O pregão eletrônico para contratação dos serviços técnicos necessários para a estruturação do projeto relativo à desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) já teve sua publicação realizada. Desde terça passada (19), o projeto do governo Bolsonaro tem avançado e cumprido as datas previstas, conforme anunciado logo após a divulgação da lista de empresas que estão no Plano Nacional de Desestatização (PND). A previsão é que o leilão aconteça no primeiro semestre de 2022.
Jorge Luiz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Ferroviários e de Transporte Sobre Trilhos no Estado do Rio Grande do Norte (Sintefern), tem feito mobilização interna e externa, entre campanhas e atividades que vão contra o projeto de privatização.
Uma das intenções do dirigente do Sindicato é encontrar a governadora Fátima Bezerra para dialogar com e discutir a possibilidade dela negar a entrega da Companhia no RN. Isso porque a constituição não permite que as empresas estatais sejam privatizadas diretamente; antes de leiloadas à iniciativa privada, as empresas devem passar pelo processo de estadualização.
Além dessa medida, o Sintefern tem realizado campanhas nas estações de trem de Natal contra a venda da empresa e recolhido assinaturas que devem ser digitalizadas e entregues aos parlamentares do estado, posteriormente.
O presidente do sindicato conta que a maior luta é manter a empresa federal. Ele alerta inclusive que os números de arrecadação diária da CBTU RN não são interessantes à iniciativa privada, dada a quantidade de usuários médios por dia. São cerca de 15 mil passageiros, sendo Ceará-Mirim/Natal a linha com maior fluxo e mais usuários. Esses valores geram uma coleta de R$ 15 mil por dia, aproximadamente, isso porque se cobra um valor justo pelas passagens que dá possibilidade de acesso a maior parte da população, principalmente porque são as pessoas de baixa renda que fazem o maior uso do trem.
Mas em contrapartida, a manutenção da estrutura, somado ao óleo e as despesas com funcionários, custam um valor alto que é custeada pelo subsídio do Governo Federal que precisa cumprir seu papel social em garantir o transporte público aos menos abastados.
Outra preocupação do dirigente do Sintefern é a tensão que se instalou entre os trabalhadores da CBTU, que acompanham as notícias sobre o célere interesse em privatizar a Companhia. Segundo Jorge Luiz, os funcionários não acreditavam que o passo a passo aconteceria tão rápido, além de se preocuparem com a garantia do emprego.
Nos últimos anos, a empresa realizou um estudo e arquitetou um projeto de ampliação dos trens que os integraria com o resto da capital do RN, levando os trilhos a cruzar a Zona Leste chegando à Zona Sul, ou seja, passando pelo maior shopping da cidade com destino à Universidade Federal. Mas não houve interesse do governo federal em acrescer, pelo contrário, nos últimos anos, a receita destinada às companhias diminuiu em todo o Brasil.
Em capitais maiores, como Recife e Belo Horizonte, onde a CBTU também funciona, os trens são integrados com os outros transportes públicos da cidade e por isso estão mais seguras frente às ameaças, inclusive porque têm um fluxo de passageiros maior.
Edição: Isadora Morena