O lucro líquido dos bancos brasileiros no ano passado cresceu 17,4% em relação a 2017 e chegou a R$98,5 bilhões. Segundo o Banco Central (BC), é o maior valor desde 1994, quando teve início o Plano Real. O alto crescimento dos bancos contrasta com a lenta recuperação da economia.
Segundo o BC, a rentabilidade dos bancos foi puxada pela redução de despesas administrativas e de recursos reservados para cobrir calotes de clientes. Paulo Sérgio de Souza, diretor de fiscalização do BC, afirmou que houve redução de inadimplência e de provisão de perdas. Em 2017, havia R$ 90 bilhões para para cobrir calotes e, em 2018, o valor caiu para R$ 70 bilhões. Houve, portanto, uma redução de R$ 20 bilhões nas despesas para esse fim, o que teria aumentado o lucro dos bancos.
A PEC da Previdência, proposta pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), é apontada como uma das políticas que deve aumentar ainda mais o lucro das instituições financeiras.
A coordenadora de pesquisas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Patrícia Pelatieri, explica que o projeto é, na verdade, uma reforma estrutural que agrada fortemente o mercado financeiro, porque introduz a possibilidade de criação de um sistema de capitalização individual.
"Isso é bastante grave, uma vez que a Constituição de 1988 tem um capítulo inteiro, que é o capítulo terceiro, que trata da construção da política de proteção social. Ou seja, é o capítulo da Seguridade Social: um tripé com Previdência, Saúde e Assistência Social", ressalta Pelatieri. E completa, "Ele trata a maior política de proteção social como um problema fiscal, como um problema de despesa -- porque é disso que se trata a proposta de reforma".
Ela também explica por que os bancos lucram caso a reforma seja aprovada.
"Os grandes favorecidos são os bancos, que vão colocar a mão por décadas nesse fundo bilionário. No Chile, as seis instituições que fizeram o modelo de capitalização lucraram bilhões, enquanto a aposentadoria dos trabalhadores ficou muito abaixo do esperado".
:: Veja a entrevista completa com Patrícia Pelatieri, do Dieese, sobre a PEC da Previdência ::
Edição: Aline Carrijo