As declarações classificadas como preconceituosas que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) proferiu durante os últimos dias sobre o Nordeste geraram repercussão e declarações entre políticos cearenses.
Em sua conta oficial, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT) disse: “Governar, para mim, é buscar agir sempre com senso de justiça, com muito respeito, e priorizar o que for melhor para a maioria da população. Terminou a eleição, devemos governar para todos, deixando para trás as diferenças. Isso é a essência da democracia. De minha parte, continuarei lutando de forma incessante para o melhor para o meu Estado e para o meu País. Ajudarei sempre que possível, e criticarei e lutarei contra tudo o que considero injusto e que prejudique a população, sobretudo a que mais precisa. O Nordeste está unido e o Brasil precisa se unir, mais do que nunca. Chega de ódio e intolerância! Tenho muito orgulho do meu Ceará, do meu Nordeste e muito amor pelo meu país”.
Já o deputado estadual, José Sarto (PDT), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará publicou em sua rede social: “Sou um brasileiro nascido no Nordeste, no sertão do Ceará, município de Acopiara. Amo essas minhas raízes e ao mesmo tempo sou grato por ter me tornado um cidadão do mundo, pois assim posso olhar com clareza para o nosso povo, me orgulhar de nossa inteligência e bravura e, dessa maneira, ter a consciência de que devo não apenas respeitar nossa terra, mas seguir trabalhando firme por ela, pois merecemos o melhor.”
Para o deputado estadual, Renato Roseno (Psol), “Bolsonoro foi flagrado na intimidade sobre o que pensa do Nordeste. Reproduz o pensamento tosco e preconceituoso da elite brasileira. Não compreende a desigualdade regional e como ela foi gestada. Não tem projeto nacional e, ao contrário, trata com menosprezo a região que concentra o maior contingente pobre do país. Como filho de migrantes nordestinos que ajudaram a criar a riqueza no sudeste, repudio mais um crime de preconceito de Bolsonaro. Pior ainda, é sua decisão de violentar o pacto federativo e a unidade nacional ao boicotar explicitamente um estado - o Maranhão - por perseguição ideológica. Bolsonoro já é uma das mais execráveis figuras da história política brasileira”.
“O atual presidente do Brasil já provou em outras ocasiões que é extremamente despreparado, preconceituoso e machista. Em vez de trabalhar para fomentar a solidariedade e unir nosso povo e os estados brasileiros, ele ofende e desrespeita o nordestino - que tanto suor deu para construir nossa nação. Total repúdio a essa conduta vergonhosa! Tenho muito orgulho da região onde nasci, tenho muito orgulho dos irmãos da Paraíba e um amor imenso pelo meu Ceará”, afirma a deputada federal, Luizianne Lins (PT).
No dia 22 de julho, foi divulgado outro vídeo em que Bolsonaro pergunta ao ministro Tarcísio Freitas: "você tem algum parente pau-de-arara aí?", o ministro responde: "Tenho família no Piauí, Rio Grande do Norte". Diante da resposta do ministro, Bolsonaro emendou; "Com esta cabeça aí, tu não nega não", indo às gargalhadas.
O Nordeste pode ser considerado a maior oposição ao governo de Bolsonaro. Durante a corrida eleitoral de 2018, Jair Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT) disputaram a presidência no segundo turno. O Nordeste representou a maior derrota de Bolsonaro nas eleições. No segundo turno, o candidato a presidente Fernando Haddad (PT) registrou 69,7% (20.289.567) dos votos. Bolsonaro ficou com 30,3% (8.824.421) dos votos válidos.
Além dos números nas urnas, o índice de avaliação do atual governo só tende a piorar. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Ibope em junho deste ano, 47% da população nordestina avalia de forma negativa o governo Bolsonaro e apenas 17% avalia de forma positiva. Para a realização da pesquisa, o Ibope ouviu duas mil pessoas em 126 municípios entre 20 e 26 de junho.
Em resposta ao fato ocorrido, os governadores do Nordeste assinaram uma carta em que repudiam a declaração de Jair Bolsonaro. Confira a carta na integra:
Carta dos Governadores do Nordeste
Nós governadores do Nordeste, em respeito à Constituição e à democracia, sempre buscamos manter produtiva relação institucional com o Governo Federal. Independentemente de normais diferenças políticas, o princípio federativo exige que os governos mantenham diálogo e convergências, a fim de que metas administrativas sejam concretizadas visando sempre melhorar a vida da população.
Recebemos com espanto e profunda indignação a declaração do presidente da República transmitindo orientações de retaliação a governos estaduais, durante encontro com a imprensa internacional. Aguardamos esclarecimentos por parte da presidência da República e reiteramos nossa defesa da Federação e da democracia.
Edição: Monyse Ravena