São Paulo já começou a semana em meio ao caos, com ruas e avenidas alagadas. Até às 8h45 da manhã desta segunda-feira (10), o Corpo de Bombeiros de São Paulo registrou uma morte por afogamento, na região do Bom Retiro, 320 acionamentos para enchentes, 36 para desabamentos e 47 para quedas de árvores.
Em algumas regiões da cidade, a precipitação chegou a 90 milímetros, nas últimas 24 horas, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia.
Para fins de comparação, a precipitação de uma chuva moderada está entre 2,5 e 10 milímetros por hora; e de chuva forte, entre 10 e 50 milímetros. Em janeiro deste ano, o governo estadual de São Paulo passou a ser responsável pela operação das 26 bombas que previnem enchentes em três pontes da Marginal Tietê.
Na época, o secretário estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, afirmou que “se a chuva ultrapassar a capacidade de bombeamento [entre 40 e 50 milímetros], sim [haverá alagamento]”, tornando o sistema de bombas ineficientes para chuvas fortes e para aquelas que duram horas, como é a que vive São Paulo nesta segunda-feira.
Ricardo Moretti, professor aposentado de Planejamento Territorial da Universidade Federal do ABC (UFABC), explica que, para além da perspectiva de um fenômeno “simplesmente natural”, as enchentes também refletem a precariedade ou a ausência de planejamento urbano e ambiental.
Quando a água da chuva cai em um ambiente natural, parte dela infiltra no solo, outra escoa. Nas cidades, o curso da chuva é diferente: a água dificilmente se infiltra, circulando mais rápido e em maior quantidade, em decorrência da impermeabilização do solo e da retificação dos rios e córregos.
“Quando se canaliza um rio, empurra-se o problema para baixo, porque maiores quantidades de água vão chegar nas regiões mais baixas.”, aponta.
Essa é a lógica utilizada nas margens de rios que escoam a água da chuva para as principais vias fluviais da cidade: Tietê e Pinheiros. Um desses rios é o Tamanduateí, que frequentemente transborda, e que em cujas margens vive Ana Paula de Moura Gomes, de 43 anos, com seu marido, Augusto Gomes dos Santos, de 50 anos, e os seis filhos.
Desde que se mudaram para a pensão que abriga cerca de 50 pessoas – cada família em um cômodo –, em 2009, a família de Ana Paula observa a enchente como quem vê o perigo se aproximar, ameaçar e ir embora, mas com a tensão da possibilidade de repetição a cada dia seguinte.
A pior enchente ocorreu em março de 2019, à qual sobreviveram por um “milagre” e graças ao heroísmo dos vizinhos, como definiu Augusto, e não por uma intervenção do poder público. “Ninguém veio. Do outro lado, eu via o bote dos bombeiros que vinha até ali, dali voltava. Todo mundo viu o meu sofrimento, todo mundo ligava e não veio nada. Não apareceu um barco, uma lancha, nada”, conta Augusto. “Se fosse no Alto do Ipiranga, a atenção seria maior, né? Aí era diferente, no Morumbi, Moema, Jardins.”
Edição: Leandro Melito