O Instituto Marielle Franco divulgou, por meio de nota nas redes sociais, que os atos públicos para marcar os dois anos do assassinato de Marielle e de Anderson Gomes, agendados para este sábado (14), foram cancelados em decorrência do risco de expansão da pandemia de coronavírus.
“É uma notícia que nos deixa muito tristes em comunicar, pois sabemos da importância de estarmos juntas nesse dia para manter viva a memória, a luta e o legado de Marielle. Para mostrarmos que o nosso grito por justiça segue cada vez maior”, escreveu o Instituto.
No lugar dos atos coletivos com grande público, a família de Marielle propõe ações alternativas para mostrar indignação e cobrar o fim da impunidade e os autores do crime, como destaca o pai de Marielle, Antônio Francisco da Silva Neto, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, nesta sexta-feira (13).
“Estamos pedindo para que as pessoas, em um ato de apoio ao legado de Marielle ,coloquem em sua janela lenços, faixas amarelas. (Que usem) roupas amarelas, no Rio de Janeiro e no Brasil, para que nós possamos nos sentir abraçados por essas pessoas. Vamos fazer esse ato coletivo”, pediu.
O presidente nacional do Psol, Juliano Medeiros, disse que o partido acompanha a decisão do Instituto Marielle Franco – criado pela família da vereadora – pelo cancelamento da manifestação no Rio. Segundo o dirigente, a sigla avalia caso a caso os atos tanto do dia 14, como da próxima quarta (18) em oposição ao desmandos do governo Bolsonaro, nos estados em que nenhum caso de coronavírus tenha sido confirmado.
“O importante, me parece, é que a gente não perca a oportunidade de denunciar a impunidade desses dois anos, exigir justiça e exigir verdade. Acho que é isso que precisamos fazer amanhã, independentemente da realização de atos públicos”, disse Medeiros, também em entrevista à Rádio Brasil Atual.
Na nota, o Instituto Marielle Franco lembrou da importância e alertou para o desmonte e sucateamento que vem sofrendo o Sistema Único de Saúde (SUS), reafirmando que o fortalecimento do atendimento público à saúde da população será fundamental para o atendimento das pessoas mais pobres, “em geral mulheres negras, moradores de favelas e periferias, que estarão mais vulneráveis ao vírus, que ainda não tem vacina”.
Quem mandou matar Marielle?
Além das ações para este sábado, o pai de Marielle participa na manhã desta sexta (13) de encontro com o procurador-geral do Ministério Público do Rio de Janeiro e, às 17h, a família se reúne ainda com o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), para cobrar, segundo Antônio, mais transparência nas investigações e saber os avanços quanto às motivações e os responsáveis pelo crime.
Nesta semana, a justiça decidiu que os suspeitos de serem os executores do assassinato, o policial reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, serão levados a júri popular. A notícia foi avaliada positivamente pela família e o presidente do Psol. “Estamos completando dois anos do assassinato de Marielle, levou um ano para prender os primeiros suspeitos, não há nenhum condenado”, contestou Medeiros.
O pai de Marielle reafirma que a família é contra a federalização das investigações, que irão a julgamento no dia 31 de março no Supremo Tribunal Federal (STF). “A família não quer (a federalização) porque vai fugir da esfera estadual para cair na esfera federal, em que as pessoas que compõem, a polícia federal, procurador-geral, ministro da Justiça, são todos ligados ao atual presidente. Para mim, pai de Marielle, não vai ter investigação se esse julgamento for favorável à esfera federal”, criticou seu Antônio.
Medeiros lembrou ainda as relações “obscuras” que aproximam a família Bolsonaro de grupos milicianos, apontados na execução de Marielle. “Queremos saber se a família tem algum tipo de suspeita ou é ilação de que Bolsonaro tem relação com a morte de Marielle. É muito grave que os assassinos, ou pelo menos alguns deles, possam ter algum tipo de relação com a família do presidente”, advertiu o presidente do Psol.
Sem respostas à principal pergunta de todos, a família se apega à luta de Marielle para garantir força na busca por justiça, como ressalta o pai da vereadora à Rádio Brasil Atual. “Marielle foi arrancada de nós há dois anos, mas ela convive conosco diariamente. Nós temos aqui muitas fotos, diplomas, troféus e por onde andamos as pessoas nos dão muito apoio e muita força, isso também nos ajuda a suprir essa ausência. Essa frase que cunharam ‘Marielle Presente’ é uma realidade. Marielle está sempre presente”, destaca Antônio.