CRISE

Sem emprego e sem esperança

Treze milhões e quatrocentos mil trabalhadores estão sem emprego no Brasil, aponta pesquisa realizada pelo IBGE

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) foram divulgados no dia 30 de abril
Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) foram divulgados no dia 30 de abril - Foto: José Eduardo Bernardes

Há um número ainda mais expressivo: 28,3 milhões. Esse é o número de pessoas desempregadas, somadas aquelas que trabalham menos do que poderiam, que não procuraram emprego, mas estavam desimpedidas para trabalhar. Ou, ainda, que procuraram uma colocação, mas não estavam disponíveis para a vaga. É um quadro que, tudo indica, não mudará tão cedo. “Não há perspectiva de retomada do emprego se o empresariado – que vivia pregando contra o Estado – não assumir o papel do Estado de impulsionar a atividade econômica”, sintetiza o economista Flávio Fligenspan.

“No Brasil, historicamente, o grande incentivador da economia é o Estado”, descreve. E continua: “O setor privado sempre se pôs a reboque. Sempre precisou de um empurrão do Estado para pegar no tranco”, interpreta Fligenspan, professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS. 

“Quem paga o pato é o trabalhador”

Também impressiona, no levantamento do IBGE, a quantidade de desalentados. São 4,8 milhões. Desalentados, segundo a pesquisa, são aqueles brasileiros e brasileiras que simplesmente desistiram de procurar emprego.  

“A crise é dos capitalistas, mas quem paga o pato são os trabalhadores”, pontua a também economista, Lúcia Garcia. Ela vai buscar as raízes do problema em 2008, na quebradeira das financeiras norte-americanas. Uma segunda onda atingiu a Europa em 2011-2012, provocou a queda no preço das chamadas commodities - matérias-primas e produtos agrícolas - e veio bater logo depois nos países emergentes, como o Brasil, grande exportador de minério de ferro e soja. 

“Em 2014, o mercado de trabalho começou a andar de lado”, o país deixou de crescer e a crise econômica virou política”, relata. “Com o golpe contra Dilma, os anos de 2016-2017 registram uma alta no desemprego, mas que se acomoda nesse patamar”, nota.

O PIB é inferior ao de 2014

Mas se a solução não está mais na ação estatal, o que o setor privado está fazendo a respeito? Nada, responde Fligenspan. “Só tem discurso. Primeiro, o discurso de que a reforma trabalhista ia criar empregos e isso não aconteceu. No fundo, era um movimento dos empresários para reduzir os salários. Agora, é o discurso da reforma da Previdência que vai resolver tudo. Não vai.”

Salvo alguma ação mais forte na área de infraestrutura, que sempre gera muitos empregos, Fligenspan não tem grandes expectativas. “O ano já está começando a ficar comprometido. Para avaliar o tamanho da nossa desgraça basta saber que o PIB do Brasil atual está 4,5% abaixo do PIB que tínhamos em 2014”, compara.

“Quem está feliz com a reforma trabalhista?” 

Mudanças trouxeram queda na qualidade dos empregos e dos salários /  Foto:  Nelson Almeida / AFP 

Economista do DIEESE, instituição responsável por pesquisas de emprego e desemprego no Estado, Lucia tem uma boa e uma má notícia. A boa é que o desemprego não vai piorar. “Está ruim e vai continuar assim”, entende. A má é que o mercado de trabalho está se degradando velozmente. Não só existe menos oportunidades como a qualidade dos empregos piorou e a dos salários também. “Aumentou a jornada de trabalho, ficou mais extensa e mais intensa, com os trabalhadores submetidos à superposição de funções”, acentua.

A exemplo do Fligenspan, ela acha que a reforma trabalhista não é solução. Serviu somente para rebaixar o custo do trabalho. Lucia pergunta: “Quem está feliz com a reforma trabalhista?” E ela mesma responde: os capitalistas vinculados às grandes mineradoras, ao agronegócio exportador e aos bancos estão felizes. Mas e os donos de capital que dependem do mercado interno? Justamente um mercado que precisa de empregos, salários e consumidores? Bem, estes não estão tão felizes. “Eles estão sentindo os reflexos na paralisação dos seus negócios...”


Este conteúdo foi originalmente publicado na versão impressa (Edição 14) do Brasil de Fato RS. Confira a edição completa.  

Edição: Marcelo Ferreira