Com o avanço da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, movimentos sindicais e populares estão diversificando as modalidades de mobilização contra a proposta. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) lançou, na quarta-feira (1º), um portal com informações sobre o posicionamento de cada deputado federal e senador em relação à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 6/2019 – nome sob o qual tramita atualmente a matéria.
Batizada de “Na pressão”, a plataforma divide os parlamentares em três grupos, o dos favoráveis à PEC, o dos indecisos e o dos contrários à proposta.
O portal identifica atualmente 363 deputados favoráveis à reforma da Previdência, 19 indecisos e 139 opositores. Para aprovar a proposta, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) precisa do voto de pelo menos 308 deputados.
A listagem do site também identifica o partido e o estado a que pertencem os parlamentares, além dos canais de contato com cada um deles.
O secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, explica que a ideia dos dados é incentivar a população a exercer pressão sobre os parlamentares para tentar convencê-los a votar contra a PEC.
“É uma plataforma que está à disposição da população brasileira, pra que o parlamentar sinta que a reforma não é bem-vinda, que vai contemplar apenas banqueiros e altos investidores e não tem nada a ver com a população. Esperamos que ela sirva pra isso e pra potencializar também a greve geral do dia 14 de junho, que está anunciada pelas centrais e pelos movimentos sociais brasileiros”, afirma Barbosa.
A ferramenta faz parte da campanha “Querem roubar sua aposentadoria”, promovida pela CUT e também lançada no Dia do Trabalhador. As duas iniciativas se conectam ainda com outras ações que vêm sendo promovidas pelo campo popular nas bases estaduais para tentar frear a PEC.
No Distrito Federal (DF), por exemplo, a Frente Povo sem Medo (FPSM) investe atualmente em um trabalho de conscientização social por meio de oficinas, palestras e panfletagens em diferentes cidades, especialmente junto a comunidades periféricas, onde o acesso à informação de qualidade costuma ser mais precário.
“A gente trabalha diretamente dentro das comunidades, onde você encontra o grosso do trabalhador em determinados horários com mais tempo e cabeça pra dialogar e entender. A questão é que ela [a PEC] é muito mal explicada, tanto por parte do governo quanto pela grande mídia. As pessoas, quando sabem melhor o que está colocado com a reforma, ficam extremamente revoltadas”, conta o dirigente do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) Eduardo Borges, integrante da coordenação distrital da Frente.
De acordo com o militante, no próximo final de semana, por exemplo, a FPSM espera um público de cerca de 500 pessoas em Samambaia (DF) e outro de mil pessoas na Ceilândia (DF), onde serão realizadas oficinas para tirar dúvidas da população.
Iniciativas semelhantes se repetem em outros estados, como é o caso do Paraná, onde a direção local da Frente Brasil Popular (FBP) criou, desde o início do ano, um comitê unitário para aglutinar forças de esquerda, incluindo os movimentos populares e partidos políticos, e todas as centrais sindicais em torno da luta contra a reforma.
Em um primeiro momento, a preocupação se deu mais no sentido de reunir os diferentes atores e formular estratégias de combate à PEC. A pressão sobre os parlamentares dos estados também já estava no escopo de atuação dos movimentos. Agora, com o avanço da reforma na Câmara, a Frente começa a partir para outras atividades. É o que afirma Roberto Baggio, membro da coordenação estadual da FBP e integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
“A ideia agora é estimular um processo de debate, de reuniões, de discussões nas fábricas, nas escolas, nas comunidades, nas igrejas, junto com os estudantes, enfim, tomar iniciativas pra atingir os milhões de paranaenses pra fazer com que a informação chegue e eles tenham noção do que está por acontecer”, explica.
Expectativa
Para o secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, apesar de o governo ter o apoio ideológico de uma maioria no Congresso Nacional, os indicativos de rejeição popular à reforma ajudam a oxigenar e fortalecer a luta nas ruas junto às bases.
Ele cita como referência a pesquisa de opinião Vox Populi/CUT a respeito da PEC publicada em abril deste ano. Segundo o instituto, 65% da população desaprovam a proposta, enquanto 26% seriam a favor. Outros 9% não souberam ou não quiseram opinar. O levantamento foi feito em 1.985 municípios do país.
Diante dos números, Barbosa acredita que há espaço para o crescimento da luta popular contra a PEC 6 nos estados e para o convencimento dos deputados.
“Este momento que estamos vivendo no Brasil é o de organizar essas mobilizações. Nós precisamos mostrar que o povo não está contente com isso, que quer uma mudança, e os parlamentares fazem parte disso”, finaliza.
Edição: Rodrigo Chagas