GUERRA

EUA negam participar de ato terrorista e ameaçam Venezuela: "O resultado seria outro"

Veja um histórico de episódios em que os EUA apoiaram operações paramilitares para inciar uma guerra em outros países

Brasil de Fato | Blumenau (SC) |
mike pompeo
O Secretário de Estado Mike Pompeo afirma que os EUA usarão todas as ferramentas possíveis para repatriar os ex-militares envolvidos na tentativa de invasão da Venezuela - Reprodução

Assim como o presidente Donald Trump, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, assegurou que a Casa Branca não teve relação direta com a invasão paramilitar da madrugada do dia 3 de maio na Venezuela. Pompeo, no entanto, assegurou que "se a administração Trump estivesse envolvida o resultado seria outro".

Apesar da negativa do secretário, uma série de evidências aponta o contrário.

Luke Alexander Denmam, ex-militar texano detido durante a Operação Gedeón – o plano que estava por trás da invasão dos mercenários –, assegurou que tem um contrato assinado com a empresa de segurança privada Silvercorp para invadir a Venezuela e sequestrar o presidente Nicolás Maduro.

Já Airan Berry disse em seu depoimento que um dos objetivos centrais era assassinar o chefe de Estado venezuelano. O documento data do dia 16 de outubro de 2019, inclui o pagamento de 212 milhões de dólares, assegurados pelos barris de petróleo venezuelanos e os ativos bloqueados no exterior pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos.

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No dia 26 de março, o Departamento de Justiça estadunidense acusou o presidente da Venezuela e outros 13 cidadãos venezuelanos de crimes de narcotráfico, lavagem de dinheiro e tráfico de armas. O procurador geral William Barr ainda oferecendo uma recompensa de 15 milhões de dólares pela captura de Maduro, horas depois que o ex-militar venezuelano Cliver Alcalá revelou parte da Operação Gedeón à imprensa colombiana.


Airan Berry e Luke Alexander Denmam foram detidos pelos militares venezuelanos durante a tentativa de invasão. / Assessoria presidência


Além disso, o CEO da Silvercorp, Jordan Goudreau, veterano da Guerra do Iraque, apareceu em um vídeo na plateia do discurso do Estado e da União, oferecido por Trump no dia 4 de fevereiro de 2020, ocasião em que o deputado Juan Guaidó também esteve presente. 

Também em várias situações, o presidente dos Estados Unidos, assim como outros funcionários do Executivo reiteraram que contra o "regime de Maduro todas as opções estavam em cima da mesa". 

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Guerra híbrida

Os seis passos da guerra híbrida contra a Venezuela também foram publicados em um manual do estrategista militar estadunidense Max Manwaring, chamado "Venezuela como exportador da Guerra de Quarta Geração", que sugere a criação de conflitos cívicos e formação de milícias armadas para dominar zonas de interesse econômico, gerar descontentamento popular e se infiltrar nas Forças Armadas. 

Para alguns analistas, a guerra híbrida contra a Venezuela é uma distração de Trump para a crise sanitária gerada pela pandemia da covid-19 e uma fortaleza para conquistar sua base eleitoral de cara às presidenciais de 2020. 

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Duas táticas comuns das guerras não convencionais são: 1) a terceirização dos exércitos oficiais, com a contratação de empresas de segurança privada; 2) o apoio financeiro e militar a grupos irregulares que possam iniciar incursões paramilitares nos territórios a ser conquistados. 

A Operação Gedeon combinaria as duas modalidades, como comprovam as declarações do ex-militar Cliver Alcalá Cordones,  e de Jordan Goudreau, os depoimentos dos presos detidos, como Luke Alexander Denmam e os documentos encontrados pela Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb).
Esta não seria a primeira vez que o governo dos Estados Unidos apoia operações desse tipo.

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Na guerra do Afeganistão, um em cada dez soldados estadunidenses foram contratados por empresas militares privadas / Telesur


Guerra do Afeganistão (2001)

Estima-se que 226 mil soldados estadunidenses em solo afegão foram contratados por empresas de segurança privada. Representando 69% do pessoal do Pentágono no país – a maior porcentagem de toda a história de guerra dos EUA.

