O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, chamou o movimento negro de "escória maldita" formada por "vagabundos", durante uma reunião interna com servidores, cujo áudio foi divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo na terça-feira (2).
Na ocasião, Camargo também atacou Zumbi, a quem chamou de "filho da puta que escravizava pretos", referiu-se a uma mãe de santo como "macumbeira", desdenhou do Dia da Consciência Negra e prometeu demitir diretores que não tiverem como "meta" a demissão de "esquerdistas".
"Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar Dia da Consciência Negra. Aqui não vai ter, zero – aqui vai ser zero pra [Dia da] Consciência Negra. Quando eu cheguei aqui, tinha eventos até no Amapá, tinha show de pagode com dinheiro da Consciência Negra. Aí, tem que mandar um cara lá, pra viajar, se hospedar, pra fiscalizar... Que palhaçada é essa?", disse.
O encontro ocorreu em 30 de abril, a portas fechadas, com a participação de outros dois servidores. O assunto era o desaparecimento do celular corporativo de Camargo.
Ao ser questionado sobre quem poderia ter pego o aparelho, o presidente da fundação insinuou que o furto foi proposital, com o objetivo de prejudicá-lo. É neste momento que ele ataca o movimento negro.
"Eu exonerei três diretores nossos assim que voltei. Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadindo com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita".
Histórico de ataques
Camargo foi alvo de uma representação do Ministério Público Federal (MPF), que o acusa de improbidade administrativa por publicações feitas institucionalmente pela Fundação Palmares na internet.
Em 13 de maio, dia em que se comemora a promulgação da Lei Áurea no Brasil, a autarquia publicou conteúdo que promove um revisionismo sobre a figura de Zumbi dos Palmares. As postagens em questão colocam em xeque informações relativas à história do líder de Palmares. Em um desses conteúdos, o autor de um texto afirma, por exemplo, que há “endeusamento de Zumbi”, numa manifestação que gerou reações em cadeia de diferentes grupos no país.
Em 18 de maio, parlamentares do PT e do PSol também formularam uma representação e pediram à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do MPF, que o presidente responda criminalmente pelo ocorrido.
A Fundação Palmares enfrenta duras críticas desde quando Camargo assumiu a presidência do órgão, em novembro de 2019, por conta da postura do dirigente diante das questões raciais no Brasil.
Entre outras coisas, ele já defendeu que o movimento negro fosse extinto, negou o racismo no país, afirmou que a escravidão foi “benéfica” e atribuiu ao Brasil a suposta existência do que chamou de “racismo nutella”, em contraposição ao que considera “racismo real” — que, segundo ele, ocorre nos Estados Unidos.
O que diz a Fundação
Em nota, a Fundação Palmares afirmou lamentar a "gravação ilegal" da reunião e disse estar "sob um novo modelo de comando" que não prioriza "determinados grupos". Veja a nota completa:
"O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Camargo, lamenta a gravação ilegal de uma reunião interna e privada. Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente, transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público.
Infelizmente ainda existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido. Seguimos firmes em prol do Brasil e dos brasileiros! (Sérgio Camargo).
Fundação Cultural Palmares"
Edição: Camila Maciel