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Rostos da Luta pela Terra: Francisco Cilirio, herdeiro da luta do Caldeirão

Francisco nasceu apenas 10 anos após o massacre dos camponeses da comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Francisco Cilirio Paes, morador do Assentamento 10 de abril, herdeiro da luta pelo Caldeirão
Francisco Cilirio Paes, morador do Assentamento 10 de abril, herdeiro da luta pelo Caldeirão - Arquivo Pessoal

O Brasil de Fato Ceará apresenta o quarto perfil dos cinco militantes da luta pela reforma agrária que serão homenageados pela sua trajetória nos 30 anos de existência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Ceará. A homenagem que acontecerá dia 24 de setembro uma sessão solene na Assembleia Legislativa também contará com a entrega do título de cidadão cearense a João Pedro Stédile, economista e integrante da direção nacional do MST.

Francisco Cilirio Paes nascido no dia sete de março de 1947, na cidade de Santana do Cariri, no extremo sul do Ceará. Morava no sítio Baixa Grande, nas terras dos patrões, conhecendo os movimentos de luta em defesa da reforma agrária em 1974. Segundo ele "Comecei a participar das lutas e vi que ia mudar a minha vida e continuei na caminhada para frente “. 

Francisco nasceu apenas 10 anos após o massacre dos camponeses da comunidade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, município do Crato, também na região do Cariri. No ano de 1926 o beato José Lourenço, líder do grupo que reunia romeiros, camponeses que fugiam da seca, recebeu do padre Cícero uma terra para que pudessem tirar dela o sustento. No seu auge, o Caldeirão chegou a ter dois mil habitantes, tendo a capacidade de produzir quase tudo que necessitavam, de alimentos e instrumentos de trabalho a vestuário e panelas. O sistema de produção era cooperado, todos produziam e cada um recebia conforma a necessidade da sua família.

No dia 10 de abril de 1991, Francisco Cilirio, juntamente com famílias de seis municípios da região organizadas pelo MST ocuparam a região do Caldeirão. Consideraram ali um espaço que deveria servir de exemplo. Após 22 dias de ocupação veio a reintegração de posse, dali seguiram para ocupar o Parque de Exposições do município do Crato, local onde se realizaria uma importante feira do agronegócio, o Expocrato. Fruto das ocupações, o governo estadual desapropria duas fazenda na região do Caldeirão para fins da reforma agrária.

Francisco Cilirio Paes, morador do Assentamento 10 de abril, herdeiro da luta pelo Caldeirão, diz ser muito agradecido ao MST por sempre apoiar as lutas e permitir que hoje tenha acesso à terra, "nós trabalhamos na terra para tirar o sustento para nossa família e também sempre trabalhar no coletivo. Tudo na nossa vida mudou para melhor." 

O Caldeirão

Tal experiência suscitou na elite da região um temor que aquela experiência, de partilha da terra e comunhão de ideias humanistas, pudesse ameaçar seus latifúndios ou a exploração dos camponeses na região. Foram três tentativas de expulsão dos agricultores da terra, a primeira em 11 de setembro de 1936, quando policiais invadiram a comunidade e não achando o líder José Lourenço, atearam fogo nas casas e expulsaram os moradores. Aos poucos o povo foi retornando à comunidade e retomando a produção. 
Em 1937 o governo enviou 12 homens para espionar o povo, os espiões quando descobertos entraram em confronto, finando com a morte de quatro policiais e cinco camponeses. Taxados pelo governo de um movimento comunista, a última investida contra o Caldeirão contou com 200 soldados e dois aviões, sendo a primeira vez no Brasil que um avião foi usado para bombardear contra seu próprio povo. Ao fim do dia 11 de maio de 1937 o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto e sua população estavam dizimados.

Edição: Monyse Ravena