Chile

Governo Piñera prende sindicalistas e jornalistas de forma arbitrária no 1º de maio

Forte repressão foi observada principalmente na capital Santiago e em Valparaíso, onde fica a sede do Congresso chileno

Brasil de Fato | Valparaíso, Chile* |
O governo de Sebastián Piñera, ordenou a prisão de vários dirigentes sindicais que se reuniram no centro de Santiago; jornalistas também foram detidos - Marcelo Hernandez / ATON CHILE / AFP

Os atos organizados pela CUT (Central Unitária dos Trabalhadores do Chile) para este Dia do Trabalhador (1), embora bem menores que em outros anos – devido à entendível situação de quarentena em função da pandemia do novo coronavírus –, ou talvez justamente por causa desse tamanho menor, foram recebidos com fortíssima repressão por parte das forças policiais.

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O governo de Sebastián Piñera, mega empresário neoliberal que governa o país desde 2018, ordenou a prisão de vários dirigentes sindicais que se reuniram, no centro de Santiago, na Praça da Dignidade – antiga Praça Itália, rebatizada pelos manifestantes durante as mobilizações massivas de outubro e novembro de 2019.

AHORA | En una brutal represión policial del gobierno de Piñera en el #1deMayo se llevan detenido al secretario general @NolbertoDiaz y al vicepresidente de comunicaciones @EriccamposB pic.twitter.com/kZHNUn7Eek

— CUT Chile (@Cutchile) May 1, 2020

Na cidade de Valparaíso, onde fica a sede do Congresso Nacional chileno, também houve manifestações e confrontação entre a polícia e grupos de manifestantes, especialmente nas proximidades da sede legislativa e nas praças Sotomayor (onde está o edifícil sede da Marinha chilena), Victoria e Aníbal Pinto (onde estão os principais centros comerciais da cidade).

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A presidenta da CUT, Bárbara Figueroa, relatou que a "intenção era fazer um ato simples, de não mais de 20 minutos, muito breve e com a presença somente dos dirigentes sindicais, não convocamos os trabalhadores em geral porque entendemos a situação de pandemia, mas queríamos que não passasse batido esta data tão importante para os trabalhadores. Entretanto, nos encontramos com uma brutal repressão por parte do governo de Piñera, que mais uma vez vulnera os nossos direitos e a nossa integridade física”, afirma.

A dirigente também identificou os colegas presos pela ação repressiva da polícia em Santiago: Eric Campos, vice-presidente de Comunicação, Nolberto Díaz, secretário-geral, Rodrigo Oyarzún, presidente do sindicato de trabalhadores da empresa engarrafadora CCU e José Pérez Debelli, presidente da Associação de Funcionário Públicos, além do outros 20 outros dirigentes sindicais.

"Queríamos cerrar nuestro acto de manera simple y respetando las recomendaciones sanitarias", señala la presidenta de la @Cutchile @Barbara_figue, al mismo tiempo de condenar las detenciones de dirigentes. #1deMayo #DiaDelTrabajo pic.twitter.com/qbiAj5YYPr

— ANEF (@anefchile) May 1, 2020

Também houve casos de jornalistas presos enquanto cobriam os atos, incluindo repórteres e membros das equipes de filmagem do canal público TVN. Tanto a prisão de sindicalistas quanto a dos jornalistas são práticas arbitrárias que não eram vistas no Chile desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1988).

A ação violenta da polícia marcou o noticiário dos principais canais de televisão do Chile, públicos e privados, causando comoção pelas medidas repressivas que afetam a liberdade de expressão e de manifestação.

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Vale destacar que, há poucos dias, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que também é ex-presidenta do Chile, advertiu que os estados de emergência “não deveriam ser usados como armas para agredir as divergências, controlar a população ou fomentar a perpetuação no poder”.

Em algumas imagens, é possível observar verdadeiras frotas de veículos dos chamados Carabineros (polícia militarizada chilena) reunidas em determinados pontos, especialmente em Santiago e em Valparaíso.

Gran contingente policial llega a Plaza de la Dignidad. pic.twitter.com/rMq57IAh5Q

— Observadores ODDH CHILE (@ODDHCHILE) May 1, 2020

Toda essa repressão concentrou tanto a atenção midiática que acabou esvaziando uma atividade em que o presidente Sebastián Piñera pretendia melhorar sua imagem com respeito à gestão do seu governo em meio à pandemia do novo coronavírus, anunciando a chegada de novos respiradores artificiais.

Notícia com a que tentaria compensar o fato de que a média diária de novos contágios no país tem crescido assustadoramente, passando a ser de mais de 900 novos casos por dia – quando eram entre 400 e 500 até meados de abril.

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Em meio a todo esse contexto de repressão e descontrole da pandemia, o governo chileno também tenta impulsionar um projeto de volta ao trabalho e às aulas. Com o nome de “Retorno Seguro”, o projeto estabelece o fim das medidas de isolamento e prevê que a “volta à normalidade" aconteça em alguma semana durante os meses de maio e junho.

Especialistas em saúde alertam que estes serão os meses em que o país deverá viver, provavelmente, o pico do surto de covid-19 no país, com maior números de infectados e de mortos, e que poderia chegar a números catastróficos se as medidas restritivas forem abandonadas logo agora.

*Matéria escrita em colaboração com Paola Cornejo, direto de Santiago

Edição: Leandro Melito