Nesse período foi criada a Private Security Companies of Afghanistan, que aglutinava as principais contratistas, entre elas: Blackwater, DynCorp, Military Professional Ressources Inc. (MPRI), Kellogs Brown e a Roots (KRB)4.

A Blackwater também atuou na Guerra do Iraque (2002), na qual as empresas terceirizadas participaram com 20% dos militares estadunidenses em campo. Entre 2003 e 2010, os contratos privados representaram cerca de US$ 147 bilhões do orçamento militar estadunidense.

As Empresas Militares Privadas (EMP) fazem parte de um dos maiores lobbys do deep state. Em 2019, o orçamento militar dos EUA foi de US$ 732 bilhões, 38% dos gastos militares no mundo. Estima-se que 12% desse montante seria destinado ao setor privado.

Em 2001, por exemplo, as dez maiores EMPs dos EUA doaram mais de US$ 12 milhões para campanhas. A companhia Titan gastou, entre 1998 e 2004, mais de US$ 2 milhões em lobby – como resultado, 96% das suas receitas (que totalizaram US$ 1,8 bilhão) no ano de 2003 vieram da Casa Branca e do Pentágono.

Em 2002, as contratações públicas de soldados do Exército dos Estados Unidos foram reduzidas de 2,1 milhões para 1,4 milhões de soldados, dividindo os novos recrutamentos com o setor privado.

Em 2010, 56% do orçamento militar aprovado pelo congresso estadunidense foi destinado ao pagamento de contratistas de segurança privada.


Durante os últimos nove anos a Líbia permaneceu ocupada por tropas dos países membro da Otan / Telesur

Guerra da Líbia (2011)

A chamada "Primavera Árabe", que desatou guerras do tipo não convencional a partir de 2011 em toda a região do Oriente Médio, provocou cerca de 5 milhões de mortos, a maioria civis. Em 2016, último ano da administração de Barack Obama, mais de 26 mil bombas foram lançadas em países de maioria muçulmana.

A invasão da Líbia começou no dia 19 de março, com a ocupação de algumas regiões do país por grupos irregulares armados, que deixaram um saldo de 60 mortos apenas no primeiro dia. Esses grupos eram apoiados por tropas militares dos países do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Nos primeiros dez dias foram gastos US$ 550 milhões em contratações privadas. 

Antes da guerra, a Líbia era o país com maior PIB per capita e com maior esperança de vida da África. Hoje existem cerca de 400 mil desalojados, o país segue dividido com um governo com sede em Trípoli, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e outro com sede em Tobruk, comandado pelo general do Exército Nacional Líbio. 

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Autoridades sírias denunciam a realização de ataques químicos pelos capacetes brancos, os agentes "humanitários" financiados pelos EUA / Telesur

Guerra da Síria (2011)

Entre 2013 e 2016, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid - pelas siglas em inglês) doou US$ 23 milhões aos "capacetes brancos", como são conhecidas as organizações de defesa civil síria, que na verdade tem relações com o Daesh - Estado Islâmico (ISIS) e outros grupos irregulares.

Já em 2018, Donald Trump aprovou mais US$ 10,1 milhões. Segundo uma reportagem do jornal The Washington Post também de 2018, as tropas oficiais dos Estados Unidos e as milícias armadas pelo Pentágono ocupavam 30% do território sírio, onde se produzia cerca de 90% do petróleo do país. 

Em outubro de 2019, Trump assumiu que não retiraria todas as suas tropas da Síria, porque "queria manter seguros os poços de petróleo".



A justificativa para iniciar o conflito armado era a derrubada do governo de Bashar Al Asad, o resultado foi a morte de 400 mil pessoas, cerca de um milhão de feridos, e o desalojo forçado de 11 milhões de sírios. Cerca de 13 milhões de pessoas dependem de ajuda humanitária para viver, 40% são crianças e adolescentes. 

Edição: Rodrigo Chagas