guerra econômica

Organização de Países Exportadores de Petróleo condena bloqueio contra Venezuela

Entidade reúne responsáveis por metade da produção do recurso e considera que sanções dos EUA afetam economia mundial

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Ministro de Petróleo da Venezuela, Manuel Quevedo presidiu a 176ª sessão da OPEP, em Viena, Áustria
Ministro de Petróleo da Venezuela, Manuel Quevedo presidiu a 176ª sessão da OPEP, em Viena, Áustria - Foto: Divulgação

Chefes de governo dos 14 membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) condenaram as sanções impostas pelos Estados Unidos contra a Venezuela e o Irã. "A Venezuela tem uma posição soberana e independente de rechaço às sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos. Pretenderam nos prejudicar, atuam com uma sanha impressionante para debilitar a [estatal petrolífera venezuelana] PDVSA e a economia Venezuela. Em cada espaço, cada reunião levamos nossa preocupação com o mercado petroleiro, de que ele não pode ser utilizado contra os povos, mas para o desenvolvimento dos povos", afirmou o presidente da OPEP e ministro de Petróleo venezuelano, Manuel Quevedo.

A Organização reúne países responsáveis por quase metade da produção mundial de petróleo e também aglutina os países com maiores reservas mundiais do combustível – Arábia Saudita e Venezuela.

Para o analista Franco Vielma, o bloco reconhece que o bloqueio gera instabilidade para o mercado petroleiro. “Isso é um elemento perturbador. Não só pela perda dos barris venezuelanos, mas também pelo perigo para o mercado internacional, já que o país com as maiores reservas do mundo continua vetado dos mercados indefinidamente. O bloqueio impede que a Venezuela siga desenvolvendo e expandindo sua indústria, em longo prazo, o efeito vai ser de um mundo com menos petróleo e mais demanda. A OPEP reconhece esses fatores e por isso respalda a denúncia venezuelana”, defende.

Há seis meses, o bloco de exportadores acordou diminuir a produção petroleira para poder aumentar seu preço de mercado. O corte é de 1,2 milhão de barris de petróleo por dia, cerca de 1,2% da demanda mundial. A medida, adotada desde 1º de janeiro deste ano valeria até 30 de junho, mas teve seu prazo estendido para março de 2020, durante a 176ª Conferência dos Chefes de Governo da OPEP, realizada nos dias 1 e 2 de junho, em Viena, Áustria.

Neste evento também participaram representantes de outros 10 países aliados da OPEP, incluindo a Rússia e México, que assinaram o acordo.

Para o ministro do Petróleo, a contenção foi efetiva para melhorar os preços do cru e por isso deve ser mantida. “Será um benefício para o produtor, consumidor e para os investidores”, afirmou o ministro venezuelano durante a abertura a conferência ministerial.

O pacto realente foi efetivo. Entre 2018 e 2019, o valor do petróleo subiu cerca de 20% no mercado mundial. De dezembro para cá, o preço do barril de petróleo, na bolsa britânica Brent, passou de US$ 54 (cerca de R$216) para 65,55 dólares (cerca de R$262).

O ponto máximo foi em abril de 2019, quando o barril chegou a custar US$ 70 (R$280), o valor ideal de acordo com as expectativas do governo venezuelano. Segundo o ministro Vielma, esse valor é conveniente para a economia venezuelana porque o país dispõe de um petróleo pesado, com elevado custo de produção, variando entre US$ 20 e 25 por barril (cerca de R$100).

No entanto, o recorte não é para todos. Venezuela, Irã e Líbia estão de fora do contingenciamento, justamente por estarem sob bloqueio dos Estados Unidos ou sofrendo os efeitos de uma guerra imposta pela Casa Branca, como é o caso do povo líbio.

“A Venezuela já deve conter boa parte da sua produção pelo simples fato de não ter a quem vendê-la”, afirma Franco Vielma. Depois de perder o mercado estadunidense, que importava quase metade da produção, a Venezuela aumentou sua relação com o mundo asiático. Em junho, os chineses foram responsáveis por comprar 59% das exportações venezuelanas, seguidos da Índia com 18% e Cingapura, com 10%.

