"A Amazônia sempre queimou, principalmente nos meses secos de agosto e setembro, só que desta vez ela está queimando muito mais", atesta o fotógrafo Araquém Alcântara, com 49 anos de jornalismo e mais de 50 viagens e expedições à floresta amazônica na carreira. Ele acaba de voltar de lá com registros da catástrofe ambiental gerada pelos incêndios dos últimos meses.
"Estou cheio de revolta. É preciso elevar o tom", declarou através das redes sociais, questionando, entre outros temas, a postura do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de abrir mão dos recursos do Fundo Amazônia. "A intensificação do desmatamento é real, é coisa objetiva feita por satélites. E o cara diz que os dados não são reais, que não precisamos de dinheiro estrangeiro. Desmatamento livre é o que quer", questionou.
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As imagens chocantes feitas pelo fotógrafo sobre os impactos das queimadas e do desmatamento na região Norte do Brasil, em especial a do tamanduá-mirim fugindo do fogo, já cego, na beira da BR que liga Cuiabá-Santarém, viralizaram nos últimos dias nas redes sociais com mensagens de indignação.
A relação do fotógrafo com a maior floresta do mundo é de quatro décadas. Em 2005, um dos quatro livros que fez sobre a Amazônia recebeu o prêmio Jabuti de literatura. Ao todo, Araquém Alcântara já produziu 54 livros, mas o seu tema preferido é a Amazônia, onde afirma estar sua "matriz criativa" e onde passa a maior parte do tempo.
As notícias dando conta das queimadas na região confirmam a avaliação do fotógrafo sobre a degradação da natureza provocada pelo homem. “Nunca foi tão alarmante".
Confira os melhores momentos da entrevista exclusiva concedida por Araquém ao Brasil de Fato:
Brasil de Fato: Quando você foi para a Amazônia pela primeira vez?
Araquém Alcântara: Foi em 1980. De lá para cá, eu publiquei quatro livros, fiz a primeira edição para colecionador da National Geographic, fui o primeiro fotógrafo a documentar todos os parques nacionais da Amazônia. Eu sou uma testemunha ocular da Amazônia.
E qual a sua visão dela hoje?
Vejo como um assunto muito além de qualquer partido, de qualquer ideologia. É um assunto mundial, um assunto global. É uma questão de sobrevivência da humanidade. Então o brasileiro tem que defender a maior floresta da terra.
As queimadas, então, são um problema político?
Não me interessa falar desse ou daquele governo. Entra governo e sai governo e a Amazônia continua sendo dizimada fruto de nossa ganância, do lucro fácil, da falta de patriotismo. Não é questão de um governo. É de todos. Vem desde antes da ditadura. Todos são responsáveis por este estado crítico da Amazônia.
O que você observou de mais impactante agora na Amazônia?
Quando se destrói uma área muito grande, você está acabando com os corredores ecológicos, com a fauna. Alguns bichos como a harpia, o gavião real, o iraçu, a onça pintada, a jaguatirica, os felinos em geral, precisam de áreas muito grandes e então [com o desmatamento que reduz o tamanho da floresta] elas estão condenadas à extinção.
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O que o mais o país perde com a degradação da Amazônia?
O Brasil não conhece os benefícios e as riquezas da Amazônia. Ela sequer foi estudada e a gente já tá extinguindo antes de estudá-la.
As queimadas são um fenômeno atípico da região?
A Amazônia sempre queimou, principalmente nos meses secos de agosto e setembro, só que desta vez ela está queimando muito mais.
E quais são os efeitos disso?
A floresta já entrou em um estado de saturação, de produzir menos chuvas. Isso vai afetar o clima na região Sudeste, vai afetar a agricultura no Centro-Oeste. A gente já devia estar há muito tempo eliminando o desmatamento. E, ao contrário, está aumentando mais. O Estado deveria intervir.
Quais são os seus próximos projetos para este material sobre a Amazônia?
Eu vou fazer um documentário, um livro e uma exposição sobre a Amazônia. Estou completando cinquenta anos de carreira e daqui a um mês vai sair um livro novo, o de número 55, chamado “Brasileiros”, que são retratos de pessoas de várias regiões do Brasil.
Fique com alguns dos registros da maior floresta tropical do mundo produzidos por Araquém Alcântara:
Edição: Rodrigo Chagas