Pandemia

Na TV, Bolsonaro desestimula atos no dia 15, mas não apresenta plano para coronavírus

Capitão reformado afirma que foi dado um recado ao Congresso, mas manifestações precisam ser repensadas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bolsonaro afirmou nas redes sociais que manifestações são um recado ao parlamento - Reprodução

Em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, nesta quinta-feira (12), Jair Bolsonaro (sem partido) voltou atrás em sua postura de estímulo aos protestos contra o Congresso Nacional e o Supremo, marcados para o próximo dia 15. Ele afirmou que as manifestações precisam ser repensadas diante das repercussões do coronavírus. O presidente não citou nenhum tipo de ação específica de combate à propagação do vírus.

Na semana passada, o capitão reformado havia minimizado os riscos da doença que atinge mais de 110 países. Ele disse, durante agenda nos Estados Unidos, que as repercussões do vírus eram uma fantasia alimentada pela mídia. Após a Organização Mundial da Sáude declarar que o coronavírus representa uma pandemia e o número de casos confirmados disparar no Brasil, o capitão reformado mudou o discurso. 

“Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem o interesse da nação, balizados pela lei e pela ordem. Demonstram o amadurecimento da nossa democracia presidencialista e são expressões evidentes da nossa liberdade. Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes, ser repensados.”

Apesar de Bolsonaro insistir no discurso de que os atos são espontâneos e que não fez nenhuma convocação, recentemente ele demonstrou apoio às manifestações em diversas ocasiões. O capitão reformado chegou a chamar a população para participar dos protestos durante um evento público em Boa Vista (RR) e compartilhou pelo Whatsapp um vídeo em defesa aos movimentos. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República usou as redes oficiais do governo para legitimar os atos.

A defesa de manifestações que pedem o fim dos poderes legislativo e judiciário foi duramente criticada e a postura foi vista como antidemocrática. Especialistas afirmam que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade ao incentivar os atos.

Para a militância

O movimento Nas Ruas, que organiza algumas das manifestações, anunciou o adiamento dos atos. Um pouco antes do pronunciamento desta quinta à noite, Jair Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais. De máscara, disse que a ideia é adiar os protestos para daqui um mês ou dois e completou: “foi dado um tremendo recado ao parlamento”.

As declarações de Bolsonaro ocorreram no mesmo dia em que foi confirmado que o chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, está com o coronavírus.

Ele viajou para os Estados Unidos com Jair Bolsonaro, que já realizou testes e está sendo monitorado. Os dois participaram de um encontro com o presidente estadunidense Donald Trump e a notícia de que Wajngarten está com o vírus repercutiu na imprensa internacional. As redes de TV CNN e Fox News mostraram imagens do secretário de Bolsonaro ao lado de Trump. Os jornais New York Times, Wall Street Journal e Washington Post destacaram o assunto em manchetes. 

Edição: Rodrigo Chagas