloqueado em uma rodovia da capital. As mobilizações levaram Erika Shields, chefe da polícia de Atlanta, a renunciar ao cargo no mesmo dia.
"Ele não estava fazendo mal a ninguém. A polícia foi até o carro e, mesmo que estivesse estacionado, o puxaram para fora e começaram a brigar com ele”, disse Crystal Brooks, cunhada da vítima fatal, à agência Associated Press. Além dela, outros familiares também estiveram presentes nos atos.
Justiça
Garrett Rolfe, o policial responsável pelo disparo que ceifou a vida de Brooks, foi demitido no domingo (14). O outro agente presente na abordagem, Devin Brosnan, foi realocado para serviços administrativos.
Segundo informado por Paul Howard Jr., procurador do distrito de Fulton, também no estado de Georgia, uma “intensa e independente” investigação sobre o que chamou de incidente já foi iniciada pelo Gabinete de Investigação da Georgia.
Keisha Bottoms, prefeita de Atlanta, criticou a ação. “Não acredito que isso tenha sido um uso justificado de força letal”, sustentou, endossando que pediu o desligamento do oficial.
Assim como os atos que reivindicam justiça para o caso de George Floyd, os protestos em memória de Brooks denunciam a ostensividade histórica e fundante das forças de segurança americanas contra a população negra.
Segundo estudo da organização Mapping Police Violence (Mapeando a violência policial, em português), pessoas negras têm quase três vezes mais chances de serem mortas pela polícia do que brancos nos Estados Unidos.
Edição: Leandro Melito