O governador de São Paulo João Doria decidiu mudar o ouvidor das polícias do estado e não reconduziu o sociólogo Benedito Mariano ao cargo. Mariano foi o mais votado da listra tríplice apresentada pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).
Ele deixa o cargo no mesmo dia em que foi feita a divulgação de um relatório que aponta aumento de 98% nas mortes causadas por policiais da Rota, força de elite da PM paulista. A letalidade da Polícia Militar subiu 11,5% entre 2018 e 2019. Segundo o documento, nesse mesmo período a PM foi responsável por 95% das mortes de civis.
Benedito Mariano ficou conhecido por sua atuação combativa e pelas críticas à violência policial. Por várias vezes ele afirmou que era preciso mudar os protocolos de atuação e fez alertas sobre o aumento dos casos de morte de civis em ações da PM.
Após a ação da Polícia Militar em um baile funk no bairro de Paraisópolis, que resultou na morte de nove jovens, a ouvidoria pediu afastamento dos policiais envolvidos. Na ocasião foram divulgados vídeos gravados pela comunidade que mostram policiais acuando e espancando jovens em becos e vielas.
O caso mobilizou organizações de direitos humanos nacionalmente e as reações da ouvidoria mexeram com os ânimos de políticos ligados às forças policiais. O líder do governo na Assembleia Legislativa do estado, Carlão Pignatari (PSDB-SP), chegou a chamar Mariano de “mau-caráter”.
O afastamento do ouvidor é visto como uma resposta de Doria à pressão de aliados e também como um recado. Segundo Ariel de Castro, advogado, conselheiro do Condepe e membro do Grupo Tortura Nunca Mais, o governador deixa claro que ouvidores atuantes não serão reconduzidos.
“Temos que lamentar a decisão do governador João Dória de não reconduzir o ouvidor de polícia Benedito Mariano. Ele foi o mais votado numa lista tríplice escolhida pelo Condepe. Certamente a atuação combativa do ouvidor diante da crescente violência policial, denunciando casos de abuso, de mortes, acabou influenciando a decisão do governador. Nesse caso o governador passa um recado para os ouvidores: quem for combativo, quem for atuante, quem estiver denunciando situações de violência policial não será conduzido. Na verdade é uma retaliação, até porque o ouvidor tem denunciado uma política de extermínio nas periferias", afirma Castro.
Novo ouvidor
João Dória escolheu para substituir Mariano no cargo de ouvidor, o advogado Elizeu Soares Lopes, ativista contra o racismo e ligado ao PC do B. Ele já foi funcionário do gabinete da deputadas estadual Leci Brandão, (PC do B) e secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Promoção de Igualdade Racial da gestão de Fernando Haddad (PT).
Ele foi o terceiro colocado na lista tríplice, com 5 votos. Em segundo lugar na lista estava Cheila Olalla, militante pelos direitos humanos no sistema prisional. É a primeira vez em 25 anos que o primeiro nome da lista não é o escolhido pelo governador.
Edição: Leandro Melito