Estudo do Manchetômetro – site que monitora o comportamento da mídia convencional brasileira em temas de relevância nacional – mostra, em números, que a maioria dos veículos da imprensa tradicional tem coberto o escândalo da Vaza Jato com viés “neutro” ou favorável ou ao ministro da Justiça Sérgio Moro, acusado de atuar em conluio com procuradores da lava Jato para condenar sem provas o ex-presidente Lula.
Desde que começaram a vir a público as conversas entre Moro e os procuradores, os três principais jornais brasileiros (Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo) publicaram 241 textos sobre o assunto.
Destes, 80 são críticos à conduta de Moro, 76 são críticos ao site The Intercept, que vem divulgando as conversas, e 85 foram considerados “neutros”.
O volume maior de críticas a Moro, no entanto, é puxado pela Folha, que publicou 48 textos nesta linha, contra apenas 17 no Estadão e 15 no Globo. Nestes dois últimos, a balança pende mais para os ataques ao site do jornalista Glen Greenwald: 21 no Estado e 30 no Globo.
A análise também aponta para um crescimento geral dos textos “neutros ou ambivalentes”, segundo o relatório.
“A cobertura de hoje, dia 18 de junho, deu destaque à discussão sobre a importância da Lava Jato e de seus resultados, mas pouco abordou as questões relativas ao comportamento de Moro e dos promotores. A possibilidade de o STF anular decisões da Lava Jato induziu ao aumento da publicação de loas à Operação e à necessidade de manter suas decisões visando o combate a corrupção”, diz o texto.
Jornal Nacional
O Manchetômetro também avalia a cobertura do Jornal Nacional, da TV Globo, que tem feito umas das defesas mais incisivas de Sérgio Moro e seus atos.
“Assim como nos dias anteriores, o telejornal continua dando mais espaço à narrativa que reforça a possibilidade de inautenticidade do material e seu caráter supostamente criminoso do que à crítica às ações relevadas por seu conteúdo”, informa o relatório, referindo-se à edição da noite de segunda-feira (17).
O relatório destaca que, na cobertura do caso, o JN inverteu a estrutura tradicional da narrativa jornalística, que costuma reservar o “outro lado” para a parte acusada. Assim, o tempo maior no telejornal global é para a defesa de Moro, enquanto o “outro lado”, o da crítica a Moro, é representado ou pelos advogados de defesa de Lula ou por políticos do PT.
“Dessa forma, ao não apresentar com o mesmo peso as críticas à conduta dos agentes da Justiça e suas consequências para o Estado democrático, o Jornal Nacional dá preponderância à versão favorável a Moro”, analisa o documento.
Edição: João Paulo Soares