Lavar as mãos por no mínimo 20 segundos, passar álcool em gel nas mãos, limpar as maçanetas, lavar as roupas e evitar sair de casa. Quem está de quarentena também precisa seguir algumas recomendações dentro de casa para evitar a transmissão pelo novo coronavírus.
Eline Ethel, médica especialista em Saúde da Família e integrante da Rede de Médicas e Médicos Populares, falou com o Brasil de Fato e deu algumas dicas de como manter em dia a casa limpa e a higiene pessoal.
"Tem algumas recomendações que falam para criar uma área suja, que é a área onde você tira a roupa que você chegou da rua, tira o seu sapato, e então passa para dentro de casa", explica.
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Ela lembrou, no entanto, que é importante ter em vista que “grande parte” da população não tem as condições materiais de seguir as recomendações sanitárias. É aí que deve entrar o Estado para garantir essas condições, afirma Ethel.
"A gente pode estar lá orientando os cuidados mínimos, mas quando isso pode ser feito na prática? E é essa interrogação que nós não conseguimos responder, ao menos que hajam políticas adequadas vindo do governo, coisa que não tem acontecido", critica a médica.
Confira a entrevista.
Brasil de Fato: Quais são os cuidados de higiene que se deve ter dentro de casa?
Eline Ethel: Então, a parte dos cuidados normais que nós temos que ter com a nossa casa, a nossa higiene pessoal, a gente precisa tomar um pouquinho mais de cuidado com os objetos, como a maçaneta, objetos de metal, de plásticos e nossas mãos.
Então é muito importante que periodicamente nós possamos lavar as nossas mãos com água e sabão mesmo estando dentro de casa, usando álcool em gel. E ajuda bastante se a gente passar nas maçanetas, alguns objetos que a gente possa tocar.
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No período de quarentena, a gente precisa evitar sair de casa, e se nesse período for inevitável, esses cuidados com a nossa higiene precisam ser redobrados. Então precisa sempre estar lavando a mão. Lavar a mão por um período importante, de um minuto mais ou menos, pode ajudar bastante para quem não tem álcool em gel em casa.
E aí, por exemplo, eu saí de casa, tive que ir ao mercado. Na volta, o que eu faço? Tiro a roupa? Coloco a roupa para lavar? Coloco a roupa no sol? Tomo banho?
Existem algumas orientações em relação a isso que seriam orientações importantes nesse caso específico. Então, tirar o sapato e a roupa antes de entrar em casa, fazer uma higiene um pouco mais criteriosa quando volta para casa, evitar entrar com o mesmo sapato que foi para o mercado ou que teve que sair.
Então essas coisas podem ajudar bastante no combate à transmissão. Tem algumas recomendações que falam para criar uma área suja, que é a área onde você tira a roupa que você chegou da rua, tira o seu sapato, e então passa para dentro de casa.
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Sempre importante fazer uma higiene mínima na hora que volte. Quem puder tomar um banho, ok. Ter esses cuidados na hora de entrar em casa pode ser muito importante.
Quais são os cuidados que a gente deve ter se tem alguma pessoa acima de 60 anos, se tem criança, que costuma pegar bastante coisa e colocar na boca, dentro de casa? Como deve ser feita essa gestão?
Então, a gente tem aqueles cuidados de isolamento para quem está assintomático, e os cuidados para quem não está assintomático. Lembrando que quem está assintomático não quer dizer que não tenha contraído a doença, uma vez que o período de incubação média hoje do vírus no Brasil varia entre 5 e 8 dias.
Então nesse período a pessoa é capaz de transmitir sem que ela esteja doente. A gente precisa tomar muito cuidado também com as pessoas que estão assintomáticas.
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Mas existe também uma questão com sintomáticos que é o isolamento. Os sintomáticos precisam estar em um quarto arejado, isolados, usando talheres separados, coisas bem pessoais que sejam próprias para aquela pessoa que está naquele estado com sintoma.
E aí os cuidados com o restante da casa partem do princípio que as nossas mãos e os objetos podem estar contaminados. Então com as crianças também. Às vezes é inevitável que a criança leve objetos à boca. A gente vive num mundo real, não é verdade?
Então muitas coisas podem ajudar principalmente levando em consideração a higiene das mãos que é o maior transmissor. As nossas mãos são o objeto que leva à transmissão. Então tentar evitar colocar as mãos no olho, usar a mão suja, lavar sempre que lembrar. Isso pode ajudar bastante.
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As crianças são um caso à parte, porque a gente vai lidar com crianças e é quase inevitável ficar o tempo inteiro com elas. Mas se a gente cuida da casa, da higiene da casa, da nossa higiene, da higiene das crianças, essa transmissão tem uma capacidade de ser barrada.
O que acontece com as pessoas não têm as condições materiais de fazer isso?
A gente precisa pensar que a grande maioria das pessoas hoje no país não têm essa condição. A gente fica pensando o quanto as nossas orientações podem ser seguidas na prática por uma pessoa que tem uma alta vulnerabilidade social.
O olhar hoje sobre a saúde tem que ser uma olhar que venha realmente de um governo comprometido com esse período que nós estamos passando. Se a gente lembrar, não esquecer das pessoas que estão em áreas extremamente vulneráveis e que elas correm mais riscos do que qualquer outra pessoa, a gente parte do princípio que é uma responsabilidade do Estado tentar garantir o mínimo de acesso.
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Isso parte de antes: quando a gente fala de saneamento básico, de acesso à informação. Isso tudo tem de ser uma constante em nossa vida e não só por conta da covid-19. Mas por conta de todas as outras mortes que acontecem, por falta de um mínimo de saneamento básico, o mínimo de acesso à informação, acesso à informação de qualidade.
É uma preocupação muito grande que a gente tem vivido hoje com as pessoas vulneráveis porque, como a gente vai falar para uma pessoa que precisa trabalhar que precisa sair de casa porque ela precisa trazer alguma coisa para casa para comer e como nós vamos falar de orientações de higiene, sendo que atrás dela passa um córrego?
Ou ela não tem água potável sequer para conseguir fazer higiene mínima da sua casa e a higiene pessoal?
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Então essa discussão vai muito além da covid-19 em si. E essa preocupação foi muito importante porque a gente vê nessa situação uma incapacidade hoje dessas orientações poderem ser eficazes nesse ambiente.
A gente tem que pensar que a maioria das crianças vulneráveis, o único espaço onde ela tem alimentação um pouco mais adequada é na escola. Então a gente está vivendo uma situação como se a gente estivesse de pés e mãos atadas diante dessas vulnerabilidade, sem saber o que fazer.
A gente pode estar lá orientando os cuidados mínimos, mas quando isso pode ser feito na prática? E é essa interrogação que nós não conseguimos responder, ao menos que hajam políticas adequadas vindo do governo, coisa que não tem acontecido.
Edição: Leandro Melito