Em audiência pública convocada por três comissões da Câmara dos Deputados, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, apresentou a parlamentares dados sobre os primeiros cem dias da gestão da pasta. Um dos temas de debate foi a questão dos agrotóxicos.
Até o momento, sob o governo Bolsonaro, foram liberados 121 novas substâncias ou métodos de aplicação. Entre os agrotóxicos que agora podem ser utilizados, 40% são classificados como extremamente ou altamente perigosos para a saúde humana. Em relação ao meio-ambiente, 56% são muito perigosos.
Uma das novas substâncias é o sulfoxaflor, proibido nos EUA por causar a morte de insetos, em especial das abelhas. Deputados presentes questionaram a ministra à respeito do glifosato, substância que levou a Bayer-Monsanto a uma condenação na Califórnia (EUA) por sua relação com a ocorrência de câncer em um jardineiro.
“Não existe ainda outro produto que substitua o glifosato. Por que tem essa polêmica toda? O glifosato, para ser banido, precisa ser substituído. Se for usado de maneira correta, com equipamento, diminui muito o risco”, afirmou.
Alan Tygel, integrante da coordenação a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, explica que a fala de Tereza Cristina é parcialmente verdadeira, mas deve ser contextualizada.
“A questão central é que o modelo de agricultura do agronegócio, não só no Brasil, foi estruturado em cima desse pacote. Chega a ser uma tautologia dizer que o modelo não funciona sem glifosato. O modelo foi feito para só funcionar com glifosato, principalmente por conta das sementes transgênicas”, defende.
Em relação aos equipamentos de proteção, afirma que não há garantia absoluta de segurança e, ainda que houvesse, ela só abarcaria o aplicador do produto, não pessoas ao redor, o ambiente e o próprio vegetal que servirá de alimento à população.
“O uso seguro de agrotóxicos é um mito. As nossas condições climáticas são totalmente inadequadas para o uso desse tipo de equipamento. Existem uma série de situações nas quais é impossível imaginar que todas pessoas que podem ser afetadas pelo veneno estejam com todo o aparato de proteção”, aponta.
Deputados apresentaram estudos universitários que encontraram, em locais de alta aplicação de venenos, traços de substâncias presentes em agrotóxicos em águas de rios e até mesmo no leite materno. Tereza Cristina afirmou que o Ministério da Agricultura rejeita a validade dos estudos, pois as substâncias poderiam ser oriundas de outros produtos que não os agrotóxicos.
“Uma declaração como essa reflete muito bem o espírito do governo Bolsonaro. Quando é confrontado com fatos que mostram claramente algum tipo de argumento cientificamente embasado, você simplesmente nega eles”, critica Tygel.
Instituições de pesquisas reconhecidas como FioCruz, Abrasco e Inca já apontaram a correlação entre agrotóxicos e doenças como câncer, depressão, suicídio, má formação de fetos e mal de parkinson.
Edição: Aline Carrijo