Diversos frigoríficos no Rio Grande do Sul apresentaram surto de covid-19 entre seus trabalhadores. Esta semana, dois deles foram interditados: o frigorífico Nicolini, de Garibaldi, na Serra Gaúcha; e o o frigorífico JBS, em Passo Fundo, região do Planalto Médio.
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Nessa quinta-feira (7), a Prefeitura de Passo Fundo (RS) interditou por 15 dias todas as atividades do frigorífico JBS que funciona no município, devido a registros de casos do novo coronavírus na unidade. O local já havia sido interditado pela Justiça do Trabalho no dia 24 de abril e a retomada das atividades estava prevista para este sábado (9).
Em nota divulgada no site da Prefeitura, as autoridades municipais afirmam que e interdição cautelar “é fundamentada no entendimento da Vigilância em Saúde do Município de que foram desrespeitadas regras sanitárias e epidemiológicas, o que pode colocar em risco a saúde de toda a população”.
“A empresa deveria providenciar monitoramento de todos os trabalhadores afastados, o que não teria ocorrido”, diz trecho da nota.
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A primeira interdição da JBS de Passo Fundo, que tem 2.400 trabalhadores, foi determinada pela Justiça do Trabalho depois que auditores-fiscais do trabalho detectaram um surto de Covid-19, doença provocada pelo coronavírus, que atingiu cerca de 20 empregados. O contágio marcou a primeira disseminação em grande escala do vírus em um frigorífico no Brasil.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu inquérito para apurar a alta taxa de contaminação entre os trabalhadores e trabalhadoras o que indica falta de cuidados por parte da empresa. O número de infectados por coronavírus entre os funcionários subiu para 48.
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Nicolini, em Bento Gonçalves
Na terça-feira (5), o frigorífico Nicolini firmou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT), comprometendo-se a paralisar suas atividades e a realizar uma série de procedimentos para conter o surto em sua fábrica. Houve uma morte de trabalhador em razão da pandemia.
Entre esses procedimentos estão a realização de avaliação clínica individual e específica em seus trabalhadores, com testes para identificação da covid-19 e adoção de procedimentos de busca ativa, com vistas a identificar eventuais contatos de trabalhadores com pessoas suspeitas ou confirmadas de contaminação.
A medida tem como objetivo conter a disseminação de surto da doença, que já tem 60 trabalhadores confirmados. Além deles, outros 90 são suspeitos e mais 200 estão em observação por terem tido contato com diagnosticados. Os trabalhadores diagnosticados são residentes de São Leopoldo, São Sebastião do Caí, Imigrante, Carlos Barbosa, Farroupilha, Salvador do Sul e Bento Gonçalves.
De acordo com o TAC firmado, a fábrica, que emprega cerca de 1.500 pessoas, deve retomar as atividades parcialmente na próxima segunda-feira (11), com capacidade reduzida, operada por empregados que tenham resultado negativo para a doença, limitados a 25% dos trabalhadores da unidade. Após 14 dias, deve voltar à atividade o restante dos empregados também negativos, já sob as medidas de prevenção acordadas no documento.
O acordo também estabeleceu a necessidade de reorganização do fluxo dos trabalhadores para eliminar aglomerações, especialmente em espaços comuns e setor produtivo da fábrica; adoção de sistema de renovação de ar; e distanciamento de empregados na linha de produção.
O documento também prevê os períodos de afastamento remunerado para suspeitos de covid-19, limitação de empregados transportados por veículo fretado, realização de vacinação trivalente, também gratuita, contra influenza A (H1N1), A (H3N2) e B dos empregados, de modo a melhor identificar os casos sintomáticos de coronavírus e evitar coinfecções.
Proteger a saúde e a vida dos trabalhadores
O secretário de Políticas Sociais da CUT-RS e secretário-geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do Rio Grande do Sul (FTIA-RS), Reginaldo Silveira Rodrigues, afirma que a ocorrência de tantos casos de contaminação de trabalhadores se deve à flexibilização pelos frigoríficos gaúchos das recomendações sanitárias e de saúde.
Para o dirigente sindical, “Nicolini é um dos frigoríficos que não seguiu as orientações e as precauções levantadas pelo sindicato local e pela Federação para proteger os trabalhadores”.
Reginaldo salienta que as entidades sindicais, assim como o MPT, estão de olho na operação dos frigoríficos, que empregam cerca de 51 mil trabalhadores no Estado, buscando garantir equipamentos de proteção e distanciamento na linha de produção, dentre outras medidas de segurança e higiene para cuidar da saúde e salvar a vida dos empregados.
Nicolini é a quinta empresa do ramo de frigoríficos a assinar TAC com o MPT no Estado sobre o coronavírus. Recentemente, outras unidades frigoríficas no Interior tiveram surtos da doença, com propagação para a população em geral, o que levou à interdição de uma planta, em Passo Fundo, e ao decreto com medidas de prevenção definidas pelo governo do Estado para o setor.
Todos os termos assinados com o MPT preveem a cobrança de multas em caso de constatação de descumprimento.
*com informações da CUT
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira e Camila Maciel