Balanço

Sobe para nove número de casos suspeitos de coronavírus no Brasil, diz ministério

Governo diz que não vai mudar ações já desenvolvidas antes e que não há motivo para pânico

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Representantes do Ministério da Saúde mantém postura serena ao tratar dos riscos do novo vírus - Ministério da Saúde/Divulgação

Subiu para nove o número de casos suspeitos do novo coronavírus no Brasil, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde na tarde desta quarta-feira (29).

Apesar do aumento, o governo mantém a postura de tranquilizar a população e negar que exista risco iminente de surto no país. “Nós não vamos tomar nenhuma medida de exceção”, afirmou o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, ao anunciar os números.

Um dia antes, o ministro da Saúde, Luis Henrique Mandetta, seguiu a linha de serenidade. "Não há motivo para pânico. É momento de estarmos atentos. O Brasil possui uma equipe de profissionais capacitados e que já passaram por outras epidemias de vírus. O Brasil está preparado para monitorar o coronavírus. A realidade da China é uma e a nossa é outra“, afirmou, em entrevista coletiva.

O Ministério da Saúde afirmou que, por ora, vai manter ações de prevenção e monitoramento que já desenvolve desde a ameaça de influenza A (H1N1). A única ação mais incisiva, por parte do governo, foi orientar a população para que evite viagens à China, exceto em casos de extrema necessidade.

“Não é recomendável que a pessoa se exponha a uma situação dessas e depois retorne ao Brasil e exponha mais pessoas. Recomendamos que, não sendo necessário, que não se façam viagens, até que o quadro todo esteja bem definido”, declarou o ministro da Saúde.

Estrutura para enfrentamento

Segundo médicos infectologistas ouvidos pelo Brasil de Fato, o país tem redes de saúde e sanitária estruturadas para enfrentar o novo coronavírus sem problemas.

“Não há motivo para pânico, mas é necessário tomarmos as precauções necessárias inclusive do ponto de vista de saúde pública, que tenhamos um fluxograma de assistência e notificação”, afirma a infectologista Marcela Vieira, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que integra a Rede Nacional de Médicos Populares.

Para o ex-ministro da Saúde e infectologista Alexandre Padilha, atualmente deputado federal (PT-SP), não promover desespero na população, não significa que não tenhamos que ficar em alerta.

“Existe motivo para alerta. O Brasil desenvolveu, ao longo de décadas, estrutura, uma rede de vigilância, profissionais capacitados, estrutura de internação. Tem que estar em alerta, ser rapidamente acionado [em casos suspeitos], e, sobretudo, muita orientação para a população”, afirma o médico.

Padilha ressalta que todas as pessoas que estiveram na China e apresentam sintomas respiratórios – tosse, nariz escorrendo – ou febre devem procurar, imediatamente, ajuda médica.

“É muito importante que qualquer pessoa que tenha ido, seja para a cidade de Wuhan, seja para a China como um todo, tem que estar orientada, tem que estar informada. A qualquer sinal ou sintoma de febre, náusea, sinais de resfriado, ela precisa ser investigada como caso suspeito do coronavírus de 2019”, diz o infectologista.

Segundo o médico, ações de orientação são muitos mais eficazes do que medidas mais rígidas, como o bloqueio de pessoas em portos e aeroportos ou o uso de equipamentos para detectar possível febre.

“Os estudos mostram, sobretudo na pandemia da influenza, que medidas como bloquear a chegada pessoas ou mesmo o uso de equipamentos como scanner, que escaneia se a pessoa está com febre, não surtiram impacto positivo. O mais importante é a orientação às pessoas que estão chegando.”

Transmissão e sintomas

O novo coronavírus é transmitido de forma similar à gripe comum, mas com alta capacidade de contágio entre pessoas. Ou seja, a princípio, o vírus é passado por contato direto por meio físico, com secreções ou pelo ar.

Os sintomas são parecidos com gripes ou resfriados. “Os sintomas são similares à gripe, que é causada pelo vírus influenza. São sintomas respiratórios: tosse, nariz escorrendo, febre. Mas nós tivemos casos, descritos na China, que começaram com sinais mais inespecíficos. Pessoas que começaram com febre, com náusea, com vômito, com diarreia”, explica Alexandre Padilha.

Prevenção

A higiene, principalmente das mãos, é uma das formas mais efetivas de se prevenir o contágio pelo novo coronavírus.

“A maior forma de transmissão é no contato da mão. Muitas vezes a pessoa que está infectada pelo vírus coloca a mão na boca quando vai tossir, mexe no nariz, aí fica com gotículas do vírus e pode passar para a outra pessoa ao apertar a mão. Então, é muito importante a higienização o tempo todo”, orienta Alexandre Padilha.

Vacina

Por se tratar de um novo vírus, ainda não há vacinas ou medicação para combatê-lo. O governo chinês, porém, afirma que está fazendo testes para desenvolver alternativas de tratamento.

“O 2019-nCOV, como foi chamado o coronavírus, ainda não tem tratamento eficaz com comprovação ou vacina. Tudo é muito recente. No momento, há algumas tentativas de tratamento sendo testadas. Porém, não há pesquisas robustas que sustentem, porque é tudo muito novo”, explica a médica Marcela Vieira.

Postura do governo

Para o ex-ministro Alexandre Padilha, o governo federal deveria se unir em torno do combate ao vírus, dando apoio ao Ministério da Saúde. Ele criticou a fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que “não seria oportuno, com todo respeito” retirar uma família brasileira com suspeita de contaminação nas Filipinas.

“Seria muito importante, por exemplo, o presidente da República parar de falar bobagem -- como a frase que saiu em algumas notícias, absolutamente desrespeitosa em relação à família que está nas Filipinas com sinais e sintomas do coronavírus – e ter uma fala assertiva do conjunto do governo, apoiando o Ministério da Saúde para liderar e agir sobre a situação.”

 

 

Edição: Camila Maciel