A contagem dos votos nas eleições gerais da Índia, o maior pleito do mundo, com 900 milhões de eleitores, está sendo realizada nesta quinta-feira (23) e indica a vitória esmagadora do Partido do Povo Indiano (BJP), de direita, legenda do atual primeiro-ministro, Narendra Modi.
A votação aconteceu em sete fases entre 11 de abril e 19 de maio e deve definir os assentos da Lok Sabha, a câmara baixa do parlamento, responsável por escolher o cargo de primeiro-ministro. Para formar maioria, é preciso garantir pelo menos 272 das 545 cadeiras abertas à disputa eleitoral.
Até o fim da tarde na Índia, manhã no Brasil, o BJP sozinho já tinha garantido cerca de 300 cadeiras, muito a mais do que o segundo colocado, o Congresso Nacional Indiano (CNI), que lidera a apuração em 50 assentos. Com a Aliança Democrática Nacional, encabeçada pelo partido de Modi, a vitória já é considerada esmagadora mesmo antes do final da apuração. A Aliança Progressista Unida, oposição liderada pelo CNI, vencia menos de 100 cadeiras.
O resultado parcial indica crescimento tanto do BJP quanto do CNI no parlamento. Em 2014, o partido da situação tinha arrebatado 282 assentos, enquanto a principal legenda de oposição ficou com 44 lugares na Lok Sabha.
Com a confirmação da vitória do BJP, Modi conquistará um segundo mandato de cinco anos como primeiro-ministro do país. Mesmo com o desemprego em alta e a crise no campo, exemplificada no alto índice de suicídio entre agricultores, o premiê sai fortalecido por uma campanha nacionalista hindu pautada no ataque a minorias religiosas, como os muçulmanos, e uma plataforma amparada na defesa da segurança nacional.
Desafios
Uma das maiores preocupações entre eleitores, segundo pesquisas de opinião, o desemprego não foi um dos temas principais tratados pelo BJP durante a campanha. Além de ter mais de 7% da população economicamente ativa desempregada, o subemprego também é um problema grave no país. Centenas de milhares de pessoas estão tecnicamente empregadas, mas em trabalhos sazonais ou muito mal remunerados, mesmo entre jovens com boa escolaridade.
No campo, a Índia enfrenta um grave problema de renda e dívida dos agricultores, além da seca em estados como Maharashtra e Gujarate, onde piorou muito o padrão de vida dos trabalhadores rurais. Uma das expectativas para o novo governo será atenuar a crise agrária e evitar que a imensa comunidade de agricultores do país sofra ainda mais com o empobrecimento.
Outra questão delicada é o aumento da violência e discriminação de casta, com linchamentos, agressões filmadas e divulgadas, estupros e assassinatos de dalits e adivasis, grupos mais marginalizados pelo sistema de castas do país. No último período, o governo demonstrou lentidão na resposta a esse tipo de violência e atacou direitos de tribos sobre territórios florestais que eram garantidos por lei.
A rixa da maioria hindu com as minorias étnicas e religiosas também se intensificou no primeiro governo de Modi, que adotou abertamente a chamada Hindutva, ideologia de direita que busca definir a cultura indiana a partir dos valores hindus, em oposição à visão de laicidade do Estado promovida pelos governos anteriores do CNI.
Alimentando uma imagem de truculência e intolerância, o nacionalismo exacerbado e a política externa agressiva também marcaram o governo no último período. Um atentado terrorista que matou 40 soldados no início do ano se transformou em plataforma de campanha do BJP.
*Com informações de NewsClick, Al Jazeera e Asia Times.
Edição: Aline Scátola