Morreu na quarta-feira (28) o jornalista Hélio Gama, aos 80 anos, um dos nomes mais importantes da história do jornalismo do Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, Hélio Costa Nogueira da Gama Filho trabalhou também em São Paulo nos maiores jornais e revistas do país. Tornou-se um grande formulador de projetos e formador de equipes que contaminava com seu entusiasmo pelos desafios jornalísticos. Há algumas semanas, ele estava internado no hospital Mãe de Deus, na capital gaúcha, onde tratava uma insuficiência pulmonar.
Com seis décadas de profissão, Hélio Gama começou na Zero Hora em 1964, passando mais tarde por Veja – onde integrou a primeira redação – Gazeta Mercantil, O Estado de S. Paulo, Isto É, Gazeta Mercantil Sul e Jornal do Comércio. Foi também secretário de comunicação social no governo Pedro Simon (1987-1990). Dirigiu o jornal Oi e apresentou o programa Democracia na TV Assembleia do RS.
Diário do Sul
Talvez seu projeto mais acalentado, porém, tenha sido o Diário do Sul, bancado pelo grupo Gazeta Mercantil nos anos 1980. Fustigado de diversas maneiras, o matutino fechou suas portas em 1988, justamente quando equilibrava receita e despesa.
Adquirindo serviços das principais agências noticiosas e de grandes veículos internacionais – The New York Times, The Washington Post, Los Angeles Times, Foreign Affairs, Rolling Stone, Le Monde, entre outros – o jornal representou um sopro de cosmopolitismo na ainda provinciana Porto Alegre. Era um modelo de noticiário mais extenso e de matérias mais substanciosas. Apesar da curta existência, marcou época de várias formas, uma delas sendo os cadernos especiais publicados regularmente onde se aprofundava nos mais diferentes temas.
Duas prisões
Na internet, seu filho, o também jornalista Hélio Gama Neto, recordou que “o pai sonha muito, desde pequeno, sempre foi assim”. Mas, reparou: “Ele não sonha sozinho. Em todas as suas corajosas aventuras está acompanhado de uma legião de queridas almas empolgadas e tão generosas quanto ele”.
Antes de seguir carreira nas redações, Helio Gama foi militante estudantil contra a ditadura militar. Helio Gama Neto registrou que, no final dos anos 1960, “depois de ter sido preso duas vezes e estar proibido de trabalhar no Rio Grande do Sul”, o pai “teve de se exilar em São Paulo ao lado da minha mãe, Sílvia Gama, e duas crianças pequenas, minha irmã e eu”.
“O cara que sonhava e ia atrás dos sonhos”
Nas redes sociais, jornalistas e amigos lembraram o criador de jornais e projetos, o otimista, o visionário, o humanista e o grande boa praça Hélio Gama. Algumas frases:
“Os que estivemos juntos naquela magnífica e dolorosa aventura do Diário do Sul, sabemos o que o Hélio sofreu na sua obstinada busca de tirar o jornalismo local da mesmice e do oficialismo. Em sua curta trajetória, o jornal mostrou um caminho, tal como o Hélio pretendia. Ele não conseguiu manter o projeto de seus sonhos, mas semeou nas pessoas pedacinhos daquele sonho que inspiraram uma geração inteira.”
(Rafael Guimaraens)
“Como tantos jornalistas, minha vida profissional e principalmente minha visão sobre a profissão mudou depois que conheci e convivi com o Helio Gama. Como alguém já disse, ele era um cara que sonhava e ia atrás desses sonhos, como se nada fosse impossível. Ele não chefiava equipes, liderava uma turma a quem contaminava com seu ânimo.”
(César Valente)
“Há jornalistas que ultrapassam os limites da reportagem, da escrita, das redações. E meu amigo Helio Gama foi um deles.”
(Antonio Oliveira)
“Era um otimista incorrigível. Internado para uma cirurgia na coluna, estava sob efeito de morfina. A enfermeira perguntou como estava. Respondeu que bem, vendo o mundo bonitinho, redondinho, fofinho... a enfermeira disse que era isso mesmo, que o mundo é assim. 'Ah, mas então estás tomando o mesmo remedinho que eu', disse."
(Carlos Muller)
“Foi o jornalista mais completo que conheci.”
(Higino Barros)
“Perdemos hoje um dos gigantes do jornalismo, Helio Gama Filho. Foi o criador do extraordinário Diário do Sul, diretor da sucursal da Gazeta Mercantil e da IstoÉ no RS.”
(Paulo de Tarso Riccordi)
“O Hélio Gama se foi... Mas deixou bons frutos, história e histórias. Depois de dez anos em Sampa, o portoalegrense aqui já estava afim de voltar para a terrinha. E voltar com minha garota, paulista e diagramadora. Quando surgiu a oportunidade, via Diário do Sul, não pensei duas vezes. Um grande jornal, uma grande equipe, um grande diretor. Obrigado, Helio.”
(José Antonio Silva)
“Tenho algumas histórias com o Helio na Gazeta Mercantil Sul. Uma delas foi uma cobertura do Festival de Cinema de Gramado. Eu tinha um convite que garantia hospedagem e credenciais. Mas não tinha o que fazer. O Helio disse que me garantia espaço no jornal e o pagamento de freelance. A cobertura foi muito boa.”
(Eduardo Guimaraens)
“Tristeza imensa saber que não teremos mais a chance de encontrar esse mestre que tanto me ensinou!”
(Liana Milanez)
“Grandes jornalistas merecem nossa homenagem principalmente porque são fazedores de jornais, o oxigênio das democracias.”
(Celso Schröder)
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Marcelo Ferreira