DESIGUALDADE

Em SP, bairros com maior mortalidade por covid-19 estão no centro "pobre"

Segundo dados, oito dos dez distritos paulistas com a maior média são bairros centrais.

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bairros do centro da capital paulista concentram cortiços, pensões, ocupações e população em situação de rua - Rovena Rosa/ Agência Brasil

Além do alto número de casos de covid-19 na periferia de São Paulo, os bairros da região central também apresentam uma realidade mais grave que a média apontada para a cidade. Se observados os dados da Prefeitura, coletados até 20 de maio, de taxa de mortalidade para cada 100 mil habitantes, oito dos dez distritos paulistas com a maior média são bairros centrais.

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Enquanto a taxa média de mortes por covid-19 por 100 mil habitantes na cidade de São Paulo é de 59 mortes, todos esses bairros registram taxas superiores a 80 mortes para 100 mil habitantes. Ou seja, o chamado "centro pobre" tem alto índice de mortalidade e ocupa o topo do ranking entre os bairros da capital paulista, ultrapassando a periferia de São Paulo.

Entre eles, Pari (1º), Belém (2º), Brás (3º), Santa Cecília (4º) e República (5º) têm as maiores taxas. Na sequência aparecem outros sete distritos que também estão na região, Cambuci (7º), Barra Funda (8º), Mooca (10º), Bom Retiro (12º), Consolação (13º), Sé (17º) e Liberdade (19º). 

No Pari, por exemplo, foram registradas 19 mortes por Covid até o dia 20 de maio – a última atualização –, uma taxa de 117,6 mortos para 100 mil habitantes, o dobro da média municipal. Seguindo esta proporção o bairro Belém apresenta uma taxa de 113; Brás de 105,3; Santa Cecília de 102; República de 95,7.
 


Mapa da Secretaria Municipal de Saúde com as mortes em virtude da covid-19, divididas por bairros da cidade de São Paulo até 20 de maio. / Divulgação/PMSP

Cortiços

De forma geral, os distritos são semelhantes e se configuram pela convergência de uma imensa maioria de cortiços, pensões, ocupações e população em situação de rua, que se caracterizam pela vulnerabilidade social e pobreza.

São quartinhos, cômodos insalubres, hoje as escolas fechadas, as crianças dentro de casa, tem pessoas idosas, muitas delas com doenças crônicas.

Segundo os últimos levantamentos do município, quase a totalidade dos 1.479 cortiços estão localizados nesses distritos. Dois terços dos 24 mil moradores em situação de rua contabilizados no último censo da prefeitura, de dezembro de 2019, vivem nas áreas das subprefeituras da Sé e da Mooca, que abarcam todos esses bairros, com exceção da Barra Funda, que pertence à Subprefeitura da Lapa.

O coordenador da Unificação das Lutas de Cortiços e Moradia (ULCM), Sidnei Pita, explica que o retrato da pandemia no "centro pobre" é fruto de aglomeração tanto de moradores de cortiços, quanto de moradores em situação de rua na região central.

“As famílias que moram hoje nesses cômodos [cortiços] que não passa de 30 metros quadrados. Quando o governo diz fica em casa, ficar em casa como? São quartinhos, cômodos insalubres, hoje as escolas fechadas, as crianças dentro de casa, tem pessoas idosas, muitas delas com doenças crônicas”, expressa.

Outro fator apontado por Pita é a dificuldade nos cuidados de higiene pessoal. “As pessoas sabem o que é a pandemia, têm medo, mas muitas delas sequer têm álcool gel, sabonete para lavar as mãos e máscara, que é o básico que você pode se cuidar.”

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Segundo ele, a preocupação com a proteção à vida das pessoas que moram nestes locais “insalubres e de aglomeração”, fez com que movimento popular pautasse, desde o início da pandemia, ao poder público municipal ações para garantia de distanciamento social e higiene pessoal. 

Mas, embora o diálogo tenha conseguido alguns resultados, ainda não há medidas de garantia de moradias com qualidade digna. “O que tem do poder público é a parceria com os movimentos de indicar cestas básicas, que chama Cidade Solidária. A medida é muito boa para ajudar no momento da fome, mas há anos existem os cortiços e há anos essa situação existe, agora com o covid-19 isso tende a piorar cada vez mais”, avalia.

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O Brasil de Fato procurou a Prefeitura de São Paulo, mas, até o fechamento da reportagem, não obteve retorno.

Edição: Rodrigo Chagas