A pandemia causada pelo coronavírus trouxe mudanças também para o campo. Os agricultores, trabalhadores essenciais para a manutenção do abastecimento das cidades, estão tendo que se adaptar às medidas do governo para conter o avanço da covid-19 e, ao mesmo tempo, garantir que a alimentação saudável chegue à mesa dos consumidores.
Os circuitos de comercialização da agricultura camponesa familiar foram fechados em função do isolamento social, o que trouxe dificuldades para muitas famílias escoarem a produção. Além disso, os pequenos produtores rurais ainda encontram obstáculos para acessar o auxílio emergencial do governo federal por residirem em áreas onde o sinal de internet é fraco, ou até mesmo, inexistente.
De acordo com Humberto Palmeira, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), para reduzir o impacto da pandemia no campo e evitar a fome nas cidades, o governo deveria dialogar mais com os movimentos populares.
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“O MPA está propondo a nível nacional um 'Plano Safra Emergencial' que possa atender os camponeses e escoar a sua produção. Estamos observando que a fome está chegando forte nas periferias, o desabastecimento já é uma realidade e o Estado poderia comprar essa produção camponesa e buscar uma forma, junto com as organizações sociais, para fazer uma distribuição nas favelas e periferias”, explica.
O problema enfrentado agricultores do MPA, é o mesmo dos membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro. Segundo Luana Carvalho, da direção nacional do movimento no estado, o MST tem 19 assentamentos no Rio de Janeiro e escoar a produção sempre foi um dos principais desafios.
"A gente está com uma demanda muito grande de comercialização dos nossos produtos, a nossa questão, que é um problema de antes da pandemia, é a infraestrutura de logística para transporte. Temos buscado alternativas coletivas para enfrentar esse problema. Estamos fazendo isso com vários grupos de consumidores: eles vão até o assentamento com transporte pra buscar a produção”, relata.
Alternativas
Mesmo com dificuldades, tanto o MPA, quanto o MST, participam de campanhas solidárias para levar alimentos à população necessitada. Os dois movimentos participam da campanha “Nós por Nós contra o coronavírus” que reúne iniciativas como o Levante Popular da Juventude, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) e a Consulta Popular. Até o momento a campanha já distribuiu mais de mais de duas toneladas de alimentos à famílias em vulnerabilidade social nas favelas fluminenses.
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Nesta semana, o MST participa pela segunda vez da campanha. O movimento vai contribuir com a doação de alimentos para as 100 cestas que serão distribuídas. As doações vêm dos assentamentos Roseli Nunes e Terra da Paz, ambos em Piraí, no sul fluminense.
“As famílias também vão ter produtos in natura e hortifrútis na cesta. E essa é uma semana muito especial porque o 17 de abril marca o massacre de Eldorado dos Carajás. É o dia internacional da luta camponesa. Para nós, poder trazer a nossa alimentação, que a gente produz, e levar para as cidades, para essas famílias mais necessitadas, significa dar uma resposta da importância da reforma agrária e que ela deve ser uma luta de todos. De quem está no campo e quem está na cidade”, afirma a dirigente do MST.
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Já o MPA, além de contribuir com a campanha “Nós por Nós contra o coronavírus”, também lançou o “Mutirão contra a Fome”. A iniciativa nacional já está funcionando no estado do Rio. Nesta semana, o movimento entregou uma tonelada de alimentos na comunidade São Bento, em Bangu, no Rio de Janeiro e nesta quarta-feira (15), meia tonelada foi entregue no bairro de Santa Luzia, em São Gonçalo, na região metropolitana, numa ação em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse