“Posso afirmar, que ser uma mulher sem-terra é ser mulher liberta, emancipada, valente. É ser uma mulher que chora, que sente dor própria e do outro. O MST me fez mulher, me fez um ser harmônico, que tem orgulho de viver. E tudo isso e um pouco mais é o que a cada dia me fortalece para seguir firme e convicta de que estamos do lado certo da história.”
Foi com as palavras de Messilene Gorete, assentada do estado de Pernambuco, que o 1º Encontro de Mulheres do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra (MST) teve início nessa quinta-feira (5). Realizado no Pavilhão do Parque da Cidade, em Brasília (DF), o evento tem como objetivo ampliar o diálogo entre mulheres do campo e da cidade.
Construído desde as bases pelo movimento de mulheres do MST, o evento reúne 3,5 mil mulheres de 26 estados, além de delegadas internacionais de 13 países.
"Sem dúvida nenhuma a gente conseguiu chegar até aqui graças a construção histórica que o MST como um todo o conjunto da organização sempre fez em torno desse debate da participação das mulheres, da igualdade de gênero, da gente possibilitar construir processos de igualdade. Então isso também é resultado e mérito de toda a construção de luta social igualitária pelo que o MST constrói e acredita", diz Ceres Hadich, da direção do MST do Paraná.
Com o lema “Mulheres em Luta: Semeando a Resistência”, o evento prevê a realização de atividades de debate e reflexão sobre temas como produção agroecológica, produção de alimentos saudáveis, enfrentamento à violência, autonomia econômica e resistência das mulheres nos territórios. Além das mulheres sem-terra, o evento, que vai até segunda-feira (9) também conta com a participação de delegadas de diferentes movimentos feministas do Distrito Federal e região.
“Nesse encontro nós estamos articuladas desde os estados, para fazer uma leitura da conjuntura numa perspectiva feminista da classe trabalhadora. O Encontro vem com esse objetivo: fazer essa unidade, construir e fortalecer esse pensamento de quem somos as mulheres sem-terra, e da classe trabalhadora, para que a gente consiga enfrentar, juntas, a conjuntura desse governo misógino que incentiva a violência contra as mulheres, em especial”, afirma Atiliana Bruneto, coordenadora do setor de gênero do MST.
O Encontro vem com esse objetivo: fazer essa unidade, construir e fortalecer esse pensamento de quem somos as mulheres sem-terra, e da classe trabalhadora, para que a gente consiga enfrentar, juntas, a conjuntura desse governo misógino que incentiva a violência contra as mulheres
Uma das participantes que chegou mais cedo ao Encontro foi Yara Pereira, estudante de geografia agrária, vinda do Paraná. Para ela, a discussão sobre violência de gênero é uma das mais importantes propostas no evento.
“A perspectiva para esse evento histórico é muito grande e emocionante. Eu me envolvo com o Movimento porque minha mãe saiu da terra, do interior do estado, justamente por ser mulher. A gente sabe que as questões das mulheres sem-terra, os dados, os problemas são muito maiores. E é muito bonito ver o processo de luta, o histórico do Movimento, resistindo, lutando e discutindo essas questões”, afirma a estudante, que faz parte de coletivo Encontra, dedicado ao estudo de conflitos pelos territórios e pela terra.
Arte, cultura e luta
Além dos espaços dedicados à discussão política, o evento também conta com exposições artísticas, feira de venda de produtos agroecológicos feitos pelos coletivos de mulheres e apresentações culturais.
Uma das propostas em destaque é o espaço onde estão expostas cartas de mulheres sem-terra relatando a transformação de vida que passaram depois de participarem do Movimento.
Rosimeire Witzel, assentada no Rio Grande do Sul que atualmente atua na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), e coordenadora da atividade, explica que esse tipo de proposta é uma das contribuições únicas do movimento de mulheres para o MST como um todo.
“Todas as cartas que eu pude ler, elas contam também a minha a história. Então, ter contato isso, me fortalece,me dá mais humanidade, e me dá muito mais certeza, de que a história do feminismo camponês e popular está sendo construído em nosso Movimento desde o início. Porque é um movimento que dá possibilidade de nós mulheres existirmos com dignidade e com isso a gente faz com que o Movimento se humanize ainda mais”, argumenta Rosemeire.
É um movimento que dá possibilidade de nós mulheres existirmos com dignidade e com isso a gente faz com que o Movimento se humanize ainda mais
O 8 de março, dia internacional de luta pelos direitos das mulheres, também será marcado com um atividade. No dia, está prevista uma marcha que sairá pelas ruas de Brasília, junto com os outros movimentos feministas da cidade.
“Será um ato de denúncia, de protesto, contra esse governo de retrocessos. Então a gente vai cumprir esse papel nessa articulação, porque a gente quer sair daqui com uma unidade muito mais fortalecida e com um rumo mais uniforme da luta”, conclui Atiliana Bruneto, do setor de gênero do MST.
Edição: Rodrigo Chagas