Imperialismo

Articulação mundial de movimentos e sindicatos prepara ações contra imperialismo

O encontro, que visa potencializar a luta da classe trabalhadora em todo o mundo, acontecerá entre 25 a 30 de maio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A jornada de luta anti-imperialista é fruto de encontros internacionais como o realizado em Caracas, na Venezuela, em 2019 - José Eduardo Bernardes/BdF

O ano de 2019 foi marcado pelo acirramento da luta de classes internacional, materializada na repressão às manifestações, ataques à democracia, instabilidade geopolítica e resistência popular. Contra as ofensivas que continuam a ecoar em 2020, a Assembleia Internacional dos Povos (AIP) -- uma articulação internacional de movimentos populares, partidos de esquerda e sindicatos -- está organizando uma jornada anti-imperialista, que acontecerá entre os dias 25 a 30 de maio em diversos países.

O objetivo é realizar uma semana de mobilização popular por meio de atos, debates e conferências que tenham como eixo a crítica atual do capitalismo, assim como a análise aprofundada de seus atuais mecanismos de exploração e de controle. 

“Nossa expectativa é justamente conseguir um processo muito amplo que envolva o conjunto dos movimentos populares, sindicais, dos partidos de esquerda, para alavancarmos um processo de mobilização neste momento de ofensiva da direita, tão forte, não só nas Américas como no mundo inteiro”, explica Nalu Faria, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e integrante da AIP. 

Ela acrescenta que a crítica permeia não só os países imperialistas, mas os instrumentos utilizados para impor uma agenda de poder, como a atuação de empresas transnacionais, os acordos de livre comércio, assim como a militarização e a criminalização das lutas. 

Faria defende ainda que, mais do que nunca, é preciso lutar contra toda forma de opressão. “O capitalismo está imbricado com o racismo, com o patriarcado, com o colonialismo. Temos que olhar também para as agendas ecologistas, dos direitos humanos, e, claro, que nesse momento, a agenda da democracia, dentro de uma perspectiva de construção de soberania e de poder popular”, diz.

Em resposta a um contexto de avanço do neoliberalismo, Nalu Faria também destaca que a resistência popular irá se intensificar, a exemplo das mobilizações chilenas do ano passado.

Irvin Jim, integrante da AIP e do Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul, comenta que o capitalismo é um sistema em crise permanente que sempre penaliza a classe trabalhadora.

“O capitalismo enfrenta barreiras, mas não compromete sua missão de continuar lucrando. Faz lucro durante os booms, faz lucro quando a economia está em crise, faz lucro mesmo durante uma seca. No entanto, sempre garantirá que a classe trabalhadora pague suas crises. A natureza do imperialismo que testemunhamos não é apenas antidemocrática, mas é abertamente racista e completamente atrasada”, denuncia Jim. 

A perspectiva é que a jornada aconteça como um momento chave de confluência entre os povos de todos os continentes, mas deve ser precedida por um processo de mobilização e construção de alianças anti-imperialistas constantes, enraizando uma crítica antissistêmica na atuação dos movimentos. 

Solidariedade internacional

A jornada de luta anti-imperialista é fruto de encontros internacionais como o realizado em Caracas, na Venezuela, no início do ano passado, que reuniu cerca de 500 participantes de 87 países, representando 181 movimentos e organizações populares de todo o mundo. Outro evento de mesmo tipo foi o sediado em Havana, Cuba, em novembro do ano passado, chamado Encontro Anti-imperialista de Solidariedade, pela Democracia e contra o Neoliberalismo. 

Em determinados momentos, países são escolhidos para sediar esse tipo de encontro para que as organizações populares de todo o mundo possam prestar sua solidariedade a essas nações frente a projetos imperialistas. Nalu Faria lista a Venezuela como um destes, e garante que o país vem sendo o “palco” da luta de classes no contexto internacional nos últimos anos e continuará sendo referência na mobilização popular internacional.

“Precisamos construir um processo de luta geral que não deixe a Venezuela isolada. Construirmos um processo de muita mobilização em vários países da região, que vá demonstrando como construirmos uma luta anticapitalista e anti-imperialista, considerando que a Venezuela é central nesse processo justamente por ter resistido a esses ataques do imperialismo e tem mantido sua revolução, mesmo com toda guerra econômica, midiática e cultural, que fazem contra o povo e o governo venezuelano”, argumenta. 

Irvin Jim, por sua vez, comenta que em 2019, a solidariedade internacional foi a única resposta que poderia ser dada contra o imperialismo e suas questões particulares em diversos países. 

“Tivemos que promover o objetivo da solidariedade internacional, tivemos que nos levantar em defesa do povo da Venezuela. Tivemos que nos unir a um movimento e a uma mobilização mundial que realizou uma campanha contra o regime de direita de Bolsonaro no Brasil, a direita que deu um golpe no Brasil e abusou de forma não democrática do poder político quando prenderam Lula, levando a todos nós a cunhar um slogan: Lula livre. Continuamos a condenar essa arrogância desenfreada das forças de direita, liderada por um oportunista de direita -- Guaidó -- na Venezuela, que é um lacaio dos Estados Unidos. Rejeitamos o golpe contra Evo Morales, na Bolívia. E em 2020, apelamos a todas as forças revolucionárias de todo o mundo para que continuem a defender a democracia das pessoas nesses países”, conclui. 

Entre os movimentos brasileiros que participam da Assembleia Internacional dos Povos, estão a Marcha Mundial de Mulheres, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Levante Popular da Juventude, entre outros.

Edição: Vivian Fernandes