Desde o dia 3 de maio, a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) iniciou a Operação Nego Primeiro para conter um novo plano de golpe de Estado. Desde a tentativa de invasão paramilitar pelas costas dos estados La Guaira e Aragua, no último domingo (3), 20 pessoas foram presas e nove mortas em combate.
Também foram confiscados dez fuzis, duas metralhadoras, coletes a prova de balas, uniformes militares com bandeiras dos Estados Unidos e da Venezuela. Além disso, foram encontrados papeis com detalhes da Operação Gedeón e um pen drive com informações das táticas militares e políticas que seriam desencadeadas.
Segundo detalhes da investigação revelados pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (6), o plano golpista previa a instituição de uma "Junta Patriótica Restauradora", comandada por Raúl Isaías Baduel, ex-Ministro de Defesa venezuelano, atualmente detido por participar de outros planos desestabilizadores nos últimos anos.
O deputado Juan Guaidó seria o chefe do conselho do poder legislativo, e o novo governo ainda seria composto por outros três militares. Além das provas materiais, os depoimentos dos criminosos capturados ajudam a complementar o quebra-cabeça, de acordo com o presidente Maduro.
Trama com os EUA
Entre os detidos, estava o cidadão estadunidense Luke Alexander Denmam, que confessou ter sido contratado pela empresa Silvercorp, em dezembro de 2019, para ensinar táticas de combate a cidadãos venezuelanos em acampamentos paramilitares na Colômbia.
Denman afirmou que viajou no dia 16 de janeiro a Riohacha, 80 km da fronteira colombo-venezuelana, para treinar três grupos com cerca de 60 homens. O texano afirmou que receberia entre 50 mil e 100 mil dólares pelo treinamento. Também mostrou uma cópia do contrato, assinado pelo deputado opositor Juan Guaidó, o empresário venezuelano, Juan José Rendon e Jordan Goudreau, veterano da Guerra do Iraque, proprietário da empresa Silvercorp.
Antônio Sequea, militar desertor venezuelano, que também participou da tentativa de golpe de Estado do dia 30 de abril de 2019, era outro comandante dos venezuelanos que estavam em treinamento na Colômbia. Sequea foi detido com o primeiro grupo que tentou entrar no país pela praia de Macuto, estado La Guaira. Segundo os documentos confiscados, o ex-capitão também faria parte da "Junta Patriótica Restauradora".
Em território colombiano, a hospedagem e o transporte dos estadunidenses foram garantidos pelo narcotraficante Elkin Javier López Torres, "Doble Rueda", familiar da esposa de Clíver Alcalá Cordones, ex-militar venezuelano, que coordenava a operação. O governo bolivariano também denuncia que Elkin Torres é um agente colombiano do Departamento Antidrogas dos EUA (DEA).
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A chamada Operação Gedeón havia sido parcialmente revelada por Clíver Alcalá Cordones, em março desse ano, depois que parte do armamento que seria transportado para os acampamentos paramilitares foi confiscado.
De acordo com as investigações da inteligência militar venezuelana, vários personagens envolvidos na Operação Gedeón já estavam envolvidos na tentativa de assassinato do presidente Nicolás Maduro em agosto de 2018, e na tentativa de golpe militar de abril de 2019. O Executivo venezuelano já havia denunciado durante a última assembleia geral da Organização das Nações Unidas, a existência de acampamentos de treinamento paramilitar coordenados pela oposição venezuelana no território colombiano.
"A própria autoproclamação de Guaidó fazia parte de um plano que deveria ser executado em um prazo curto. Estavam muito mal informados, acharam que seria fácil quebrar a unidade das Forças Armadas e gerar um levante popular contra o governo venezuelano. O menosprezo à nação venezuelana os induz ao erro permanentemente", analisa ao Brasil de Fato o ex-ministro de Comunas e de Cultura, Reinaldo Iturriza.
