Trabalho

Petrobras decide encerrar exploração marítima no Ceará, em meio a pandemia

Suspensão da produção de petróleo no estado pode afetar 400 empregos diretos e 2 mil indiretos

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Além do Ceará, o fechamento de plataformas em operação em campos de água rasa atinge Rio Grande do Norte e Sergipe - Divulgação Petrobras

Todas as nove plataformas de produção de petróleo do Ceará estão com o funcionamento suspenso pela Petrobras. A medida foi anunciada em nota para os investidores da empresa no dia 26 de março e já no dia seguinte se iniciou o processo de hibernação das estruturas.

A determinação foi causada, segundo a empresa, pela redução abrupta dos preços e demanda de petróleo e combustíveis, também pelos impactos do coronavírus no Brasil. A previsão é que, no Ceará, 400 empregos diretos e 2 mil indiretos sejam atingidos com a medida, o que gerará impactos na economia cearense. 

Segundo o técnico de projetos, construção e manutenção Flávio Fernandes, os trabalhadores receberam a notícia do fechamento com surpresa, embora, de certa forma, já esperavam alguma medida desse caráter. “Pós golpe de 2016, a política da empresa vem apontando para o sentido do desmantelamento, venda do patrimônio, e nós somos a bola da vez”, analisa. 

O técnico de segurança Paolo Gomes relata que os trabalhadores estão muito apreensivos e que, para além do choque imediato, há uma apreensão quanto ao futuro, em um clima de muita tristeza. Ele sinaliza que a empresa tem usado da pandemia para efetivar a saída do Nordeste.

“Instaura-se uma revolta ante a ameaça concreta e cruel da política governamental, que usa do oportunismo de uma pandemia para efetivar seus planos de retirada do Nordeste, que fica cada vez mais à própria sorte e submisso ao capital especulativo internacional sobre os negócios”, afirma Gomes.  

Além do Ceará, o fechamento de plataformas em operação em campos de água rasa atinge os estados do Rio Grande do Norte e de Sergipe.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Ceará/Piauí (Sindipetro CE/PI), em 2018 o estado do Ceará recebeu um total de R$ 14,413 milhões pela exploração de óleo e gás, já os municípios cearenses produtores receberam um total de R$ 106,72 milhões em royalties.

“Vou dar o exemplo do município do Trairí, que arrecadou algo próximo a R$ 9,3milhões de royalties. Para uma economia cujo o turismo e a agri-aquicultura constituem suas fontes econômicas, é parte significativa do PIB. Em linhas gerais, a queda de royalties no estado, que já vinha em queda pela política de desinvestimento do setor no Nordeste, deve cair pela metade, compreendendo somente as áreas territoriais de dutos e produção terrestre, esta também atingida com as medidas. Ou seja, alguns municípios certamente terão uma perda acima de 90%”, calculou Paolo Gomes.

Outra denúncia apresentada pelos trabalhadores das plataformas é a mudança no regime de trabalho. Antes, a cada 14 dias embarcados, divididos em dois turnos de sete dias devido às insatisfatórias condições de habitação na plataforma, os petroleiros passavam 21 dias de folga. O regime agora é de sete dias em isolamento em um hotel, 21 dias trabalhados ininterruptamente e 14 dias de folga.

Fonte: BdF Ceará

Edição: Monyse Ravena e Vivian Fernandes