Os bancos públicos como o Banco do Brasil (BB), a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste (BNB) se veem ameaçados com os constantes anúncios de privatizações de estatais feitas pelo governo Bolsonaro (PSL). Mesmo que não estejam diretamente dentro da lista de privatizações já foi anunciada a autorização para venda de uma parte das ações do Banco do Brasil. Em maio deste ano, por exemplo, foi lançada a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos que conta com 209 integrantes, sendo 199 deputados e 10 senadores, de 23 partidos. A iniciativa pretende analisar todos os projetos sobre o tema que estão no Congresso.
De acordo com dados divulgados no site da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), 46% das operações de crédito, o que corresponde a cerca de R$ 1,4 trilhão são dos bancos públicos; na habitação essas instituições são responsáveis por 80% do crédito imobiliário, representando R$ 597 bilhões em financiamentos imobiliários. No crédito rural, os bancos públicos investiram R$ 180 bilhões (72%).
A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) também está se organizando e já iniciou sua luta contra as privatizações com o lançamento da campanha “Não mexe no meu BB”, que faz um alerta sobre a intenção de desmontar o BB a partir da venda de subsidiárias e ativos estratégicos que hoje contribuem em áreas como seguros, previdência, cartões de crédito entre outras áreas de atuação do banco. Um dos motivos da iniciativa, de acordo com a própria ANABB, é mostrar para a sociedade a necessidade de manter o modelo de empresa pública construído em torno do BB.
Em abril deste ano, as nove seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Nordeste escreveram uma carta aberta manifestando a preocupação com a possibilidade de privatização do Banco do Nordeste (BNB). Na carta, a OAB afirma que “o Banco do Nordeste é uma ferramenta importante no desenvolvimento da Região Nordeste, especialmente no semiárido”. No texto também é apresentado o balanço financeiro de 2018, divulgado pelo BNB, onde mostra que “o lucro líquido da instituição cresceu 6,4% e chegou a R$ 725,5 milhões. Os dados anunciados mostram que, no estado do Ceará, os valores totais contratados chegaram a R$ 8 bilhões”.
Para Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, as privatizações representam a retirada de diretos e de investimentos para o nordeste. Ele cita como exemplo o fato das pessoas conseguirem créditos em bancos públicos, mas para investir seu dinheiro as pessoas estão recorrendo aos bancos privados. De acordo com o sindicalista, esse tipo de lógica é que leva o dinheiro e os recursos de desenvolvimento saírem e descapitalizarem a região nordeste. “Essa lógica empobrece a região nordeste, e desfazer essas políticas significa desfazer a condição de lutas contra a desigualdade que acontece na garantia de segurança alimentar, produção de alimentos, financiamento da agricultura familiar seja no défcit habitacional, principalmente para as pessoas mais pobres, na perspectiva de políticas públicas”, afirma.
Em 2018, Maria Damiana da Costa Moizéis, tecnóloga em saneamento ambiental, realizou o sonho da casa própria. Ela conseguiu o financiamento com o programa “Minha Casa Minha Vida”, pelo Banco do Brasil. Ela acredita que as privatizações dos bancos públicos irão trazer consequências para as pessoas que dependem do programa de habitação. “As privatizações dos bancos públicos é algo que não pode acontecer. As pessoas, principalmente os pobres, vão perder muito com isso. Muita gente vai perder a chance de conseguir a casa própria”.
Edição: Monyse Ravena