Apesar de diversificar seu mercado, a arrecadação tem diminuído. O petróleo é responsável pelo ingresso de 95% das divisas na Venezuela. Agora, boa parte do combustível é direcionado para China e Rússia, no entanto, as quantias enviadas são pagamentos de dívidas venezuelanas.

“O bloqueio à compra de peças de reposição e outros insumos afetam a indústria venezuelana que é extremamente dependente da estadunidense, principalmente nos processos de refino. Superar essa inércia de demanda implicaria num esforço de substituição da tecnologia, algo muito caro e difícil de aplicar na atual situação da economia nacional”, pontua o analista.

A produção diária venezuelana chegou aos 740 mil barris, cifra quase três vezes inferior ao 1,9 milhão que o país chegou a produzir há dois anos. As sanções e a consequente deterioração da indústria venezuelana fizeram o país cair do terceiro lugar para o décimo em produção de petróleo, no ranking da OPEP.

As cifras são as piores desde a sabotagem petroleira, nos anos de 2002 e 2003, início do governo de Hugo Chávez. Nessa época, o país teve que usar navios petroleiros brasileiros para exportar sua produção, que baixou até 100 mil barris diários.

Recentemente, a própria empresa estadunidense Chevron, que tem campos petrolíferos no território venezuelano, solicitou à administração Trump conter as sanções, porque também estava sendo afetada.


Manuel Quevedo, presidente OPEP: "Estamos criando através do diálogo, uma forma de estabilizar o mercado petroleiro em 2019" (Foto: Divulgação)

Fracking

Enquanto sanciona outras nações para pressionar economicamente os governos em busca de mudanças políticas, os Estados Unidos retomam a dianteira a produção do fóssil a nível mundial através da tecnologia do fracking. De um ano para cá, o país aumentou em 1,3 milhão de barris sua produção diária que chega perto dos 10 milhões de barris.

A técnica usa a força da água para extrair o chamado gás de esquisito. Consiste na injeção de um vapor de água com areia e outros reagentes químicos para fissurar rochas, gerar pressão e, com isso, extrair o gás metano.

A técnica existe desde a década de 1950, mas só agora começou a ser aplicada em modo horizontal nas rochas, o que facilita a extração de hidrocarburantes considerados não convencionais, como o metano. Entre 2014 e 2016, a indústria petrolífera estadunidense conseguiu diminuir em 30% os custos de produção através dessa técnica. Com o domínio do fracking, os Estados Unidos buscam ser autossuficientes energeticamente até 2035.

A vantagem econômica da técnica é porque ela acelera a extração de gases que demorariam anos para naturalmente se depositarem em bolsões de petróleo. No entanto, o fracking é altamente perigoso para a contaminação de lençóis freáticos, seja pelo uso de químicos, seja pela própria emissão do gás metano. Além disso, pesquisadores também alerta para o risco de sismos.

Um estudo de 2012 da Academia de Ciências do Reino Unido (Royal Society) aponta que 5% dos novos campos petrolíferos construídos nos Estados Unidos têm fuga de metano. Também assinala que de 25 a 75% da água utilizada nas perfurações voltam à superfície sem qualquer tipo e tratamento e emitindo toxinas.

Poluição ao meio ambiente, cerco econômico, promoção de conflitos armados, destruição e guerras são algumas das táticas usadas pelos governos dos Estados Unidos para retomar sua posição de potência econômica mundial. No entanto, diferente dos últimos anos, outros países não alinhados com os interesses estadunidenses têm se firmado como potências econômicas e militares a nível mundial e pesado a guerra de força para outro lado.

“O povo venezuelano não quer guerra. Ao contrário, quer trabalho e recuperação econômica. O objetivo imperial está em destruir a economia para depois vir como salvadores, oferecendo ajuda humanitária e se apropriando das riquezas venezuelanas”, finaliza o ministro Quevedo.

Edição: Rodrigo Chagas