Estavam muito mal informados, acharam que seria fácil quebrar a unidade das Forças Armadas e gerar um levante popular contra o governo venezuelano.
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Sob os olhos do Tio Sam
Em seu depoimento às autoridades venezuelanas, o ex-militar estadunidense Luke Denmam também relatou que parte das sua missão no território venezuelano seria capturar o presidente Nicolás Maduro em Caracas e transportá-lo em segurança para os Estados Unidos.
Denman afirma que seu chefe, Goudreau, é subordinado ao presidente Donald Trump. O ex-boina verde apareceu na plateia em um vídeo do discurso do Estado e da União, emitido anualmente pelo presidente estadunidense ao congresso. A Casa Branca nega ter relação com o plano.
O Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, ainda afirmou que "se a administração Trump estivesse envolvida o resultado seria outro" e assegurou que usarão todas as ferramentas disponíveis para repatriar Airan Seth Berry e Luke Alexander Denmam.
Se a administração Trump estivesse envolvida o resultado seria outro.
Para o sociólogo e ex-ministro Iturriza, o episódio representa como a administração Trump pretende seguir aplicando a política de "pressão máxima" e de guerra híbrida contra a Venezuela. "O que aconteceu nesses dias confirma que os Estados Unidos estão optando por invadir pela via mercenária, para não pagar o custo político que representaria uma intervenção militar direta na Venezuela", garante.
Na coletiva de imprensa desta quarta, o presidente Nicolás Maduro pediu o fim das agressões contra a Venezuela e afirmou que essa era outra prova da derrota da política de Donald Trump na América Latina.
"O processo será justo, com todas as garantias. Vamos capturar todos e entregá-los à Justiça", afirmou Maduro sobre os cidadãos estadunidenses e venezuelanos capturados, assegurando que o procurador geral da Venezuela, Tarek William Saab deverá oferecer uma coletiva de imprensa com os detalhes jurídicos dos processos abertos.
Os Estados Unidos estão optando por invadir pela via mercenária, para não pagar o custo político que representaria uma intervenção militar direta na Venezuela.
O chefe de Estado venezuelano também solicitou ao chanceler Jorge Arreaza que adicione os novos fatos à denúncia que já foi encaminhada à Corte Penal Internacional, acusando o governo dos Estados Unidos de crimes de lesa humanidade.
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Sócios narcos
Em declarações à imprensa estadunidense, Jordan Goudreau disse que a missão central, que era tomar Caracas, havia falhado, mas as missões secundárias, de levantes paramilitares em outras regiões estavam mantidas. A previsão inicial era de que a Operação Gedeón duraria 96 horas, com ações por mar e terra.
José Alberto Socorro Hernández, narcotraficante venezuelano detido no estado Aragua, ainda revelou ações prévias à invasão marítima, que também faziam parte do plano.
Hernández havia contactado Richard Camarano, um dos chefes do narcotráfico na favela de Petare, região leste da grande Caracas, para iniciar conflitos armados com outras organizações criminosas para gerar distrações às forças de segurança. Ninguém deveria ser morto, mas as ações deveriam acontecer sob ameaças da DEA.
De fato, desde a tarde de sábado (5), foram notificados tiroteios em diversas zonas de Petare, uma das maiores favelas da América Latina.
O deputado opositor Juan Guaidó condenou o governo bolivariano de usar a invasão marítima na costa dos estados La Guaira e Aragua para distrair a opinião pública sobre o "massacre" que acontecia no leste de Caracas.
Mais tarde, o deputado ainda afirmou que toda a operação seria uma farsa armada pelo próprio governo Maduro para violar os direitos humanos de cidadãos venezuelanos e estadunidenses.
Além do contrato da empresa de segurança privada estadunidense, Silvercorp de US$ 212 milhões de dólares, assinado por Juan Guaidó, todos os presos declararam que a Operação Gedeón era articulada pelo deputado.
Edição: Rodrigo Chagas