MST

Stedile: 'Se fizer reforma agrária com latifúndio improdutivo, faltaria sem-terra para ocupar'

Em participação no Flow Podcast, o dirigente do MST afirmou que é possível assentar 12 milhões de famílias no Brasil

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
"Só cabe direito de propriedade de terra se você cumprir a função social, está na Constituição. A terra é um bem da natureza, ninguém construiu", disse Stedile - Reprodução

João Pedro Stedile, liderança do MST, participou nesta sexta-feira (2) do Flow Podcast. Como é comum no programa quando recebe lideranças de esquerda, a presença de Stedile serviu para tirar dúvidas básicas sobre a atuação, reivindicações e ideias do movimento.

Durante a conversa, o apresentador do podcast, Igor Coelho, perguntou se havia terra suficiente para efetivar um projeto de reforma agrária "sem incomodar ninguém". Stedile afirmou que não apenas há o suficiente, mas sobra terra no Brasil. 

"Se fosse fazer uma reforma agrária com as grandes propriedades improdutivas, poderíamos assentar 12 milhões de famílias e somos em torno de 4 milhões de sem-terra, ou seja, faltaria sem-terra no Brasil."

Stedile explicou que o direito à propriedade da terra não é absoluto. "Só cabe direito de propriedade de terra se você cumprir a função social, está na Constituição. A terra é um bem da natureza, ninguém construiu", disse. "Só cabe direito de propriedade de terra se você cumprir a função social, com produção e sem trabalho escravo. A propriedade não é um direito absoluto, nem sagrado", completou.

A liderança do MST aproveitou para diferenciar os conceitos de ocupação e de invasão de terras. "O Código Penal diz o seguinte: invasão de terra é quando algum sujeito invade aquele bem em proveito próprio. Isso se caracteriza como esbulho possessório e por isso ele pode ir para a cadeia. Ocupação de terra é um movimento de massas. Dezena de famílias participam. Ocupam uma fazenda para chamar a atenção do governo para que esse governo aplique a lei. E o que diz a lei?  Toda grande propriedade improdutiva o governo deve desapropriar, pagar o pretenso proprietário e ele então coloca a terra à disposição das famílias", explicou.

Stedile falou também o modelo de desenvolvimento de nação defendido pelo MST. "Para tirar o país do buraco e promover desenvolvimento social, nós precisamos de três pilares: ter o Estado forte, reindustrializar a economia do país e potencializar uma agricultura que produza alimento para o povo brasileiro."

A dirigente também comentou sobre a CPI do MST. "Essa é a 5ª CPI que estamos enfrentando, não temos medo. Vamos dialogar com a sociedade, expor as nossas ideias, ouvir o contraditório e apresentar nossa solução para os pobres do campo, disse.

Stedile afirmou, no entanto, que a CPI se tornou um "circo", em que os deputados já condenaram o movimento e aparecem apenas para produzir vídeos para suas redes sociais. 

Edição: Thalita Pires